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Não sei o verdadeiro motivo para a tua aflição. Mas sei que a vida não é fácil,
não tão simples como se costuma pensar. Dividimos tudo entre bem e mal, pecado
e virtude, certo e errado. Mas é tudo uma questão de perspectiva. O que é bom
para mim, não quer dizer que o seja para outro; o que me dá prazer, pode ser um
sacrifício para outro.
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Achais mesmo que a fronteira entre pecado e virtude é tão ténue?
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Muita gente é apontada como virtuosa, por passar a vida na igreja. E, no
entanto, revela-se violenta, invejosa, ou tirana, dentro de sua casa. As suas
horas passadas a rezar e a fazer penitências, vistas como sacrifício, ou como
uma grande devoção, muitas vezes, não passam de uma fuga à vida que não lhe
agrada. Não é a sua proximidade com Deus que a leva a isso, pois não aplica os
ensinamentos de Cristo no seu dia-a-dia. Trata-se mais de uma maneira de se
afirmar, de se sentir livre para decidir, mesmo que isso implique supliciar-se.
Pode-se dizer que uma pessoa dessas merece o céu?
Eu ousaria até dizer que, para muita gente, a religião é um mero ato social, desprovido de qualquer sentido de coerência pessoal e sem a menor transcendência.
ResponderEliminarÉ bem verdade, Exilado.
ResponderEliminarBem, resta lembrar que este extracto de diálogo acontece entre personagens situadas no século XII, em que se dava ainda mais importância a certas atitudes e demonstrações "religiosas".
Boa pergunta...
ResponderEliminarRetornando ao narrado um pouco acima, à divisão da realidade entre o bem e o mal, posição maniqueísta, diria que há uma zona cinzenta na alma humana, não despicienda, zona essa que nos permite ter dúvidas e questionar. Aliás, o texto não deixa passar isso em branco.
Bjo
Olinda