Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
25 de setembro de 2012
O Sentido do Fim
E se, por um acaso, entrássemos em contacto com o nosso passado para descobrirmos que julgáramos mal certas pessoas e certos acontecimentos? Talvez sentíssemos remorsos. Por outro lado, é legítimo que nos culpemos por algo que não causámos?
Um imprevisto põe o reformado Tony Webster em contacto com uma namorada dos seus tempos de liceu, uma moça por quem ganhara rancor, pois achava-a egoista, detestava a família dela e nunca lhe perdoou ela ter começado a namorar com um dos seus melhores amigos, depois de o deixar. Para cúmulo, o amigo suicidou-se alguns meses depois de iniciar o namoro. Tony Webster, que se havia afastado dos dois e nunca chegou a saber a razão para tal, viveu convencido de que a moça seria a culpada de todas estas desgraças.
Aos poucos, vai descobrindo a verdade sobre ela, a sua família e o amigo que se suicidou. Não é fácil, porque a ex-namorada, quarenta anos mais tarde, continua evasiva, não lhe revelando a verdade, mas mantendo-se ressabiada por ele não entender o drama da sua vida. Confesso que me irritou a sua insistência na pergunta: "Não percebes nada, pois não? Nunca percebeste".
Somos obrigados a adivinhar as mágoas e os problemas dos outros? É certo que Tony Webster constata que os julgara mal. A opinião que formara sobre todas aquelas pessoas era errada. E fica cheio de remorsos. Mas o seu único "pecado" foi o juízo errado, ele próprio em nada contribuiu para a tragédia. E eu não acho que seja uma boa estratégia de vida sentirmo-nos culpados por algo que não fizemos.
Não obstante, este foi o livro que mais gostei de ler nos últimos tempos. Julian Barnes conseguiu "agarrar-me", manter-me suspensa, sentindo aquela satisfação ansiosa sempre que, finalmente, tornava a pegar no romance. Que mais se pode exigir a um autor?
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Nada mais quando nos dá "o sentido do fim".
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ResponderEliminarTem razão, Cristina, há autores que têm o condão de nos prender desde o primeiro minuto. E depois acontece esta coisa gostosa, a de não conseguirmos largar o livro. Já me tem acontecido e de que maneira...
Pelo que nos conta deste romance, acho que há frustrações em ambas as partes, ele porque fez maus juízos dela sem razão, ela porque acha que ele devia compreender o seu drama. Se não chegarem à fala, penso que será uma coisa sem solução.
Bj
Olinda
Dos livros que li nos últimos tempos, dos novos valores da literatura portuguesa, todos muito bem escritos (sem dúvida), senti a falta desta arte de nos prender...
ResponderEliminarQuanto às personagens: um problema de falta de comunicação, sim. Note-se que ele fez maus juízos, porque, por um lado, era imaturo, por outro, por as pessoas não se abrirem com ele. Talvez o autor nos queira chamar a atenção precisamente para isso: como se podem gerar complexos de culpa apenas por falta de comunicação.