Descobri
este livro em casa dos meus pais, em Junho passado. De resto, só é adquirível em
antiquários ou nalgum leilão online. Foi
escrito logo a seguir à revolução. A 1ª edição data de 5 de Maio de 1974. A 2ª
edição, revista e aumentada (a que li), de 16 de Maio, saiu depois de ter sido
anunciada a constituição do I Governo Provisório. Foi coordenado pelos
jornalistas Afonso Praça, Albertino Antunes, António Amorim, Cesário Borga e
Fernando Cascais.
Apesar
de, à altura da revolução, eu ainda não ter completado os 9 anos, é incrível
como este documento me avivou a memória. Lembro-me de muito mais do que
imaginava e foi muito interessante, às vezes, até emocionante, ver, de repente,
imagens a passarem-me diante dos olhos, vivências a tornarem-se atuais, como se
não existissem quase quatro décadas a separá-las de mim.
Sensibilizou-me
alguma ingenuidade. Tendemos a limitar o júbilo da revolução à liberdade adquirida, mas havia,
igualmente, uma crença muito grande num país melhor, mais justo, em que ninguém
passasse necessidades, nem fosse obrigado a emigrar, um aspeto que, atualmente, se torna muito significativo.
Há
passagens que são verdadeiras pérolas. Transcrevo duas (para não me alongar):
«[Mário
Soares] afirmou que, no esquema do socialismo democrático, ninguém se poderia
considerar mais à esquerda do que o Partido Socialista, pelo que a chamada
Esquerda Socialista também teria nele o seu lugar, de modo a fazer dele um
partido forte, capaz de equilibrar forças com o Partido Comunista (…) Em
resumo, considerou que existem três grandes forças com expressão política – os
centristas, os socialistas e os comunistas».
Nota:
centrista era, por exemplo, o PPD. Naquela altura, ainda não se falava em
partidos de direita, conotada com o fascismo.
«O
grupo constituído, entre outros, por Diogo Freitas do Amaral e Alberto Xavier,
de que falámos no número anterior, continua em intensa actividade, de colaboração
com Veiga Simão. Parece terem preparado em conjunto um “Programa de Governo” de
15 extensas páginas. Se é embrião de partido ou não, continua sem se saber, até
porque eles preferem manter-nos confusos».
Ou seja, o nascimento do CDS ao vivo.
Ou seja, o nascimento do CDS ao vivo.
Uma
autêntica viagem no tempo...
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