Foi detido
o autor do vídeo considerado ofensivo pelos seguidores do Islão, não pelo
conteúdo do filme, mas pelo facto de o indivíduo ter violado a sua liberdade condicional,
pois estava impedido de aceder à internet.
Mais
uma vez, caiu o Carmo e a Trindade, perante a sensibilidade excessiva dos
muçulmanos, uns fanáticos, que não entendem sequer a liberdade de expressão.
Ora, é muito difícil entender aquilo que não se conhece. Parecemos esquecer que
a maior parte dos países islâmicos vive sob ditaduras brutais, onde, por um
lado, impera a censura e, por outro, tudo o que seja manifestação contra o
ocidente e os EUA é empolado. E é aqui que corremos o risco de tomar o todo
pela parte. Todos sabemos o que aconteceu quando os jovens iranianos quiseram
fazer uma revolução (ou a nossa memória é assim tão curta)? É claro que os
muçulmanos que são a favor da liberdade de expressão, que, quiçá, até aceitem
este tipo de humor e que condenam as atitudes dos extremistas, se calam muito
bem caladinhos. Senão levam balázio (no mínimo). Os extremistas, que assaltam
embaixadas, matam pessoas, queimam bandeiras e se manifestam histéricos são
apoiados pelos ditadores e muitos dos seus líderes religiosos, pois dá-lhes um
jeitão para a sua política de intimidação dos EUA e do ocidente em geral.
Não
nos façamos de anjinhos! Todos nós sabemos que há casos em que se justificará
limitar a liberdade de expressão. Muitos de nós são contra a publicação de, por
exemplo, vídeos a exultar o nazismo, não hesitando em dizer que qualquer elogio
ao regime hitleriano deve ser proibido. Pode falar-se de censura, em casos
destes? E como reagiriam muitos de nós se, a partir do Irão,
fosse publicado um filme, exibindo cenas pornográficas entre Cristo e Maria
Madalena? Ou, até, cenas homossexuais entre Cristo e os Apóstolos? Não
corríamos o risco de sermos “sensíveis demais”? Pondo a hipótese de que os
europeus, embora indignados, reagissem cheios de civismo, não haveria protestos
mais ou menos violentos em certos países, onde o Catolicismo é mais exacerbado
(como na América do Sul, ou nos próprios EUA)?
E
sejamos coerentes! Se eu estou na posse de material que sei, de antemão, que
pode ser extremamente ofensivo para certas pessoas, que pode causar tumultos,
dos quais resultarão mortos e feridos, só o publico se não tiver consciência
nenhuma! É preciso saber medir o grau de provocação e esse senhor, aliás,
natural do Egito, mas a residir nos EUA, sabia perfeitamente que tinha uma “bomba”
entre mãos. Censuramos a violência dos muçulmanos que se revoltaram (e com
razão), mas ninguém se lembrou de censurar o ato de um louco. Esse não,
coitadinho, só fez uso da sua liberdade de expressão! E vem-se a saber que já
teve, várias vezes, problemas com a Justiça!
Nota: será difícil, senão mesmo impossível, algures, no mundo islâmico, ser
produzido um filme ofensivo em relação a Cristo. Jesus Cristo figura, no
Alcorão, entre os (salvo erro) vinte e cinco profetas reconhecidos pelo Islão.
Não li o Alcorão completo, apenas partes, e posso afirmar que Jesus Cristo é
referido com grande respeito e admiração, embora se rejeite a ideia de que Ele
seja filho de Deus. Mas é, sem dúvida, para os muçulmanos, um profeta, pois
esteve em contacto direto com Deus.
Também aqui
Excelente post, com muita lucidez e objectividade. Não sou a favor da atitude demasiado permissiva, quase receosa, que se tem tomado em alguns países europeus relativamente à população islâmica, mas por outro lado detesto que façam deles o bombo da festa. "Ai, as mulheres muçulmanas que são umas desgraçadinhas porque usam véu"(ignorando e recusando ouvir que muitas o usam de livre vontade)e "vamos lá gozar com o Profeta). É vontade de criar confusão, e desrespeito pela fé alheia. Enfim.
ResponderEliminarObrigada, Sissi.
ResponderEliminarNão há dúvida de que a situação da mulher nas sociedades islâmicas é inaceitável (embora algumas a aceitem por convicção) e eu, quando tento compreender os muçulmanos, não quer dizer que pactue com tal. E, sim, eles quase nos "obrigam" a um cuidado especial. Mas acho que também não ganhamos nada em provocá-los.
Bem, note-se que o "provocador", neste caso, até é originário de um país de maioria islâmica...
Há actos que são demasiado gratuitos e imbecis. Actos que põem em causa o próprio princípio que os autoriza. Não acredito em nenhum deus mas “Acredito nos homens que acreditam em Deus”.
ResponderEliminarNão é a liberdade que é excessiva. Excessivos são os abusos gratuitos, desnecessários que se cometem com a desculpa da liberdade de expressão. Nunca a liberdade é ofensiva. Todo o acto livre é uma escolha e toda a escolha representa um compromisso. São os humanos que são ofensivos, não a liberdade.
Há ainda todas as encenações que se fazem em torno deste e de outros casos, culpando a liberdade para que os governos se sintam com legitimidade para perseguir quem usa a liberdade. E aí, temos as acções mais ou menos obscuras, os interesses ocultos, a vontade de poder, etc.
Este artigo (a propósito de um outro assunto) http://www.publico.pt/ProjectSyndicate/Naomi%20Wolf/os-outros-suspeitos-de-violacao-da-suecia-1561653 pode ser ilustrativo de como os governos se comportam conforme o que lhes interessa.
Incrível, esse artigo, eu tinha uma imagem bem diferente da Suécia, em assuntos desse tipo!
ResponderEliminarE, sim, tem razão, não é a liberdade que é ofensiva, mas os usos (abusos) que se fazem dela.