Graças
à internet, consegui ver o programa Linha
da Frente, sobre cães perigosos, que a RTP transmitiu a 4 de Outubro.
Duas
meninas, salvo erro, de sete e oito anos, foram mordidas. Uma ficou sem grande
parte da orelha, à outra, tiveram de coser a cabeça quase toda. As duas
crianças, profundamente traumatizadas, não recebem qualquer tipo de apoio
psicológico.
Uma outra
família encontra-se completamente transtornada pela morte de uma bebé de vinte
meses. Não passam de farrapos humanos. A irmã, de oito anos, assistiu ao
massacre. Também estas pessoas não recebem qualquer tipo de apoio psicológico.
O
carteiro, que foi atacado por três cães boxer,
teve mais sorte. Ainda jovem e bem constituído, apesar do terror que o atingiu
(tão bem confessado por ele), livrou-se dos cães, ao conseguir, com a força do
desespero, afastar-se da casa que os animais guardavam.
Excetuando
a bebé de vinte meses, as outras vítimas foram atacadas na rua. E, agora,
deixem que vos diga que uma das coisas que mais me incomoda, quando estou em
Portugal, é passar numa zona de vivendas, onde o risco de sair um cão furioso,
de um portão entreaberto, é enorme. Não
há ninguém que obrigue os donos/habitantes dessas casas a responsabilizarem-se
pelos seus animais?! Usam os cães como armas ou objetos, para lhes
guardarem as casas, e, como não têm paciência nem pachorra para tratar deles
convenientemente (dar o passeio e integrá-los na família, por exemplo),
abrem-lhes o portão para eles darem as suas voltas. Na minha opinião, é de uma
arrogância incrível! Mostra a sua pobreza de espírito!
O
programa da RTP, da responsabilidade da jornalista Patrícia Lucas, pecou por não
mostrar lares, onde os cães estão integrados na família, sendo uma companhia insubstituível
para as crianças. O que, como todos sabemos, representa a esmagadora maioria
dos casos. Conheço inúmeras famílias que assim vivem, com os cães perfeitamente
integrados, cuja única ambição é servir os seus e receber mimos. É claro que os
humanos têm de fazer a sua parte. Melhor do que ninguém, os animais mostram-nos
que só recebe quem dá, ensinam-nos que o intercâmbio é o único garante para uma
relação saudável. O programa da RTP mostrou donos e um criador de cães rottweiler conscienciosos, assim como
treinadores da GNR, que têm os seus animais sob controlo. Mas foi pouco. Foi
muito pouco. Principalmente, no Dia do
Animal, que devia ser aproveitado para melhorar o entendimento entre humanos e
caninos e, não, para aumentar preconceitos, que podem levar a novos abandonos e
tragédias.
Um cão é um ser vivo com cérebro e vontade próprios
e, se ninguém o socializar, pode atacar de forma imprevisível (ou não tão
imprevisível como isso, pois a maior parte deles defende o seu território, o que
entendem como sua obrigação). Porque é
que isto não entra na cabeça desses mentecaptos que os adquirem apenas para os
ter presos a uma corrente e os soltarem sem vigilância? Apenas para intimidarem os outros, numa tentativa
de colmatarem carências próprias? Para que é que o proprietário de uma vivenda
quer três boxer, se os deixa vegetar
no jardim? Para que ataquem crianças a caminho da escola? Ou carteiros, ou
qualquer outra pessoa, que tenha o azar de passar por lá, quando os cães andam
soltos, cães que não aprenderam a distinguir o que é perigo do que não é?
Dói
pensar nessas famílias e, principalmente, nas crianças, a quem ninguém lhes
mostra como minorar os efeitos de tais traumas. Não há maneira, através dos
seus médicos de família, de as encaminhar para profissionais competentes?
Mas não
dói menos pensar nos animais que, no fundo, mais não são do que instrumentos
nas mãos de irresponsáveis. Animais frustrados e/ou traumatizados, que acabam
nos corredores da morte dos canis.
A ignorância é muito triste. E perigosa!
Não podia concordar mais. Modismos, ignorância, irresponsabilidade, ignorância, egoísmo...os animais são vítimas disto tudo. Infelizmente só se repara tarde demais, quando por sua vez, fazem vítimas entre os humanos. Enfim.
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