Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

9 de outubro de 2012

Cães perigosos



Graças à internet, consegui ver o programa Linha da Frente, sobre cães perigosos, que a RTP transmitiu a 4 de Outubro.

Duas meninas, salvo erro, de sete e oito anos, foram mordidas. Uma ficou sem grande parte da orelha, à outra, tiveram de coser a cabeça quase toda. As duas crianças, profundamente traumatizadas, não recebem qualquer tipo de apoio psicológico.

Uma outra família encontra-se completamente transtornada pela morte de uma bebé de vinte meses. Não passam de farrapos humanos. A irmã, de oito anos, assistiu ao massacre. Também estas pessoas não recebem qualquer tipo de apoio psicológico.

O carteiro, que foi atacado por três cães boxer, teve mais sorte. Ainda jovem e bem constituído, apesar do terror que o atingiu (tão bem confessado por ele), livrou-se dos cães, ao conseguir, com a força do desespero, afastar-se da casa que os animais guardavam.

Excetuando a bebé de vinte meses, as outras vítimas foram atacadas na rua. E, agora, deixem que vos diga que uma das coisas que mais me incomoda, quando estou em Portugal, é passar numa zona de vivendas, onde o risco de sair um cão furioso, de um portão entreaberto, é enorme. Não há ninguém que obrigue os donos/habitantes dessas casas a responsabilizarem-se pelos seus animais?! Usam os cães como armas ou objetos, para lhes guardarem as casas, e, como não têm paciência nem pachorra para tratar deles convenientemente (dar o passeio e integrá-los na família, por exemplo), abrem-lhes o portão para eles darem as suas voltas. Na minha opinião, é de uma arrogância incrível! Mostra a sua pobreza de espírito!

O programa da RTP, da responsabilidade da jornalista Patrícia Lucas, pecou por não mostrar lares, onde os cães estão integrados na família, sendo uma companhia insubstituível para as crianças. O que, como todos sabemos, representa a esmagadora maioria dos casos. Conheço inúmeras famílias que assim vivem, com os cães perfeitamente integrados, cuja única ambição é servir os seus e receber mimos. É claro que os humanos têm de fazer a sua parte. Melhor do que ninguém, os animais mostram-nos que só recebe quem dá, ensinam-nos que o intercâmbio é o único garante para uma relação saudável. O programa da RTP mostrou donos e um criador de cães rottweiler conscienciosos, assim como treinadores da GNR, que têm os seus animais sob controlo. Mas foi pouco. Foi muito pouco. Principalmente, no Dia do Animal, que devia ser aproveitado para melhorar o entendimento entre humanos e caninos e, não, para aumentar preconceitos, que podem levar a novos abandonos e tragédias.


Um cão é um ser vivo com cérebro e vontade próprios e, se ninguém o socializar, pode atacar de forma imprevisível (ou não tão imprevisível como isso, pois a maior parte deles defende o seu território, o que entendem como sua obrigação). Porque é que isto não entra na cabeça desses mentecaptos que os adquirem apenas para os ter presos a uma corrente e os soltarem sem vigilância? Apenas para intimidarem os outros, numa tentativa de colmatarem carências próprias? Para que é que o proprietário de uma vivenda quer três boxer, se os deixa vegetar no jardim? Para que ataquem crianças a caminho da escola? Ou carteiros, ou qualquer outra pessoa, que tenha o azar de passar por lá, quando os cães andam soltos, cães que não aprenderam a distinguir o que é perigo do que não é?

Dói pensar nessas famílias e, principalmente, nas crianças, a quem ninguém lhes mostra como minorar os efeitos de tais traumas. Não há maneira, através dos seus médicos de família, de as encaminhar para profissionais competentes?

Mas não dói menos pensar nos animais que, no fundo, mais não são do que instrumentos nas mãos de irresponsáveis. Animais frustrados e/ou traumatizados, que acabam nos corredores da morte dos canis.


A ignorância é muito triste. E perigosa!


1 comentário:

  1. Não podia concordar mais. Modismos, ignorância, irresponsabilidade, ignorância, egoísmo...os animais são vítimas disto tudo. Infelizmente só se repara tarde demais, quando por sua vez, fazem vítimas entre os humanos. Enfim.

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