Assinatura do Tratado de Zamora |
Costuma assinalar-se a data de 5 de Outubro de 1143 como o da independência de Portugal, inclusive, nos livros escolares. É um facto que, no Tratado de Zamora, Afonso VII, o imperador da Hispânia, reconheceu o título de rei a seu primo e Portugal como reino (esta é de facto a data em que deixa de existir o Condado Portucalense). Contudo, Afonso VII não prescindiu da vassalagem de Afonso Henriques. É verdade que entre o nosso primeiro rei e o imperador da Hispânia nunca houve uma cerimónia de vassalagem, ou seja, Afonso Henriques nunca lha prestou oficialmente. Mas assinou dois tratados (Tui e Zamora), onde estava escrito que ele lhe devia vassalagem
Repare-se: isto nunca impediu Afonso Henriques de se considerar um rei independente. Agiu como tal desde a Batalha de Ourique, em 1139, onde foi aclamado rei pelos seus guerreiros. Mas o verdadeiro reconhecimento do seu título real só ficou estabelecido na Bula Manifestis Probatum, de 23 de Maio de 1179, assinada pelo papa Alexandre III.
José Filipe Photo |
Este ato, no entanto, não ficou registado por escrito. Seguindo as instruções do cardeal Guido de Vico, Afonso Henriques enviou a Roma a carta claves regni, mas, na sua resposta, em 1144, o papa Lúcio II não foi conclusivo, intitulando o nosso primeiro rei de dux (duque) em vez de rex (rei).
Mas, enfim: Portugal pode ser considerado um reino independente desde 1143, já que o cardeal Guido de Vico aceitou a homenagem de Afonso Henriques, libertando-o do jugo de Afonso VII. Não será é muito correto apontar o Tratado de Zamora como prova documental deste facto, já que, nesse documento, tanto Afonso Henriques, como o cardeal (!) dão o dito por não dito. E isto, nas costas do imperador!
Resumindo:
25 de Julho de 1139, Batalha de Ourique - Afonso Henriques é aclamado rei de Portugal pelas suas tropas e não mais deixa de utilizar este título;
5 de Outubro de 1143, Tratado de Zamora - O imperador Afonso VII reconhece oficialmente o título real a Afonso Henriques, não prescindindo, porém, da sua vassalagem. Por outro lado, antes da assinatura do Tratado, numa cerimónia discreta (poder-se-á dizer "secreta"; de qualquer maneira, às escondidas do imperador), o cardeal Guido de Vico aceitara a homenagem de Afonso Henriques, libertando-o do jugo de Afonso VII.
1 de Maio de 1144, Bula Devotionem tuam de Lúcio II - O Papa aceita a vassalagem de Afonso Henriques (o que o liberta da suserania do imperador hispânico), mas intitula-o dux portucalensis;
23 de Maio de 1179, Bula Manifestis Probatum de Alexandre III - Afonso Henriques é reconhecido como rei e Portugal como reino independente.
Zamora, nas margens do rio Douro (Duero) |
ResponderEliminarLi, com bastante interesse, as suas avisadas considerações sobre o Tratado de Zamora na passagem do seu 869º aniversário.
Resulta deste assunto que o que se discute é a diferença entre as situações de facto e de jure.
Sem pretender problematizar,tampouco polemizar, verifico que,recuando no tempo,historiadores e estudiosos há que consideram a vitória de D. Afonso Henriques,em 1128,na Batalha de S. Mamede,obtida dentro de portas com o apoio dos barões portucalenses, como «a primeira tarde portuguesa».
Uma vez mais,Cristina,reafirmo o gosto por esta troca de impressões consigo.
Tem razão, quanto à «primeira tarde portuguesa», há quem realmente defina assim esse dia.
ResponderEliminarÉ sempre bem-vindo, Juvenal :)