Este não é mais um livro de auto-ajuda, não nos promete milagres nem soluções fáceis, do tipo «basta acreditar», ou «pense positivo». Pelo contrário: se realmente quisermos mudar algo na nossa vida, temos de aprender a aceitar a nossa dor e as nossas fraquezas, em suma, aprender a aceitar-nos, com todos os nossos defeitos e virtudes. Os psicólogos americanos Jeffrey Young e Janet Klosko ensinam-nos a fazê-lo, mas não escondem que o caminho para lá chegar pode ser penoso.
Eu li a versão alemã: Sein Leben neu erfinden.
Muitos de nós torcem o nariz à possibilidade de procurar a causa para os nossos esquemas comportamentais na infância. Enquanto uns adotam atitudes do género: «Claro que sofri na infância, quem não sofre? Mas não me causou qualquer dano», outros acham que essa procura serve apenas para atirar as responsabilidades pelos nossos problemas para cima dos pais.
Na verdade, quem pertence ao primeiro grupo, apesar de tentar convencer-se a si próprio de que as vivências da infância não o afetaram, provavelmente, não consegue sair das suas armadilhas, ou seja, será sempre, ou subserviente, ou medroso, ou terá sempre a impressão de que vale menos do que os outros, ou achará que nunca receberá o amor de que precisa, de que ninguém o compreenderá, etc.
O segundo grupo parte de um pressuposto falso, pois só podemos mudar algo na nossa vida se soubermos a sua origem, assim como só se pode combater uma doença se conhecermos a sua causa. Tudo o resto não passará do remediar e do desenrascar, o que, a nível psicológico, significa ignorar, recalcar, menorizar, relativizar. Depois, vêm os esgotamentos e as depressões. Uma das grandes facetas da depressão é negarmo-nos a nós próprios, ignorar aquilo que somos e que desejamos. E, muitas vezes, aquilo que desejamos está tão recalcado e escondido, que já nem fazemos ideia de que se trata.
Procurar a origem dos nossos problemas na infância não implica o ilibar das responsabilidades. Pelo contrário! Implica, precisamente, aprender a assumir as responsabilidades! Só ao aceitar o facto de os pais - fosse por ignorância, por incapacidade, ou por não ligarem - não terem orientado suficientemente a criança, ou terem exigido demais dela, se pode corrigir essas falhas. Não se trata de nos limitarmos a culpar os pais (que são apenas humanos, apanhados nas suas próprias armadilhas), mas, sim, de aprendermos a preencher, pela primeira vez, os vazios da nossa vida.
A maioria dos pais age da melhor maneira que sabe. Mas eles erram! Aceitar que os pais não eram, nem são, as pessoas destituídas de defeitos que idealizámos na infância, ajuda-nos a admitir que nem tudo correu como devia ser, ou seja, começamos a responsabilizar-nos pelas nossas falhas e carências, o ponto de partida para, realmente, reinventarmos a nossa vida.
Este livro ensina-nos que não há soluções fáceis. Só abrindo as feridas as podemos sarar.
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