Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

3 de fevereiro de 2013

Naquele Tempo (14)


É de supor que quem queria subir de nível procurasse noiva acima do seu. As hipóteses de o conseguir, porém, não garantiam automaticamente a ascenção social: pelo menos, quando a diferença era grande, um casamento deste género podia ser considerado, como acontecia regularmente noutras regiões feudais, nomeadamente na Catalunha, como uma forma de sancionar a vassalagem do respectivo noivo. É provável que, pelo menos em caso em que se podem presumir relações de vassalagem, mais ou menos clara, isto acontecesse também em Portugal. Os estudos destes casos não são fáceis porque as relações de dependência feudal são, em Portugal, pouco explícitas.
(...)
Mais claros são certos casos de matrimónios de nobres de categoria média ou inferior desposarem herdeiras (não filhas segundas) de linhagens prestigiadas e por esse meio garantirem a sua passagem a níveis superiores de aristocracia. Leontina Ventura (1992) deu alguns exemplos típicos situados na época de transformações que foi o reinado de Afonso III e a este propósito estudou particularmente o caso típico dos Briteiros (com A. Resende de Oliveira, 1995). Este último foi pouco depois objecto de outra análise por J. C. Miranda (1996), dado o seu especial interesse por incluir a história de um rapto de mulher de condição superior.
A maior parte das vezes, porém, os casamentos verificam-se entre membros da mesma categoria social e servem justamente para garantirem a sua perpetuação.
(...)
Como se poderia esperar, o casamento com noivas de condição inferior patenteia, só por si, a decadência da linhagem (...) mesmo quando constituem um recurso para resolver endividamentos.
A mulher é, portanto, o principal elemento dinamizador das relações sociais, como observou Lévi-Strauss.

Páginas 342/343, Perspectivas actuais sobre a nobreza medieval portuguesa


Sem comentários: