Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

6 de fevereiro de 2013

O Rei no parque de estacionamento

Tenho seguido com muito interesse esta história das ossadas descobertas num parque de estacionamento de Leicester, em Inglaterra. Parece que pertencem mesmo a Ricardo III, o que é uma sensação.

Apesar de ter reinado apenas durante dois anos (de 1483 a 1485), Ricardo III é um dos monarcas mais conhecidos da História de Inglaterra. Muito por causa do incontornável Shakespeare, que, na sua peça sobre o último dos Plantegenetas, cria uma personagem fascinante pela sua crueldade. O corcunda Ricardo III manda, primeiro, encerrar os dois sobrinhos, de dez e doze anos, na Torre de Londres, para, pouco depois, ordenar o seu assassínio, apoderando-se, assim, do trono deixado vago pelo irmão, Eduardo IV, morto prematuramente.

Hoje em dia, duvida-se desta versão. Shakespeare era um génio da literatura, mas não era historiador. E "limitou-se" a adaptar a lenda criada pela corte dos Tudor, decidida a denegrir a imagem da dinastia anterior. Afinal, Ricardo III pereceu na Batalha de Bosworth Field, lutando contra Henrique Tudor, que haveria de se tornar no rei Henrique VII, pai do famoso Henrique VIII e avô da não menos famosa Isabel I.


Por acaso, já há bastantes anos que eu criara um certo "carinho" por Ricardo III, à custa do romance The Sunne in Splendour, da historiadora e escritora americana Sharon Kay Penman. Também ela é de opinião que a História não fez justiça ao último dos Plantagenetas e nesse seu romance reabilita a sua imagem, apresentando-o como vítima das circunstâncias.

Está-se longe de saber como morreram os dois Príncipes na Torre, acima de tudo, há muitos suspeitos, todos eles cobiçando o trono. Estava-se na época das Guerras das Rosas, entre as Casas de York e Lancaster, a corte inglesa era um vespeiro de intrigas e maquinações. Seria Ricardo III o cérebro da perfídia? Ou acabou por ser ultrapassado pelos acontecimentos?

Ricardo III foi o último rei inglês a morrer numa batalha, marcando o fim da Idade Média naquele país. Os Tudor são já monarcas do Renascimento. Ricardo contava apenas 32 anos, naquele fatídico 22 de Agosto de 1485. A partir do esqueleto encontrado, já foi criada uma imagem computorizada em 3D.


Gente! Muito gostava eu de ver uma imagem destas de D. Afonso Henriques, ou mesmo de D. Dinis!

9 comentários:

  1. Também gostava de ver a imagem desses nossos dois monarcas...
    Ricardo III até que era bonito :)

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  2. Fabuloso, Cristina!
    Só não se compreende o porquê de as suas ossadas virem a ser descobertas num local onde hoje existe um parque de estacionamento.
    Só estou a ver a possibilidade de num bombardeamento da segunda grande guerra, o local ter ficado de tal forma destruído que tenham, na reconstrução, perdido a referência do local da campa.
    Mesmo assim, alguem havia de se recordar...

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  3. É verdade, Rita, era bonito :)
    Shakespeare representa-o como um velho corcunda. O que não pode ser porque, por um lado, morreu aos 32 anos, por outro, apesar de ter um defeito na coluna vertebral, não era corcunda. Tinha, sim, um ombro ligeiramente mais alto do que o outro. Foi aliás esse problema na coluna que ajudou a identificar o esqueleto (além dos testes de ADN que foram feitos).

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  4. Bartolomeu, por acaso, ainda não sei todos os pormenores desse "achamento", mas sei que os restos mortais de Ricardo III eram procurados há muito tempo. Na verdade, o parque de estacionamento, hoje, no centro de Leicester, fica perto do Bosworth Field original, onde se deu a batalha. Não se sabia bem o que acontecera ao corpo, muita gente dizia mesmo que havia sido esquartejado, como se costumava fazer aos traidores, nesse tempo, e os bocados espalhados, sem se ter criado uma sepultura. Mas havia outros rumores. Não sei como os historiadores e arqueólogos chegaram ao parque de estacionamento, mas devem ter feito os seus cálculos.
    De qualquer maneira, vou averiguar isso ;)

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  5. Cristina,
    achei interessante esse desejo de conhecer um modelo 3D dos nosso dois principais rei(pelo menos para mim).
    Fiquei com uma dúvida. Não receia que conhecer os seus verdadeiros rostos pudesse estragar a visão romanceada que temos das suas personagens?

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  6. É um risco, sim, André Nuno. Há a hipótese de ficarmos desiludidos. Mesmo assim, gostava, porque acho que a desilusão (a haver) seria só no primeiro momento.
    O túmulo de Afonso Henriques já foi aberto algumas vezes, ao longo dos séculos. Mas as descrições que se fizeram das ossadas parecem-me mais fantásticas do que qualquer romance (falam de um tamanho descomunal - mais de 2 metros - e de cabelo ruivo ainda agarrado à caveira). Há uns anos, uma historiadora pediu autorização para o tornar a abrir, a fim de se analisarem os restos mortais com a ajuda da tecnologia atual. Mas o pedido foi recusado.

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  7. Cristina,
    de facto concordo consigo. Passado o impacto inicial não faria qualquer diferença.
    Recordo-me de uma polémica há uns anos sobre a aparência de Jesus cuja conclusão vem ter ao mesmo fim.
    Desconhecia essa história sobre as ossadas de D.Afonso Henriques. Parecem-me também demasiado romanceadas. Não temos dúvidas que o nosso Rei foi um homem enorme... mas provavelmente não teria mais de 1,65m :)

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  8. São muitas as especulações quanto à altura de Afonso Henriques. É verdade que as pessoas, naquele tempo, eram mais baixas do que agora, mas o rei parece ter sido muito maior do que a média. A questão é se as pessoas que assistiram à abertura do túmulo, em diversas ocasiões, relataram aquilo que realmente viram, ou aquilo em que queriam acreditar.
    Encontrei o livro onde li esses relatos e acho que publicarei um post sobre eles.
    Obrigada, André Nuno, que, no fundo, me deu esta ideia :)

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