Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

11 de março de 2013

11 de Março - 38 anos

Andam por aí os restos do passado
Andam por aí os testos
Dos restos mortais dos tachos
De comida amarga
Que os que ainda vivem à larga
Nos querem fazer engolir
É a boca do lobo
A morder a nuca do povo
A boca do lobo
A morder na nuca do povo

A 7 de Março de 1975, os versos de Sérgio Godinho, pela voz de Carlos Cavalheiro, abriam as hostilidades. Davam um sinal inequívoco de que a revolução estava longe de terminar. O melhor – ou o pior, conforme o ponto de vista – haveria ainda de acontecer. As posições extremavam-se, as frentes posicionavam-se e armavam-se. «Os camponeses terão as armas», escreveu Gabriel García Márquez, «quando souberem contra quem têm de as usar. É uma promessa formal do MFA».

O XII Grande Prémio TV da Canção transpirava o odor revolucionário do início daquele ano. Apresentado pelos jovens Maria Elisa e José Nuno Martins (já lá iam os tempos de Artur Agostinho), contou com intérpretes como José Mário Branco, Jorge Palma e Fernando Girão. A Boca do Lobo seria a vencedora lógica de tal certame.

Mas dizem que somos poetas. E os poetas não são lógicos: A Boca do Lobo perdeu por dois votos, apesar de ter roubado o show a todas as outras participações. Quatro dias mais tarde, a 11 de Março de 1975,  houve uma tentativa de golpe de estado. O general Costa Gomes falou numa aventura reacionária com o general António de Spínola à frente.

O braço-de-ferro entre os dois generais começou logo a seguir à revolução, tornando a Junta de Salvação Nacional pequena demais para os albergar. Identificado com a direita, Spínola perdeu terreno para o MFA e procurou apoio civil, apostando naquilo a que chamava «maioria silenciosa», ou seja, o povo anónimo. Os seus objetivos não foram atingidos, a sua situação tornou-se insustentável e o primeiro Presidente do Portugal de Abril acabou por fazer as malas, a 28 de Setembro de 1974. Foi naturalmente substituído pelo general Costa Gomes.

Anda aí o funeral dos parasitas
Anda aí o carnaval
Anda aí como aliás já se previa a cia
Quem é que não desconfia?
Quem é que se quer meter
Na boca do lobo
A morder a nuca do povo


A 11 de Março, houve um ataque aéreo ao Regimento de Artilharia Ligeira 1, no bairro lisboeta da Encarnação, do qual resultaram um morto e catorze feridos. Surgiram apelos à mobilização popular por parte da Intersindical e, pelas 13 horas, foram erguidas barricadas de civis armados nas estradas de acesso a Lisboa. A casa de Spínola foi assaltada e o general acabou por fugir para Espanha.

Também sedes do CDS, do PPD e do PDC foram assaltadas. As forças militares de direita foram desmanteladas, ao serem presos vários dos seus elementos, assim como capitalistas e potenciais líderes políticos. Afinal, continuavam as prisões políticas. Até 25 de Novembro, haveriam de passar pelos cárceres revolucionários cerca de cinco mil detidos políticos. E tiveram sorte em não acabarem no Campo Pequeno!

A 12 de Março, extinguiu-se a Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado e criou-se o Conselho da Revolução. Foram nacionalizados bancos, companhias de seguros, empresas de eletricidade, transportadoras, cimenteiras, siderurgias, companhias petrolíferas e empreendeu-se a Reforma Agrária no Alentejo, com a expulsão dos latifundiários e a criação de cooperativas, sob a orientação do PCP.

Anda, a gente vai começar
A gente já começou
A gente vai acabar
Aquilo que começou
A gente vai acabar

Com a boca do lobo
A morder na nuca do povo


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