No passado dia 1 de Abril,
não por ser o Dia dos Enganos, mas por ser Segunda-Feira de Páscoa, feriado na
Alemanha, o canal ZDF mostrou um documentário que devia ser transmitido em todas as
línguas, em todas as televisões do mundo. O papel das mulheres, no Novo
Testamento, foi ignorado, menorizado e votado ao esquecimento, ao longo dos
séculos. Do «novo povo de Deus», anunciado por Cristo, foi criada uma «Igreja de homens»
(para usar as palavras dos autores do documentário). A ação dos chamados «Pais
da Igreja» (em alemão Kirchenväter)
foi ainda mais longe, ao transformarem uma apóstola
num apóstolo!
Apóstola, sim, não é erro (embora o Word o assinale como tal). Os teólogos e
as teólogas citados no programa são perentórios a afirmar que, no tempo de
Cristo, e nos primeiros anos do Cristianismo, existiam apóstolas e diáconas
(mais um erro, diz-me o Word). A
primeira apóstola teria sido Maria
Madalena (Maria de Magdala), anunciadora do milagre da Páscoa, mas, mais tarde,
rebaixada a meretriz e pecadora. Na verdade, a religião cristã não se iniciou
com a morte de Cristo, mas com a sua ressurreição. É o acontecimento mais
importante do Cristianismo, embora, hoje em dia, tenda a ser o Natal. A
ressurreição teria, assim, de ser testemunhada por personagens importantes,
credíveis. E, nos Evangelhos, essas personagens são mulheres (em Mateus, Marcos
e Lucas são várias mulheres; no Evangelho de São João, Maria Madalena depara
sozinha com o túmulo vazio).
O documentário centrou-se
em quatro mulheres fundamentais para o estabelecimento do Cristianismo: a já
referida Maria de Magdala; Febe de Cêncreas (diácona e teóloga, cujo significado tem vindo a ser menorizado pela
Igreja Católica); Júnia (denominada apóstola por São Paulo e transformada
num homem por estudiosos da Bíblia medievais!) e Lídia de Filipos, a primeira pessoa, na Europa, a converter-se ao
Cristianismo e a ser batizada por São Paulo, que a elevou a líder religiosa e,
no entanto, hoje, ela é apenas conhecida por ser a Padroeira dos Tintureiros!
Inicio, aqui, uma série
semanal dedicada a este tema. Nos próximos posts,
continuarei a falar do papel das mulheres, no nosso tempo e no tempo
de Cristo, e passarei, depois, a analisar pormenorizadamente o das quatro
citadas, sempre baseada no documentário da ZDF.
P.S. (1) O título original
do documentário é Jesus e as Mulheres
Desaparecidas (Jesus
und die verschwundenen Frauen).
Na minha tradução, optei por Cristo,
pois, hoje em dia, em Portugal, quando se enuncia o nome de Jesus, há a tendência para o confundir
com o do treinador de futebol.
P.S. (3) Podem pensar que
exagero na linguagem feminista, mas foi precisamente este o tom usado no programa
da ZDF. Notava-se uma grande vontade de mudança na Igreja Católica, em todos os
teólogos e teólogas consultados e que serão nomeados e citados nos próximos posts.
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