Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

2 de maio de 2013

Divagações Abrilinas (5)



A certa altura, a mãe foi ter com os filhos. Mostrou-se consternada. Disse-lhes que o Presidente da República e o Presidente do Conselho de Ministros se encontravam sequestrados por militares, que exigiam a sua rendição. Estava cheia de pena do almirante Américo Thomaz, «já tão velhote, coitado do senhor», e do Professor Marcello Caetano, «pobre senhor», que viviam horas de terror, com armas apontadas contra si, sob a ameaça: «ou te rendes, ou disparamos»!
A Vera tentava imaginar o Presidente do Conselho sentado à sua secretária, rodeado por militares de armas em punho. Perguntou à mãe porque é que isso acontecia, mas não obteve resposta. Na verdade, a mãe também não sabia! E não fazia ideia de que, dependesse do «pobre senhor» Marcello Caetano, a fragata Gago Coutinho, a Força Aérea e os carros de combate de Cavalaria 7 teriam rebentado com o Terreiro do Paço, impedindo o capitão Salgueiro Maia de ter chegado ao Largo do Carmo, dando início ao episódio mais simbólico da revolução.

O ambiente em casa dela estava longe de qualquer euforia revolucionária. Receio seria a palavra mais apropriada. E a consternação da mãe era visível, ao assistir ao transporte do Presidente do Conselho cessante numa viatura fechada, como um vulgar criminoso, no meio da populaça em fúria. 
Era o desmoronar de um mundo! 


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