Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

23 de outubro de 2013

Zoo

Das poucas vezes que fui a jardins zoológicos, pouco mais recordo do que a apatia dos leões, tigres e leopardos que por lá vegetam. Lembrei-me disto, ao ler o texto da Alice Alfazema:

Há coisas que nos ficam na mente, e por mais que o tempo corra não apaga essas memórias. A primeira vez que fui com o meu filho ao jardim zoológico o miúdo teve a primeira decepção da vida dele, pois não havia pradarias, os leões e os outros animais não corriam, tal como ele vira nos inúmeros documentários sobre a vida selvagem. A mim não me ocorrera dizer-lhe que naquele sítio onde iríamos ver os animais selvagens a vida era diferente daquilo que se via na televisão.

Numa visita ao zoo de Lisboa, teria eu uns 10 ou 11 anos, ia ansiosa por ver o elefante que tocava a sineta, depois de se lhe dar uma moeda. Mas, em vez de lhe achar piada, fiquei muito triste. Havia algo de terrível, naquela aceitação da moeda, por parte do animal, e o tocar a sineta, como reflexo. Repetia aquilo durante todo o dia. Tão triste! Como o gorila descrito pela Alice Alfazema:

Mas o que me impressionou mais nesse dia foi enfrentar o olhar do Gorila, olhos nos olhos, baixei os olhos e senti vergonha. Os olhos da cor dos meus perguntaram-me: para onde estás a olhar? que fiz eu para estar aqui? achas-me diferente de ti? este planeta é nosso? Tive que sair dali porque não aguentava aquela fala silenciosa, aquele olhar ficou gravado nas minhas recordações. Eu não tinha resposta, apenas a vergonha existia em mim. Não consigo despir-me dela.

«Os cães e, provavelmente, muitos outros animais (em especial os nossos 'familiares primatas') parecem ter emoções tal como nós, o que significa que temos de reconsiderar o tratamento que lhes é dado» - daqui.




6 comentários:

Sara disse...

O zoo (de Lisboa) está bastante diferente: o elefante já não faz isso e os tigres, gorilas e chimpanzés já não estão atras de grades...Os macacos em particular tem um grande espaço interior e exterior com água e tal...Alguns animais ainda estão em grades, mas andavam em obras da última vez que lá fui...Acho que os zoos têm um papel importante na conservação das espécies.

Cristina Torrão disse...

Pode ser, Sara. E não há dúvida que os zoos modernos são muito melhores. Mesmo assim, e apesar de não ser completamente contra, fico sempre muito dividida, nesta questão.

Anónimo disse...

Tenho uma cadela, já velhinha e doente. Há alturas em que nos olhamos nos olhos, e vejo os seus tão húmidos de tristeza, tão entrados nos meus, como se a cada pestanejar estivesse a despedir-se de mim.

ABC

Cristina Torrão disse...

Força, António! Tenho a certeza que pode sossegar a sua consciência, sabendo que fez e faz tudo para a fazer feliz.
Mas também eu já receio momentos desses com a nossa Lucy, que está prestes a completar dez anos...

Alice Alfazema disse...

Olá, Cristina, por mais que digam que têm condições...nada, substitui a verdadeira liberdade e quanto ao papel da conservação da espécie, essa é mais outra patranha inventada para desculpar tudo aquilo que a nossa espécie fez e faz ano após ano. Haveriam melhores soluções que essa, mas os interesses são demasiados e estão instalados de sofá.

Um abraço e uma festinha para a Lucy. :)

Cristina Torrão disse...

Também acho que os zoos, por melhores que sejam, nunca serão adequados a, pelo menos, animais de grande porte, como leões, tigres, ou elefantes. O espaço nunca será suficiente, porque eles acabam por se aborrecer. É esse um dos grandes problemas. Talvez eles até tenham espaço sufciente para se exercitarem fisicamente. Mas não psicologicamente. Até nisso se vê como eles são parecidos connosco, precisam de desafios, de sentirem que têm uma tarefa, ou uma missão na vida. Sem isso, tornam-se depressivos, daí o estarem sempre tão apáticos.

A Lucy agradece e retribui :)