Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

11 de fevereiro de 2014

Essa coisa da escrita


Leio, no blogue da Ler, que um inquérito da Digital Book World revelou que mais de metade dos escritores editados no Reino Unido recebe menos de 700 euros por ano.

Bruno Vieira Amaral, no texto publicado no blogue, pergunta o que motiva esses escritores. Será o sonho de um dia chegarem ao patamar absurdo de rendimentos dos escritores mais populares? A glória social de se apresentarem como escritores? A vaidade da obra impressa mostrada a familiares e amigos?

Todas estas razões terão o seu fundamento e são legítimas.  Mas eu acrescentaria mais uma: para a esmagadora maioria, é difícil, senão impossível, viver sem escrever (independentemente da qualidade). Também é óbvio que nenhum desses escritores se pode sustentar com tais ganhos, o que quer dizer que terão outra fonte de rendimentos, normalmente, um emprego. Sendo assim, porque não hão de procurar a publicação dos seus textos, em vez de os guardarem numa gaveta?

Concordo, por isso, com o diretor editorial da empresa que realizou o inquérito, quando diz que essas pessoas «querem partilhar alguma coisa com o mundo ou obter alguma espécie de reconhecimento». Afirmações destas costumam ser vistas com ironia, ou desprezo, o que supera o meu entendimento. Qualquer um de nós tem uma necessidade imperativa de partilha e de obtenção de reconhecimento. Quem o negue, está a mentir! Porque haviam os escritores de ser diferentes?

Bruno Vieira Amaral duvida, e muito bem, que o mundo ganhe alguma coisa com isso. Já não concordo que ele defina «isso» como «generosidade e sacrifício». Escrever é um prazer. E a publicação em troca de uns míseros tostões não tem, como vimos, nada a ver com generosidade (e ele estava a ser irónico, mas pronto, eu quis partilhar isto com a blogosfera).

7 comentários:

Daniel Santos disse...

o que seria o mundo sem as minhas opiniões na blogosfera?

JCC disse...

Concordo, sou outro dos tais que escrevem por imperativo. E sem proveito, nem esperança de o vir a ter. Por motivação, só me ocorrem estes versos de Eugénio de Andrade, que cito descontextualizados:
"Tu perguntas, e eu não sei,
eu também não seio que é o mar."

Cristina Torrão disse...

É verdade, Daniel ;)

Os mistérios da vida, José Catarino. Ainda bem que os há ;)

Bartolomeu disse...

Essencialmente, a necessidade de partilhar e de obter reconhecimento. Concordo, Cristina. Aliás, esta "coisa" que nos é intrínseca, de contar, de relatar e de imaginar, não é recente, apesar de nos últimos anos, ter crescido o número de pessoas que escreve. A necessidade de contar, vem dos nossos ancestrais, que praticavam a arte, acrescentando um ponto ou mais, de cada vez que o conto o era. ;)
O mundo está ainda por descobrir, e desde que deixaram de existir exploradores, recaiu sobre os escritores, a responsabilidade de o revelar, usando os arquivos... a imaginação e a capacidade de recriar.

Bartolomeu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bartolomeu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cristina Torrão disse...

A capacidade humana de contar histórias é inesgotável. Hoje, há mais gente a escrever, porque há mais gente a saber escrever ;) (embora o conceito de "saber" possa ser subjetivo ;))