Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

10 de fevereiro de 2014

História da Vida Privada em Portugal - A Idade Média (8)


De acordo com o sistema linhagístico puro, digamos assim, as vias que se abriam a um secundogénito excluído da herança familiar passariam pelo serviço ao irmão mais velho ou a um senhor mais poderoso, por uma carreira no clero secular ou pelo afastamento do claustro monástico, ou até pelo ingresso numa ordem militar, ou pura e simplesmente por uma vida de aventuras apostada na sorte das armas ou no favor de uma herdeira. Quanto às senhoras, as soluções eram menos variadas, destinando-se para a maior parte o celibato monástico, enquanto algumas outras - poucas delas, como é óbvio, tendo em conta a perda patrimonial que o dote implicava - poderiam contribuir para os interesses estratégicos da linhagem através das alianças matrimoniais.

Em Portugal, porém, e como já se percebeu, a imagem ideal deste modelo teórico foi vivida com outros contornos. Na verdade, a documentação do século XIII e ainda da primeira metade da centúria seguinte, sobretudo através dos testamentos e das cartas de partilhas, revela uma prática continuada da divisão da herança por todos os irmãos.
(...)
Na impossibilidade de recorrer às velhas práticas endogâmicas, e para além, depois das partilhas, de trocas ou compra de bens efectuadas entre os vários herdeiros (o que permitia a reconstituição, pelo menos parcialmente, dos bens familiares), deve-se sobretudo sublinhar o elevado índice de celibato, especialmente feminino.

Na verdade, a única forma de impedir que os bens distribuídos pelas senhoras fossem enriquecer o património da linhagem dos respectivos cônjuges, era impedir o seu matrimónio.

A família - estruturas de parentesco e casamento, Bernardo Vasconcelos e Sousa, José Augusto de Sotto Mayor Pizarro (pp. 138/139)


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