Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

23 de fevereiro de 2014

História da Vida Privada em Portugal - A Idade Média (9)


A massa popular, ainda que saibamos ter havido uma evolução temporal e espacial, professava uma religiosidade que se exprimia em actos colectivos de devoção, fossem eles mais penitentes e purificadores, ou mais festivos e lúdicos. Religiosidade essa em que os homens, numa íntima comunhão com o cosmos, celebravam festivamente os movimentos cíclicos sazonais e os ritos fecundadores e produtivos da natureza, que se identificavam em pleno e eram até mesmo propiciadores da fertilidade humana. É a festa a reverter em intimidade e privacidade. Como a intimidade e privacidade conduzem à sociabilidade e à festa.

Expressão de uma celebração, de uma comemoração que só ao homem cabe, como senhor da memória, a festa assume-se primariamente, em tempos medievais, como uma festa do religioso e do sagrado.

A festa - a convivialidade, Maria Helena da Cruz Coelho (p. 145)

Comentário:

Aproveito para notar um contraste curioso que se verificava na Idade Média: apesar de haver muita identificação com a natureza, havia um grande distanciamento em relação aos animais. Penso que os homens não se viam propriamente como fazendo parte da natureza. Distanciavam-se dela, a fim de a dominarem, de a usarem para seu próprio benefício, a fim de estabelecerem a sua condição de "ser especial", criado à imagem de Deus. Apesar de se considerar que tudo o que existia fora criado por Deus, distinguia-se entre o natural e o divino.


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