Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
1 de março de 2014
História da Vida Privada em Portugal - A Idade Média (10)
Para responder à questão que formulei - até que ponto certos castigos podiam atirar uma pessoa bem inserida em redes familiares e sociais para a vagabundagem, a exclusão e a criminalidade - temos de levar em conta dois factores: a dimensão infamante da pena, a suprema vergonha, a humilhação pública em comunidades que só na nossa imaginação nostálgica eram harmoniosas e idílicas e que podiam ser extremamente cruéis levaria a que muitos dos que passaram por isso nunca mais quisessem voltar; e não era fácil recomeçar a vida noutro lado, sem apoios. Além disso, em economias familiares precárias, com baixa produtividade e escassa poupança, a falta de um elemento - pai, mãe, filho - em idade de trabalhar podia significar pura e simplesmente a ruína, das terras ou do negócio.
(...)
Como experiência humana, a prisão podia ser terrível. Mas aqui também seria um equívoco generalizar. Não creio que tivessem existido no Portugal medievo os sinistros calabouços nas profundezas de castelos como a imaginação romântica os pintou. Embora os do mosteiro de Alcobaça descritos por Iria Gonçalves não pareçam andar longe disso: o mosteiro ia buscar os presos às cadeias dos concelhos e lançava-os «por cordas no fundo das suas torres ou nos aljubes onde, segundo a expressão empregada, não há claridade de sol nem de lua, não os deixando ver as famílias e conservando-os assim detidos, em más prisões, por muito tempo, até perderem "a vista dos olhos"».
Na esmagadora maioria dos casos, as prisões não seriam tão severas.
Marginalidade e marginais, Luís Miguel Duarte (pp. 193/194)
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