Pairava o receio sobre os frequentadores da
igreja de São Pedro do Paraíso. Sabiam da existência de mouros, gente cruel,
que renegava os ensinamentos de Cristo, mas havia muito que a Terra de Paiva se
encontrava fora da sua ameaça, nem sequer se organizavam correrias e fossados,
como nas povoações de fronteira. As terras dos mouros ficavam para lá de
Coimbra, onde o infante tinha a sua corte, mas ninguém fazia ideia onde se
situava. Só se sabia que era longe.
Durante a missa, em que celebrou a
ressurreição do Senhor, o pároco Sindila falou na necessidade da guerra contra
os infiéis e, no fim, pôs o altar à disposição de um dos cavaleiros, que deixou
claro que D. Afonso Henriques havia mister de todos os homens do condado. Os
mouros haviam, há cousa de dois anos, destruído um castelo que o infante
mandara construir num sítio chamado Leiria, chacinando duzentos e quarenta
soldados e cavaleiros. D. Afonso tencionava vingar-se, levando a cabo um
fossado de proporções nunca vistas, penetrando bem fundo nas terras dos pagãos.
O sacrifício seria recompensado, haveriam de volver ricos, cheios de despojos:
ouros, sedas e brocados, além de escravos e animais.
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