Arribavam os cativos mouros ao adro da
igreja, três dezenas de homens, mulheres e algumas crianças, que Soeiro Pais Mouro e Mem Moniz de Gondarém
tencionavam manter como escravos domésticos ou de lavoura. E ofereceriam, com
certeza, alguns aos seus cavaleiros mais chegados.
O povo olhava horrorizado para aquela gente,
envolta em trapos e a quem o pó e a sujidade da marcha davam uma compleição
ainda mais miserável e mais escura. Era então esta a catadura dos pagãos,
pareciam constatar os olhos que os miravam, assim eram aqueles que renegavam os
ensinamentos de Cristo! E só não os maltratavam, porque os fidalgos, desejosos
de manter aquela mão-de-obra gratuita, velavam pela sua segurança. Ainda assim,
alguns começaram a cuspir-lhes em cima.
Jacinta estremeceu àquele gesto. Trazia-lhe
recordações que a levavam a identificar-se com aquela gente. Sentiu-se na pele
deles, que se mantinham de cabeça baixa, um misto de revolta e tristeza no
olhar. As crianças berravam, agarradas às mães, mas estas não tinham forças
para as consolarem. Sujeitas a um sofrimento atroz, haviam desistido das suas
emoções.
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