De
Carla M. Soares já li o suficiente para saber que tem uma imaginação
inesgotável, expressa em enredos empolgantes, cheios de surpresas. E se, num romance
deste tipo, há sempre uma certa dose de previsibilidade, a autora consegue salpicá-la
com uma série de viragens inesperadas, que incluem um crime.
Neste
“Livro RTP”, deparamos com um Portugal em convulsão, na passagem do século XIX para o XX, com a contestação à monarquia a subir de tom, sendo o ideal republicano defendido por grupos mais ou menos violentos. A nobreza agoniza, famílias
outrora ricas e influentes perdem a supremacia e o património, também devido ao
Ultimato
inglês, surgido na sequência da chamada “partilha de África”, o que
originou, no nosso país, grande animosidade em relação aos britânicos.
Sofia,
a personagem principal do romance, apaixona-se precisamente por um inglês. Apesar
de ainda manter as aparências, a família de Sofia encontra-se irremediavelmente
empobrecida e nem o facto de Robert Clarke poder ser a sua salvação o torna bem
visto aos seus olhos. Os pais, mais interessados na manutenção dos seus privilégios sociais do que na felicidade da filha, preferem uni-la ao duque de Almoster, um homem
bem situado na vida, embora de carácter duvidoso.
Na sua ânsia de agradar
à família, Sofia aceita o noivado, mas luta contra a repulsa que o duque lhe
inspira. Ao mesmo tempo, luta contra si própria e a sua condição de mulher e
menina solteira, mantida afastada das problemáticas políticas e sociais, desejando
romper essa redoma onde insistem em enfiá-la. Constata que nem com o irmão pode
contar, ele próprio envolvido em conflitos, interiores e não só, já que as suas simpatias
republicanas o levam a envolver-se com um grupo anarquista violento.
Como
se vê, ingredientes suficientes para uma leitura empolgante, onde nem todos os
mistérios são resolvidos ou explicados, nem os heróis se apresentam sem mácula. Esta é
também uma característica nos romances de Carla M. Soares: certos
conflitos não se resolvem totalmente e há uma certa dualidade nas personagens. Como todos nós, possuem um lado bom e um mau que se digladiam.
Parabéns
à Carla por mais um excelente romance!