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*As cantigas iam ficando mais ousadas, mais inflamadas. Dinis estava deslumbrado com a sua barregã, mas, no fundo, subsistia o desejo de provocar Isabel, de criar algo que lhe despertasse emoções fortes, como na cantiga onde o poeta mui receava o dia em que não pudesse ver a sua senhor. O sofrimento seria tal, que morreria, o que, no entanto, lhe reservava um conforto: ao morrer, deixaria de sofrer.
Quant’ eu, fremosa mia senhor,
de vós receei a veer
muit’ er sei que nom hei poder
de m’ agora guardar que nom
(vos) veja; mais tal confort’ hei
que aquel dia morrerei
e perderei coitas d’amor.
O poeta continuava, dizendo que não conseguia imaginar maior pesar do que sentir a ausência da amada. E que Deus lhe perdoasse, pois encontraria conforto na morte, ao livrar-se do maior sofrimento que Nosso Senhor a alguém havia dado:
E como quer que eu maior
pesar nom podesse veer
do que entom verei, prazer
hei ende, se Deus mi perdom,
porque por morte perderei
aquel dia coita que hei
qual nunca fez Nostro Senhor.
E, pero hei tam gram pavor
d’ aquel dia grave veer
qual vos sol nom posso dizer,
confort’ hei no meu coraçom
porque por morte sairei
aquel dia do mal que hei
peior do que Deus fez peior.
*Do meu romance Dom Dinis, a quem chamaram o Lavrador, à venda na Wook e na Leya Online.
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