Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

28 de junho de 2016

Amores de Dom Dinis



Serão na corte


Excerto do meu romance Dom Dinis, a quem chamaram o Lavrador:

A rainha teimava em não regressar do seu périplo pelas vilas que lhe pertenciam e Dinis, de partida para Coimbra e desejoso de consolo feminino, debatia-se com a dúvida sobre quem mandaria vir ao seu encontro: Aldonça Rodrigues da Telha, ou Maria Pires? A fogueira escaldante, ou a leveza das sardas num rosto sereno?
Quiçá por se aproximarem os frios do Outono, Dinis decidiu-se pelas chamas. Considerou, porém, que Aldonça deveria estar mui agastada, desde que ele, em vez de reatar o romance com ela, depois do nascimento de Fernão Sanches, se entretivera com a dama do Porto. Sabia, por outro lado, que Aldonça não se atreveria a recusar um pedido dele. E dedicou-lhe um poema na sua missiva, o melhor remédio para atenuar ímpetos arrebatados, onde pedia perdão por não ter ido ver a amada nem lhe ter mandado notícias durante tanto tempo:

                        Nom sei como me salv ’a mia senhor
                        se me Deus ant’ os seus olhos levar,
                        ca par Deus nom hei como m’ assalvar
                        que me nom julgue por seu traedor
                        pois tamanho temp’ há que guareci
                        sem seu mandad’ oir e a nom vi.

(Não sei como me justificar perante a “mia senhor”, para que ela me não pense seu traidor, pois já há muito tempo não lhe mando notícia, nem a vejo).

                        E sei eu mui bem no meu coraçom
                        o que mia senhor fremosa fará
                        depois que ant’ ela for: julgar-m’ á
                        por seu traedor com mui gram razom,
                        pois tamanho temp’ há que guareci
                        sem seu mandad’ oir e a nom vi.

(Sei muito bem no meu coração como reagirá a formosa “mia senhor”, julgar-me-á por seu traidor e com razão, que já há muito tempo que não lhe mando notícia, nem a vejo).

                        E pois tamanho foi o erro meu
                        que lhi fiz torto tam descomunal,
                        se m’ a sa gram mesura nom val,
                        julgar-m’ á por em por traedor seu,
                        pois tamanho temp’ há que guareci
                        sem seu mandad’ oir e a nom vi.

                        Se o juízo passar assi,
                        ai eu cativ’, e que será de mi?


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O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online, na Wook e na Kobo.

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

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