O amor tem
múltiplas cores.
A vida inúmeros
arco-íris.
O mar,
apenas a cor do nosso olhar.
(In Mares)
Neste livro do poeta José Luís Outono, encantou-me a alternância entre os
hinos ao amor («e o amor é um diamante raro», in Tempos Afogados), a reflexão filosófica e a crítica social e
política, esta, por vezes, muito dura, como em Estragos:
Tentei não
obedecer ao bloqueio da razão.
Subi acima
das nuvens secretas,
e olhei o
contorno simétrico da ética.
E vi.
O dislate
humano da insensatez.
O vácuo dos
ideais ditos inovadores.
O riso
estridente da arrogância.
O sonambulismo
parvo da complexidade.
O desvio
credenciado do engano.
O diploma
vingador do incómodo.
E li.
As notícias
prefabricadas de vendas e saldos combinados.
Os ensaios
plagiados de instintos inflamados.
Os relatórios
pérfidos da poupança promotora.
As contas
subtis do despesismo titular.
A listagem
mórbida do emagrecimento sociocultural.
E pensei.
Gostava
tanto que fosse engano.
Algo que igualmente muito me agradou foram as alusões à Revolução de Abril,
que surgem aqui e ali, como em Saudades:
Conheci-te,
numa madrugada de Abril. Os teus olhos
eram um
poema de liberdade, num mar de cravos esperança.
Tinhas o
mais bonito nome de mulher verdade - Democracia.
Hoje, quarenta
anos decorridos, beijo ainda alguns momentos
da tua
beleza, que sabem a pouco, neste dizer ladino,
de homem
apaixonado.
Especialmente comovente é o poema Escrito
na Tarde do Dia 25 de Abril de 1974 (José Luís Outono cumpria serviço
militar na Guiné), do qual transcrevo alguns excertos:
Bem longe,
desse Continente de confusões,
entendo
agora, meu pai, as tuas palavras.
Quando me
avisavas dos gritos de dor da António Maria Cardoso
(…)
Quando
esboçavas um pestanejar,
ao ver-me com
uma farda obrigatória,
e dizias em
gozo certeiro - Mocidade?
(…)
Quando me
viste partir para este inferno colonial,
e com um
abraço disseste - Não te esqueças de regressar.
Como se vê, um livro lindíssimo, que contém ilustrações do próprio autor e
que nos surpreende a cada esquina:
ainda bem
que o reino animal
é insensível
às promoções de conveniência
e continuam
a soletrar atitudes tocantes
que os
humanos ignoram por vaidade superior
(In Gritos Nascentes)
Desculpa,
meu amor, mas hoje mergulhei em águas sofredoras e estou muito pensativo.
Lembras-te? As mesmas águas onde já mergulhámos felizes, são hoje cemitérios ou
corredores de sofrimento.
Impossível!
(In Olhares Nublosos)
por vezes
apetece inverter as cores
num
esperançar de ver receios abraçar coragens
(In Por vezes)
Para quem gosta de poesia e não só…
Minha cara amiga,
ResponderEliminarUm abraço muito grato, pela leitura, análise e partilha.
JLO