Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

25 de junho de 2017

Lassie




Este é o romance original que iniciou o fenómeno à volta da personagem canina, publicado pela E-Primatur, por ocasião do seu 75º aniversário, com as ilustrações originais de Marguerite Kirmse. O criador de Lassie, Eric Knight, escreveu unicamente este livro, dando origem ao primeiro filme, cuja rodagem ele acompanhou. Infelizmente, viria a morrer com apenas 45 anos num desastre de aviação, pelo que todos os livros e filmes que se seguiram, apesar de inspirados na personagem Lassie, são da responsabilidade de outros autores.

Eric Knight e Pal, o cão que interpretou o papel da Lassie, no primeiro filme
.

Eric Knight e a sua segunda mulher Jere Brylawski eram criadores de collies e este livro, apesar de se tratar de ficção, está longe de ser uma “história da carochinha”. O enredo é perfeitamente verosímil e nota-se que foi escrito por alguém que percebia muito de comportamento canino. Trata-se, acima de tudo, de uma história de amor e lealdade, passando por valores como sentido do dever e honestidade. Além disso, é um interessante retrato da vida no Yorkshire, terra-natal do autor, nos anos 1930, marcados pela crise económica.


Lassie é uma collie admirada por todos os habitantes da aldeia e amada pela sua família de humanos. O seu dono, porém, vê-se obrigada a vendê-la ao Duque de Rudling, depois de ficar desempregado, causando grande sofrimento ao seu filho. A cadela ia esperar o rapaz à escola, todos os dias, estivesse sol ou chuva, fizesse frio ou calor.

Primeiramente, Lassie fica no canil do Duque perto da aldeia onde mora a família e, independentemente da altura e da qualidade das grades que a cercam, ela arranja maneira de fugir, a fim de estar pontualmente à espera do miúdo de doze anos, quando este sai da escola. E, de todas as vezes, o pai do rapaz a devolve ao Duque, apesar dos protestos e da angústia do filho.


Um dia, o problema parece estar resolvido: o Duque de Rudling parte para a sua herdade no norte da Escócia, situada a mais de seiscentos quilómetros da aldeia do Yorkshire, e leva a Lassie consigo. Mas nada consegue abalar a lealdade e o sentido do dever da cadela que, assim que tem oportunidade, se escapa e inicia uma verdadeira odisseia de regresso a casa (no original, o livro intitula-se Lassie Come-Home).


 A cadela faz uma viagem de meses, andando cerca do triplo da distância, já que, como o autor escreve (p. 193):

«Mas isso [quatrocentas milhas - cerca de seiscentos e cinquenta km] seria para um homem que viajasse directamente pela estrada ou de comboio. Para um animal, que distância seria - para um animal que tem de contornar e procurar soluções para obstáculos, de perambular e errar, de retroceder e desviar-se até encontrar um caminho?
Seriam, talvez, mil milhas [cerca de mil e seiscentos km] - mil milhas através de terreno desconhecido, que nunca tinha atravessado, sem nada, além do instinto, que lhe indicasse o caminho».

Lassie perante um enorme lago, uivando de angústia e impotência. Na sua procura por um lugar onde o possa atravessar, acaba por conseguir contorná-lo, o que significou fazer algumas centenas de km extra.

Lassie vive muitas aventuras, algumas divertidas, outras tão perigosas que quase a matam. E encontra muita gente, da mais variada: pessoas que a acossam, dado o seu estado, muitas vezes, lastimoso, ou mesmo que lhe querem fazer mal; pessoas que a tratam com amor e carinho, que lhe chegam a salvar a vida. O livro vale também por isso, por nos mostrar as diferentes maneiras de os humanos reagirem, perante um cão em sofrimento.



É um livro que recomendo a toda a gente. Quem gosta de cães, delicia-se; quem não gosta, ou nada sabe sobre eles, aprende a entender estes animais que, com o tratamento adequado, nos são tão fiéis e nos dão lições valiosas. Considero-o mesmo um livro imprescindível para as crianças a partir dos oito anos, se bem que recomendo leitura acompanhada dos oito aos doze, pois há cenas que podem chocar as mais sensíveis.

Nota: as imagens das ilustrações originais do livro foram por mim fotografadas.




 

Sem comentários:

Enviar um comentário