Este é o romance original que iniciou o fenómeno à volta da personagem
canina, publicado pela E-Primatur,
por ocasião do seu 75º aniversário, com as ilustrações originais de Marguerite Kirmse. O criador de Lassie, Eric
Knight, escreveu unicamente este livro, dando origem ao primeiro filme,
cuja rodagem ele acompanhou. Infelizmente, viria a morrer com apenas
45 anos num desastre de aviação, pelo que todos os livros e filmes que se
seguiram, apesar de inspirados na personagem Lassie, são da responsabilidade de outros autores.
Eric Knight e Pal, o cão que interpretou o papel da Lassie, no primeiro filme | . |
Eric Knight e a sua segunda mulher Jere Brylawski eram criadores de collies e este livro, apesar de se
tratar de ficção, está longe de ser uma “história da carochinha”. O enredo é
perfeitamente verosímil e nota-se que foi escrito por alguém que percebia muito
de comportamento canino. Trata-se, acima de tudo, de uma história de amor e
lealdade, passando por valores como sentido do dever e honestidade. Além disso,
é um interessante retrato da vida no Yorkshire, terra-natal do autor, nos anos
1930, marcados pela crise económica.
Lassie é uma collie admirada por todos os habitantes
da aldeia e amada pela sua família de humanos. O seu dono, porém, vê-se
obrigada a vendê-la ao Duque de Rudling, depois de ficar desempregado, causando
grande sofrimento ao seu filho. A cadela ia esperar o rapaz à escola,
todos os dias, estivesse sol ou chuva, fizesse frio ou calor.
Primeiramente, Lassie fica no
canil do Duque perto da aldeia onde mora a família e, independentemente da
altura e da qualidade das grades que a cercam, ela arranja maneira de fugir, a
fim de estar pontualmente à espera do miúdo de doze anos, quando este sai da
escola. E, de todas as vezes, o pai do rapaz a devolve ao Duque, apesar dos
protestos e da angústia do filho.
Um dia, o problema parece estar resolvido: o Duque de Rudling parte para a
sua herdade no norte da Escócia, situada a mais de seiscentos quilómetros da
aldeia do Yorkshire, e leva a Lassie
consigo. Mas nada consegue abalar a lealdade e o sentido do dever da cadela
que, assim que tem oportunidade, se escapa e inicia uma verdadeira odisseia de
regresso a casa (no original, o livro intitula-se Lassie Come-Home).
A cadela faz uma viagem de meses, andando cerca do triplo da distância, já
que, como o autor escreve (p. 193):
«Mas isso [quatrocentas milhas -
cerca de seiscentos e cinquenta km] seria para um homem que viajasse
directamente pela estrada ou de comboio. Para um animal, que distância seria -
para um animal que tem de contornar e procurar soluções para obstáculos, de
perambular e errar, de retroceder e desviar-se até encontrar um caminho?
Seriam, talvez, mil milhas [cerca de
mil e seiscentos km] - mil milhas através de terreno desconhecido, que
nunca tinha atravessado, sem nada, além do instinto, que lhe indicasse o
caminho».
Lassie vive muitas
aventuras, algumas divertidas, outras tão perigosas que quase a matam. E encontra
muita gente, da mais variada: pessoas que a acossam, dado o seu estado, muitas
vezes, lastimoso, ou mesmo que lhe querem fazer mal; pessoas que a tratam com
amor e carinho, que lhe chegam a salvar a vida. O livro vale também por isso,
por nos mostrar as diferentes maneiras de os humanos reagirem, perante um cão
em sofrimento.
É um livro que recomendo a toda a gente. Quem gosta de cães, delicia-se;
quem não gosta, ou nada sabe sobre eles, aprende a entender estes animais que,
com o tratamento adequado, nos são tão fiéis e nos dão lições valiosas. Considero-o
mesmo um livro imprescindível para as crianças a partir dos oito anos, se bem
que recomendo leitura acompanhada dos oito aos doze, pois há cenas que podem
chocar as mais sensíveis.
Nota: as imagens das ilustrações originais do livro foram por mim fotografadas.
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