As famílias são consideradas espaços privados, onde ninguém se deve meter, por
isso, há problemas que se ignoram. Alguns desses problemas são muito graves. É
o caso da violência doméstica, por exemplo, calado durante tantos anos, mas que
hoje, felizmente, já é discutido, tentando-se assim contribuir para a sua
diminuição.
Um outro problema ainda ignorado pela sociedade é o abuso sexual de
crianças. Considera-se ser esse um fenómeno raro, que só acontece esporadicamente,
ou com crianças raptadas por pedófilos e/ou psicopatas. Contudo, uma comissão
criada na Alemanha pela Ministra da Família, Katarina Barley, a fim de
estudar o assunto, tem chegado a conclusões chocantes: o abuso sexual de
crianças é um fenómeno de massas! A comissão calcula que, em cada turma de
estudantes (incluindo o ensino básico), há uma ou duas crianças vítimas de
abuso sexual!
A esmagadora maioria destes lamentáveis casos dá-se no seio familiar. Os
prevaricadores são os próprios pais, avôs, padrastos, irmãos mais velhos e, em casos
raros, as próprias mães.
Os parentes que têm conhecimento dos abusos, normalmente as mães, calam-se,
tornando-se assim cúmplices do crime. Muitas delas estão emocional e economicamente
dependentes dos prevaricadores; outras não sabem a quem se dirigir, a fim de
denunciar a situação. Por isso, a comissão diz ser necessário criar mecanismos
de ajuda, para que essas mães considerem o bem-estar da sua criança mais
importante do que o desmembramento da família. Na verdade, a consciência de que
a mãe, ou um outro parente, sabe do sucedido e nada faz para que termine, causa
um sofrimento gigantesco na vítima. É importantíssimo, considera a comissão,
quebrar este silêncio.
Os efeitos psicológicos destes abusos prolongam-se pela vida fora e
exprimem-se, entre outras formas, na escolaridade interrompida, no abandono
constante do emprego, em novos abusos (a vítima transforma-se em abusador) e em
tentativas de suicídio. A comissão tem entrevistado centenas de adultos que
foram vítimas deste tipo de abuso na infância e na juventude e quase todos
vivem na pobreza, desempregados.
Trata-se, por isso, de um grande problema social que urge denunciar. É
minha convicção que um estudo deste género em Portugal não deveria chegar a
conclusões muito diferentes.
"outras não sabem a quem se dirigirem," Esta frase soa-me muito mal ao ouvido. Acha que o infinito pessoal está bem? Esclareça-me. Obrigado.
ResponderEliminarFoi uma frase em que tive dúvidas, escrevi primeiro "dirigir" e numa última revisão, antes de publicar, nem sei bem porquê, escrevi "dirigirem".
ResponderEliminarConfesso que tenho problemas com o infinitivo pessoal. Na altura em que andava a estudar, não se usava e mesmo o meu pai, que era professor primário, dizia que um infinitivo nunca se conjugava. Há vários anos, porém, que se costuma conjugar, o que me causa muitas dúvidas.
Por mim, até corrigia, porque "dirigir" também me soa melhor, mas vou primeiro ver se esclareço a questão.
Ora bem, já corrigi, depois de consultar alguém que percebe da matéria. A frase tem duas orações. O sujeito da primeira é "outras"; o sujeito da segunda é indeterminado, marcado pelo "se", que se usa sempre com a terceira pessoa do singular (com em "que se usa sempre").
ResponderEliminarObrigada pela sua chamada de atenção.