Por outro lado, deu a conhecer mais absurdos. As meninas parece que são mais cultas. Leem e vão ao museu, enquanto os rapazes só pensam em brincar. Engraçado, como o conhecido humorista (que eu aliás aprecio) usa isto como justificação para dizer que os blocos, afinal, não são tão maus. Afinal, os meninos também aparecem em desvantagem!
Simplesmente ridículo!
Eu gostava de saber porque se publicam livros separados, se, na escola, aprendem todos com os mesmos. Porque não incluir tudo no mesmo livro? Dava mais liberdade criativa. O menino e a menina podiam ser protagonistas em exercícios diferentes e, nalguns, principalmente nos que dizem respeito à leitura e às idas ao museu, deviam atuar os dois juntos, em equipa. Seria muito mais pedagógico.
Há muita gente que acha tratar-se de um tema sem importância, posição da qual discordo totalmente. Livros são sempre um tema sério, sejam infantis, ou não. Acresce dizer que a Porto Editora compreendeu perfeitamente a recomendação da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, não se queixou de ter sido vítima de censura e está disposta a rever os conteúdos. Para mim, isto é a aceitação do erro (o que pressupõe a sua existência) e vontade de o corrigir.
Da Porto Editora saíram dois bloquinhos,
Um p’ró menino, outro p’rá menina.
Engane-se quem julgue que eram miminhos,
Choveu indignação abaixo e acima.
Labirintos simples para princesas,
Mas só porque as ilustradoras eram diferentes.
E os revisores, senhores, estão ceguetas?
Precisarão de novas lentes?
Retire-se do mercado, da loja, do caneco!
Ressurge a Velha Senhora de lápis na mão.
É a censura do politicamente correto.
Pois, minha gente, o Trump é que tem razão!
Meninas dedicam-se à leitura e vão ao museu,
Meninos só querem brincar com carrinhos.
«De que se queixam?», faz o humorista escarcéu,
Afinal, a todos se desanca nos lombinhos.
E assim vai a educação em Portugal,
Quando comem todos, é uma alegria.
Os estereótipos aí estão, de pedra e cal,
O negócio à frente da pedagogia.
Meninos e meninas juntos a apreciar pintura?
Um bloco para todos, como é na escola?
Onde já se viu, aqui não há mistura!
Diz o lusitano, esse grande estarola.
Erguem-se vozes num medo desalmado,
Que mundo é este, tão descaracterizado,
Sem meninas dóceis, a mexer os tachos?
E nem um piropo, nem um “apalpanço”,
Para alegrar os malandrões do rapinanço?
Construam-se muros, teçam-se farpados!
Guardemos o nosso jardim à beira-mar plantado!