Crónica de minha autoria, publicada no jornal Portugal Post nº 278 - Agosto
2017:
Todos conhecemos o problema do envelhecimento da população e estávamos
convencidos de que seria irreversível. Maior foi o meu espanto ao constatar que
a Alemanha enfrentará, em breve, uma falta de professores. Prevê-se um
verdadeiro boom de alunos, nos
próximos quinze anos: em 2025, haverá mais 4%, passando a 8% em 2030. Boa ou má
notícia?
Em Portugal, toda a gente se queixa da falta de crianças e do fechamento
de escolas, em dimensões que se podem considerar dramáticas em certas regiões
do interior. Criam-se agrupamentos escolares cada vez maiores e
descaracterizados e protestam os pais, cujos filhos têm de mudar para uma
instituição de ensino longe de casa. Além disso, clama-se que haverá cada vez
mais reformados, enquanto diminui o número de pessoas no ativo, o drama de uma
Europa envelhecida, onde mal nascem crianças e as despesas com os cuidados aos
mais velhos explodem.
Na Alemanha, os nascimentos têm vindo a aumentar. O boom de alunos não se deve, contudo, apenas ao desejo dos alemães
de constituir família, mas também ao grande número de crianças e jovens entre o
quase milhão e meio de refugiados e migrantes que, desde 2015, entraram neste
país e que, pelos vistos, ajudarão a rejuvenescer a população e a equilibrar o
sistema de reformas. Quem sabe, certa Europa ainda se venha a arrepender por se
ter deixado vencer pelo medo, cercando-se de arame farpado.
Os responsáveis pelo sistema de ensino não parecem, porém, tão
otimistas, alegando que será difícil enfrentar o problema da falta de
professores, aliado à necessidade de construir mais escolas e às obras de renovação
de outras já existentes. As escolas do ensino primário - da 1ª à 4ª classe - vão
ser as primeiras afetadas. Um estudo da Bertelmanns
Stiftung diz que, em 2025, poderão ser necessários mais 24.000 professores e
quase 2.400 novas escolas. O problema arrastar-se-á para os níveis de ensino
seguintes, onde, até 2030, terão de ser criados mais 27.000 lugares.
Tudo isto vai exigir um
investimento enorme, para o qual o governo alemão e as autarquias não se sentem
preparados. Especialistas dizem inclusive que, além de professores e escolas,
serão necessários mais assistentes sociais e psicólogos. Não se pode entender a
escola como no passado, estamos a viver uma época de grandes mudanças e novos
desafios. Além da integração de crianças e jovens com deficiência nas escolas
“convencionais”, projeto que tem sido levado à prática nos últimos anos, há que
trabalhar para uma boa integração dos alunos oriundos de diversos países e
culturas.
No meio disto tudo, pergunto-me
o que se passará na cabeça de certos políticos, quando aconselham as pessoas a
terem mais filhos, sem explicar como as famílias os poderão sustentar e educar
de maneira satisfatória, para já não falar no investimento que teria de ser
feito no ensino, a fim de inverter a situação, num tempo em que se fecham
escolas.
De qualquer
maneira, considero este boom de
alunos uma boa notícia e espero que se reaja a tempo de colmatar a falta de
professores e de escolas. Seria interessante verificar que a Alemanha (sempre a
Alemanha) estaria, daqui a uns anos, a colher os frutos de uma população mais
jovem, enquanto outros países, que resolveram fechar as suas fronteiras, se
continuariam a queixar do envelhecimento da sua população.
Nota: os números foram tirados de um artigo do Zeit online:
http://www.zeit.de/politik/deutschland/2017-07/lehrermangel-steigende-schuelerzahlen-bertelsmann-studie-zehntausende-lehrer-fehlen
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