“Não se esqueça, disse-me uma vez, de que o amor pelos animais não acontece naturalmente aos humanos se não se predispuserem a prestar-lhes atenção e a aceitar o amor que eles têm por nós. É como o amor de Deus, inteiro e desinteressado, e por essa razão, tanto mais difícil de perceber e abraçar, um amor sem negócio, sem contrapartida, sem condições.
Também ele não soubera o que eram os animais até muito tarde
e, tal como sucede a todos os que os descobrem, tratara-se de uma verdadeira
conversão, como aquela que se exprime na parábola de S. Paulo na estrada de
Damasco: de súbito acende-se dentro de nós uma claridade que nunca mais é
possível apagar. Há muita gente que não gosta de animais nem de pessoas, o que
é compreensível; há gente que gosta de animais mas não de pessoas, o que é
lógico; mas não há ninguém que não goste de animais e goste de pessoas, esta
última hipótese não pode verificar-se, porque quem não consegue experimentar o
amor sem causa não pode encontrar em parte alguma causa bastante para o amor”.
In O Verão de 2012,
Paulo Varela Gomes, p. 52 (Tinta-da-china, 2013)
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