Este livro, que a autora Virgínia do Carmo dedica aos filhos, «raízes da
minha coragem», não podia ter título mais adequado. Os poemas são, porém,
apenas simples na facilidade com que os lemos, pois não deixam de encerrar uma grande
profundidade em si.
Solidão
Penso na
solidão das canoas.
Nas sombras
anónimas. E no ventre
onde se
geram todas as coisas
que não são
de ninguém.
Há versos que nos deixam perplexos, pela sua clareza:
E não sei
porquê, resisto de pé.
À espera de
ser ruína.
In Esperança
Esperança é aliás a ideia subjacente, apesar da melancolia que cruza todo o
livro:
Atravessa-me
um deserto.
Com os
gritos construo uma ponte sobre a areia.
In Deserto
Uma esperança que finalmente se consubstancia naqueles a quem a autora
dedicou a obra:
Dos meus
filhos, o que nasceu primeiro,
tem um
acordar sempre preso nos olhos.
Uma janela
sempre aberta aos pássaros.
In Filho primeiro
Tem lábios discretos
e palavras que nunca diz.
Ama com
cuidado. Sabe coisas que desconhece.
In Filho segundo
E são deste «filho segundo» os encantadores desenhos que ilustram muitos
dos poemas.
Virgínia do Carmo é igualmente editora, com muito espaço para a poesia. Vale,
por isso, a pena ir ver o que se vai passando na Poética Edições.
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