Foto © Horst Neumann |
Escrevo hoje sobre uma iniciativa de que tomei conhecimento, numa escola
primária de uma pequena cidade alemã chamada Lehrte, e que achei que devia
existir em todas as escolas. Trata-se de uma caixa de correio, decorada com uma
espécie de ursinho sorridente e de braços abertos, apelidado de Comedor de Preocupações ou Problemas (em alemão Sorgenfresser). O princípio é simples:
qualquer aluno pode escrever sobre aquilo que o aflige, sejam as notas, sejam
problemas na família, zangas com os colegas, ou qualquer outra coisa que lhes
passe pela cabeça. Depois é só enfiar o papel num sobrescrito, fechá-lo e metê-lo
na tal caixa. Quem quiser, pode escrever o seu nome, solicitar uma resposta ou
até uma conversa com as responsáveis por esta iniciativa. Mas os sobrescritos
também podem ser anónimos, tendo sido a carta escrita com o único propósito de
desabafar.
A iniciativa pertence a uma professora desta escola, em colaboração com uma
assistente social do bispado de Hildesheim, que também está à disposição de
professores e pais. As duas analisam as cartas juntas, atuam conforme as
necessidades das crianças e ainda não deixaram de se espantar com os
pensamentos e as preocupações manifestadas por alunos da primária sobre a
família, a amizade e, por vezes, até sobre o mundo e Deus. As crianças podem
confiar em que os seus segredos não serão violados, tem de ser mesmo assim, para que
se atrevam a dar esse passo de passar para o papel aquilo que lhes vai na alma.
Escrever é desabafar. E dar a carta ao Comedor
de Preocupações é livrar-se destas.
Porém, as cartas não contêm apenas problemas. As duas responsáveis
constatam, com agrado, que algumas crianças aproveitam o método para contar
sobre as suas alegrias e até sobre coisas boas que aconteceram a algum amigo ou
amiga. Tanto as tristezas, como as alegrias da vida, devem ser partilhadas.
Penso que iniciativas destas são impagáveis, no bem que fazem às crianças. Além
de lhes dar oportunidade de analisarem os seus problemas, treinam a escrita. Era
tão bom que todas pudessem contar com iniciativas destas…
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