Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

8 de agosto de 2017

O Comedor de Preocupações



Foto © Horst Neumann


Escrevo hoje sobre uma iniciativa de que tomei conhecimento, numa escola primária de uma pequena cidade alemã chamada Lehrte, e que achei que devia existir em todas as escolas. Trata-se de uma caixa de correio, decorada com uma espécie de ursinho sorridente e de braços abertos, apelidado de Comedor de Preocupações ou Problemas (em alemão Sorgenfresser). O princípio é simples: qualquer aluno pode escrever sobre aquilo que o aflige, sejam as notas, sejam problemas na família, zangas com os colegas, ou qualquer outra coisa que lhes passe pela cabeça. Depois é só enfiar o papel num sobrescrito, fechá-lo e metê-lo na tal caixa. Quem quiser, pode escrever o seu nome, solicitar uma resposta ou até uma conversa com as responsáveis por esta iniciativa. Mas os sobrescritos também podem ser anónimos, tendo sido a carta escrita com o único propósito de desabafar.

A iniciativa pertence a uma professora desta escola, em colaboração com uma assistente social do bispado de Hildesheim, que também está à disposição de professores e pais. As duas analisam as cartas juntas, atuam conforme as necessidades das crianças e ainda não deixaram de se espantar com os pensamentos e as preocupações manifestadas por alunos da primária sobre a família, a amizade e, por vezes, até sobre o mundo e Deus. As crianças podem confiar em que os seus segredos não serão violados, tem de ser mesmo assim, para que se atrevam a dar esse passo de passar para o papel aquilo que lhes vai na alma. Escrever é desabafar. E dar a carta ao Comedor de Preocupações é livrar-se destas.

Porém, as cartas não contêm apenas problemas. As duas responsáveis constatam, com agrado, que algumas crianças aproveitam o método para contar sobre as suas alegrias e até sobre coisas boas que aconteceram a algum amigo ou amiga. Tanto as tristezas, como as alegrias da vida, devem ser partilhadas.

Penso que iniciativas destas são impagáveis, no bem que fazem às crianças. Além de lhes dar oportunidade de analisarem os seus problemas, treinam a escrita. Era tão bom que todas pudessem contar com iniciativas destas…


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