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No passado dia 22 de março, o canal franco-alemão ARTE
mostrou um docudrama
sobre a vida do famoso dramaturgo, poeta e compositor Bertolt Brecht. O realizador,
Heinrich Breloer,
é especialista neste tipo de filme, onde a ficção é apoiada por imagens reais e
entrevistas a pessoas que conheceram a personagem em questão. Com esta técnica,
Heinrich Breloer realizara já dois docudramas que fizeram história na TV alemã:
um sobre o movimento terrorista alemão RAF e outro sobre a família de Thomas
Mann.
Heinrich Breloer pesquisou sobre a vida de Brecht e trabalhou
no filme durante dez anos. A sua intenção era mostrar a pessoa por trás do
artista, pois, como ele diz, estas personalidades, que gozam da espécie de proteção
que se costuma dedicar a monumentos, foram pessoas como todos nós, com os seus
defeitos e virtudes.
Bertolt Brecht intitulava-se a si próprio, desde muito
jovem, de génio. Temos de admitir que tinha razão. O génio, porém, convivia
lado a lado com um manipulador de mulheres. Apesar de casado (e apesar de não ter figura de galã, bem pelo contrário), Brecht teve relações
íntimas com quase todas as atrizes das suas peças e outras colaboradoras da sua
companhia de teatro, vendo-se obrigado a mentir compulsivamente, a fim de manter
a complicada teia de casos amorosos. Também não se pode dizer que tenha sido um
bom pai, pois pouco participava na vida dos filhos que teve dentro e fora do
casamento. Tudo isto a sua mulher, a atriz Helene Weigel, aguentava. E mais! Ela
era o verdadeiro pilar do “Berliner Ensemble”, a companhia de teatro do marido.
Bertolt Brecht foge do nazismo, primeiro, para Praga,
depois, para Viena, Zurique, Paris e, em 1941, acaba por se exilar nos Estados
Unidos. Vê-se, porém, obrigado a distanciar-se da perseguição aos comunistas,
instituída por McCarthy, e regressa à Alemanha, estabelecendo-se em Berlim Leste.
A sua conivência com o regime ditatorial da RDA é
outro ponto negativo da sua personalidade. Brecht mantinha uma conta na Suíça, possuía
passaporte austríaco (o que lhe permitiria, ao contrário do que acontecia com
os seus compatriotas, deixar o país se o desejasse) e silenciou sobre as
torturas e a perseguição a cidadãos críticos do regime comunista, já que foi
este que lhe realizou o sonho de possuir o seu próprio teatro.
A obra, porém, vale por si, independentemente do
carácter do seu criador, algo que vamos aprendendo a aceitar. Ficam cada vez
mais longe os tempos em que se consideravam os génios seres humanos exemplares,
destituídos de qualquer mácula.
Cristina, não quero de modo algum fazer a defesa de Brecht, mas acho que além de devermos separar o artista do homem, há também a diferença temporal (a nossa sociedade nada tem a ver com a dele). No "outro tempo", o dele, em que quase tudo era permitido aos homens. Infelizmente o comportamento dele era normal nesse tempo (a pegada do macho...).
ResponderEliminarEm relação à cegueira ideológica, se ainda hoje acontece, imagino que nesses tempos era ainda bem mais complicado separar o trigo do joio.
abraço
Obrigada pelo teu comentário, Luís.
ResponderEliminarDe qualquer maneira, não deixa de ser interessante conhecer um pouco da faceta privada de certas personalidades que consideramos como sendo (ou tendo sido) perfeitas.
É por isso que eu não quero saber coisas demais sobre os autores de que gosto, Cristina. :)
ResponderEliminarÉ uma opção que entendo e respeito.
ResponderEliminarO problema é que eu sou uma curiosa em relação à natureza humana ;)