Sophie Scholl
As memórias de Traudl Junge, secretária de Hitler, serviram de base ao filme A Queda (Der Untergang), no qual o falecido Bruno Ganz interpreta o ditador nazi. No início de 1945, Traudl Junge foi uma das colaboradoras do Führer admitida no bunker construído por baixo da chancelaria do III Reich. No filme, ela é interpretada pela atriz Alexandra Maria Lara.
Terminada a guerra, os Aliados ilibaram-na de culpas, muito devido à sua idade. Traudl Junge tinha 22 anos, quando começou a trabalhar para Hitler, e 25, quando a guerra terminou. Pouco antes da sua morte, vi partes de uma entrevista sua, na televisão. Dizia ela que, durante muito tempo, assim acreditara ter sido: Hitler sempre fora simpático com ela, nova demais para tomar verdadeira consciência do carácter e das atrocidades cometidas em nome dele. Um dia, porém, numa placa de homenagem a Sophie Scholl, não conseguiu desviar o olhar da data de nascimento: 9 de Maio de 1921. Traudl Junge, nascida a 16 de Março de 1920, era um ano mais velha. E, pela primeira vez, aceitou aquilo que se esforçava por recalcar: a idade não pode servir de desculpa, ou pretexto, para fechar os olhos.
Sophie Scholl com o irmão Hans (à esquerda) e Christoph Probst
Foto: George (Jürgen) Wittenstein/akg-images
À semelhança do seu irmão Hans, dois anos e meio mais velho, Sophia Magdalena „Sophie“ Scholl começou por se agradar do ideal comunitário propagado pelo partido nazi e ingressou, com treze anos, na BDM, uma organização de raparigas equivalente à Juventude Hitleriana. Os pais nunca simpatizaram com o regime de Hitler e não viam com bons olhos estas opções dos filhos. Mas deram-lhes liberdade de escolha. Passados dois anos, depois de terem conhecido as organizações por dentro, tanto o filho, como a filha, lhes viraram as costas.
A leitura das obras de Santo Agostinho de Hipona parece terem sido essenciais para uma nova orientação na vida de Sophie Scholl, em defesa dos valores cristãos. E, em Maio de 1942, ingressou nos cursos de Biologia e Filosofia na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique, onde o irmão estudava Medicina. Assim entrou ela em contacto com opositores do nazismo.
Sophie ingressou no grupo “Rosa Branca” (Weiße Rose), participando na criação e distribuição dos folhetos, apesar de o irmão ter tentado afastá-la da oposição ativa ao regime. O sucesso do grupo, alargando os seus contactos e fazendo chegar os seus escritos a outras cidades, chamou a atenção da Gestapo. A temida polícia política iniciou uma averiguação quanto à origem dos escritos e, em Fevereiro de 1943, já desconfiava do meio estudantil de Munique.
A 18 desse mês, um funcionário da Universidade Ludwig-Maximilian descobriu os irmãos Scholl a distribuírem os panfletos. Depois de serem interrogados pela reitoria da Universidade, foram entregues à Gestapo. Das atas do interrogatório, consta que Sophie Scholl tudo terá feito para garantir serem ela e o irmão os mais altos responsáveis pelos textos distribuídos, a fim de proteger outros membros do grupo.
Fotografia da Gestapo de Sophie Scholl, tirada depois da sua captura a 18 de Fevereiro de 1943
Os dois foram condenados à morte apenas quatro dias depois e a sentença, por decapitação (guilhotina), executada nesse mesmo 22 de Fevereiro de 1943. Sophie Scholl não tinha ainda completado os 22 anos.
Os irmãos Scholl, mas principalmente Sophie, já serviram de inspiração a vários filmes, livros, peças de teatro e exposições. Na Alemanha, há inúmeras ruas e praças com o seu nome, assim como quase duzentos liceus.