Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

20 de junho de 2011

Catarina de Bragança



Comecei a ler este livro com grande expectativa. Não só a autora é conhecida, como trata da vida de uma mulher que fez História, caso raro, infelizmente, em tempos idos.

O sub-título, "A coragem de uma infanta portuguesa que se tornou rainha de Inglaterra", também me cativou. Aqui está uma mulher de armas, pensei eu, que enfrenta o desconhecido.

O desconhecido, ela enfrentou, mas apenas por não ter escolha. Coragem? Isabel Stilwell dá-nos a imagem de uma mulher muito submissa. Embora se refira, várias vezes, que Catarina tinha poder de decisão, esse, infelizmente, pouco nos é mostrado por acções da própria, que se limita a suportar o sofrimento que lhe causa um marido infiel, que ela ama. Além disso, é dado pouco relevo aos hábitos que ela introduziu na corte inglesa, como o do chá e do doce de laranja, características, hoje, tipicamente inglesas.

O carácter de Charles II de Inglaterra é, a meu ver, um problema. Tanto é amoroso e atencioso com a sua esposa, a ponto de se sentar à sua cabeceira, horas a fio, quando ela está doente, como a sujeita às maiores humilhações, por exemplo, entrar de braço dado com uma das suas amantes, numa festa da corte, com a rainha sentada no trono. Catarina desmaia. E, depois de recobrar a consciência, só pensa na vergonha que a mãe dela sentirá, se vier a saber do percalço!

As situações humilhantes são frequentes, como o prova uma frase, já para o final do romance: Mais uma vez, Charles não tivera a menor consideração pelos seus sentimentos, nem sequer o respeito mínimo exigido a uma esposa (pág. 482).

Como explicar, então, a ironia suprema de um pensamento de Charles, depois de 17 anos de casamento, quando Catarina, através de intrigas, é envolvida em tentativas de assassínio do rei: O rei olhou-a de soslaio, cheio de pena: que mais teria de sofrer esta pobre mulher, que todos tinham tratado tão mal desde que há 17 anos desembarcara em Portsmouth? (pág. 558). Então, não foi ele quem a fez sofrer mais?

Era impossível não ter pena desta portuguesinha, sempre tão corajosa, sempre tão disposta a culpar-se a si mesma e a desculpar os outros (pág. 424, opinião de lady Suffolk, uma das amigas da rainha). Esta pena da portuguesinha é uma constante. É verdade que as mulheres, naquela altura, eram submissas. Mas uma heroína de romance, uma portuguesa que se tornou rainha de Inglaterra, não deveria oferecer mais ao leitor, do que ser objecto da pena de todos?

3 comentários:

  1. Ela esgotou toda a sua sorte ao ter casado com um Rei Inglês... as mulheres, todas as mulheres, deviam ter dessa coragem, a de sofrer pelos seus maridos.

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  2. Estás outra vez a ser irónico, implume?

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