Nos comentários à minha entrevista, no Destante, ficou mais uma vez provado que o romance histórico é, injustamente, pouco explorado em Portugal. Como antónio ganhão - o implume vem dizendo, aqui no Andanças (e reiterou no Destante) na nossa História ainda impera a visão transmitida pelo Estado Novo. Manuel Cardoso aproveita a tirada e lembra que os nossos reis eram pessoas como nós. Não há seres humanos diferentes só por terem uma coroa na cabeça ou por constarem dos livros mais ou menos catequéticos que se escreveram nesse período tão negro da nossa história.
O facto de haver poucos autores a dedicarem-se a este tipo de literatura tem, como consequências, que os leitores portugueses se dediquem aos romances históricos estrangeiros e que sejam autores igualmente estrangeiros a escrever sobre a História de Portugal.
Comentário de Ana C. Nunes: Estranhamente tenho a ideia de que há muita gente em Portugal que gosta de ler romances históricos, mas talvez não sejam romances históricos sobre a história portuguesa.
Comentário de Luís Miguel: Acho que fazem falta mais autores portugueses a escrever romances históricos, principalmente sobre a nossa História, de que não nos podemos deixar de orgulhar. Pessoalmente, é o meu género favorito e fico orgulhoso quando leio livros de autores estrangeiros que mencionam factos sobre a nossa História.
Comentário de Luís Miguel: Acho que fazem falta mais autores portugueses a escrever romances históricos, principalmente sobre a nossa História, de que não nos podemos deixar de orgulhar. Pessoalmente, é o meu género favorito e fico orgulhoso quando leio livros de autores estrangeiros que mencionam factos sobre a nossa História.
O Manuel Cardoso, que conduziu a entrevista, lembra ainda, numa das perguntas, que foi com um romance histórico que se projectou o nosso Prémio Nobel, José Saramago.
Há várias maneiras de escrever e abordar o romance histórico: com mais ou menos ficção; dando mais relevo a certos factos do que a outros; partindo dos factos históricos para desenvolver um mistério, ou mesmo, uma fantasia; dando mais relevo à parte humana, em detrimento dos acontecimentos, etc. A literatura anda muitas vezes ligada ao cinema e eu posso dizer que me apaixonei pela narrativa histórica com o filme Amadeus. Foi, na altura, aliás, muito criticado, por Milos Forman dar uma versão da vida de Mozart que nada teria a ver com a realidade. Que interessa isso? Trata-se de uma ficção, o filme é soberbo e eu, além de ficar fascinada com aquele tipo de enredo, fiquei fã da música de Mozart, que, até aí, mal conhecia.
Além disso, não precisamos de nos cingir às personagens e aos heróis conhecidos. Como fez Saramago, podemos focar a vida de pessoas "comuns", num determinado contexto histórico. Estou a preparar a escrita de um romance que transmita o impacto que acontecimentos como a Batalha de Ourique e o Cerco de Lisboa causaram no reino que se estava a formar. Principalmente este último acontecimento terá provocado uma verdadeira revolução no Portugal jovem, quando circulou a notícia de que cruzados estrangeiros vinham ajudar D. Afonso Henriques a conquistar Lisboa. Milhares de pessoas deslocaram-se, a partir do que hoje é o Norte do país, em direcção àquela que viria a ser a nossa capital. Não só guerreiros se aventuraram, outros homens, juntos com mulheres e crianças, não esquecendo os prelados, partiram em busca de melhores perspectivas. No século XII, abundavam aqueles que nada tinham a perder em deixar a terra que os vira nascer, na esperança de alcançarem riquezas. Muitos viajaram de barco, junto com os cruzados, a partir do Porto, mas outros terão ido a pé, pela antiga estrada romana, que, de Braga, passava no Porto, Coimbra e Santarém, até Lisboa. É minha intenção apresentar esses acontecimentos sob a perspectiva de quem os viveu de perto, de quem sentiu essa esperança de uma mudança de vida.
O Cerco de Lisboa, por Roque Gameiro |
Existe pouca área de oportunidade efectiva. Apenas, numa grande livraria, o romance histórico que não esteja na berra consegue alguma visibilidade. Mais de 50% do espaço nobre de exposição está ocupado com a meia dúzia de autores consagrados.
ResponderEliminarTambém é verdade.
ResponderEliminarCristina, comprei um livro que lhe pode interessar, se tiver qualidade.
ResponderEliminarAo contrário do que é meu hábito comprei o livro sem qualquer informação sobre o conteúdo; comprei-o por se tratar de um romance histórico sobre Afonso III, o pai do "seu" D. Dinis.
O livro chama-se "O Segredo de D. Afonso III" de Manria Antonieta Costa. Não sei se conhece...
Ainda não comecei a ler (ando às voltas com um Coetzee). Mas depois digo qualquer coisa sobre o livro.
Gostei deste seu post e mais uma vez agradeço imenso a sua colaboração com o Destante. A Cristina é preciosa :)
Já ouvi falar desse livro, mas não o comprei porque há que comprimir a lista de desejos. Mesmo assim, fartei-me de gastar dinheiro ;)
ResponderEliminarAguardo com muito interesse a sua opinião.
Obrigada :)