Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
30 de agosto de 2011
Opinião Afonso Henriques IV
Iceman, apreciador de romances históricos, publicou, no nlivros, a sua opinião sobre Afonso Henriques - o Homem, dizendo: sem dúvida, o melhor (romance histórico) que li escrito por um(a) autor(a) português(a).
Outros excertos:
Simplesmente admirável! O que dizer de um romance histórico que me fez vibrar como poucos o conseguiram?
Num trabalho extraordinário de reconstrução da época, a autora é minuciosa e exacta nos factos históricos, nunca os adultera e sabe colocá-los na vida do dia a dia, construindo um percurso longo que culmina com o reconhecimento pelo Papa Alexandre III do título de Rei através da bula Manifestis Probatum.
Espero que isto sirva de motivação para outros apreciadores de romances históricos ;-)
28 de agosto de 2011
A Desilusão de Judas
O primeiro romance de António Ganhão, editado pela Lua de Marfim, vai ser lançado a 6 de Setembro pelas 18:30 no El Corte Inglés de Lisboa.
A Desilusão de Judas conta-nos a história de um serial killer, um normalíssimo pai de família, habitante do Barreiro e empregado no contencioso de um banco. Junto com a esposa, colabora na sua paróquia e frequenta cursos sobre a Bíblia. É, aliás, à Bíblia que ele vai buscar a sua inspiração, pois, na sua ideia, ao matar, ele está a libertar as suas vítimas, o verter do sangue enche o cálice simbólico. O critério de escolha das vítimas não é sempre o mesmo, tanto pode ser a colega que se atreve a ser encantadora, ou um gerente de balcão bem vestido, de "cabelo penteadinho puxado para trás e fixado com gel", que lhe provoca desprezo.
Um outro forte deste romance, na minha opinião, é a descrição das relações de trabalho, das conversas entre colegas, da maneira como se trata um caso de irregularidade financeira no banco e do quotidiano em Lisboa e seus arredores. António Ganhão é exímio nestes tipos de caracterização, tirando as suas reflexões. Aqui, um excerto:
"Estava fascinado. Talvez devesse fazer isso mais vezes. Levantar-me muito cedo e apanhar o barco de manhã com todo aquele povo, homens e mulheres que a sorte condenara a um emprego indiferenciado, desprotegido de um acordo colectivo de trabalho, gente sem direitos, desqualificada da vida. Gente meio adormecida, mulheres a fazerem renda, malha, lendo revistas cor-de-rosa e sonhando sonhos feitos da vida dos outros. O glamour da nossa alta sociedade como promessa de um mundo melhor, inacessível, apenas tangível, por breves instantes, a quem lia esse tipo de revistas.
Alguns estudantes reviam as suas matérias, outros tentavam compensar noites mal dormidas. Lá ao fundo, junto à entrada do barco, um grupo de homens jogava à sueca rodeados por um coro de penduras que assistiam.
Seria um deles se a vida me tivesse sido madrasta. Sim, não se pode trabalhar num café sem que a vida nos tenha sido madrasta.
Não admirava que este povo precisasse de doses massivas de futebol e telenovelas brasileiras, que, paulatinamente, haviam roubado o peso ao fado. Era o sonho acessível. A alegria das novelas subjugando a tristeza do fado.
(...)
Os poucos jornais, sobre os quais os homens dormitavam, eram na sua maioria desportivos; dava-se por satisfeito este povo que se considerava invariavelmente mais culto do que os emigrantes que nos demandavam e vigiava com uma acentuada desconfiança e alguma dose de reprovação os costumes estrangeiros. Seguros, não havia em nós uma sede de cultura, estávamos saciados. Não admirava que fossemos um povo tranquilo. Era toda esta sabedoria que nos permitia ser assim.
Foi esse o povo que deu novos mundos ao mundo."
António Ganhão, um escritor a descobrir, nesta rentrée literária. Tem um blogue, Em Livro, e colabora no 2711.
26 de agosto de 2011
Cerco e Conquista de Lisboa III
As negociações entre D. Afonso Henriques e os cruzados foram difíceis, pois estes exigiam riquezas que o monarca sabia não lhes poder dar.
Numa primeira reunião com os comandantes estrangeiros, o rei logo deixou claro não saber quão ricos eram os habitantes de Lisboa. Além disso, e em caso de conquista, pretendia evitar um saque, a fim de proteger a população moçárabe, que era tão cristã quanto eles. Em compensação, e como todos podiam ver, a região era fértil, de bom clima e, àqueles que escolhessem ficar em Portugal, ele daria terras e senhorios. De resto, o seu era um reino ainda pobre, situação que se agravava com a guerra contra os infiéis.
As exigências dos cruzados foram transmitidas por D. Pedro de Pitões, bispo do Porto, as negociações decorriam em latim entre os prelados portugueses e os estrangeiros:
- Em primeiro lugar, exigem todas as posses dos mouros vencidos.
- Querem deixar a minha gente de fora? - admirou-se Afonso.
- Em segundo lugar - prosseguiu o bispo, - insistem no saque, ao qual qualquer vencedor tem direito, e do qual também excluem os portugueses. Em terceiro, todos aqueles que ponderam a hipótese de ficar em Portugal, exigem manter os hábitos, direitos e costumes das suas terras, assim como isenção de portagens para os seus navios e produtos em todos os nossos portos e cidades. Sem falar, naturalmente, das terras e dos senhorios que vós lhes prometestes.
Apesar de não estar de acordo com todas as exigências, D. Afonso Henriques acabou por assinar um pacto. E distribuiu as tropas pelo terreno:
Os portugueses montaram o seu acampamento num morro a noroeste de Lisboa, cujo sopé estava rodeado por dois ribeiros, local que lhes permitia vigiar a alcáçova, a couraça, com a respectiva torre de vigia, e parte da muralha ocidental.
Ingleses e franceses posicionaram as suas tendas no cimo da colina a oeste da cidade, à frente da qual se estendia a extensa planície. Os dois ribeiros que rodeavam o morro dos portugueses juntavam-se nessa planura, formando o esteiro, cujas águas se vinham a confundir com as do Tejo. Estes cruzados vigiavam, assim, todo o pano de muralha ocidental, o que incluía a porta principal e a torre albarrã, na ponta sudoeste. Além disso, as suas naus controlavam a ribeira ocidental, uma praia de pescadores.
Os flamengos e os alemães estabeleceram-se a oriente de Lisboa, também sobre um cerro. Fechavam o círculo e as suas embarcações vigiavam a ribeira oriental, que era o porto por excelência. O pano de muralha perante eles incluía duas portas: al-maqbara, junto à alcáçova, assim chamada por dar acesso ao cemitério islâmico, e al-hamā, protegida por uma torre albarrã. Al-hamā eram os banhos públicos, que davam o nome, não só à porta, como a um bairro de mercadores nas suas imediações. À semelhança do lado ocidental, havia um arrabalde incrustado nas rochas que suportavam as muralhas.
Esta imagem não está bem enquadrada e, apesar de aumentada, as legendas são difíceis de ler. Mas mostra muito bem como se procedeu ao cerco. Foi retirada do livro Conquista de Lisboa, de Pedro Gomes Barbosa (Tribuna da História, 2004, Colecção Batalhas de Portugal).
A cidade de Lisboa, naquela altura, quase se resumia à zona do castelo de São Jorge, Alfama, Santa Justa e a Costa do Castelo. Onde hoje se situa a Praça do Comércio, havia um esteiro, que se alargava ao desaguar no Tejo (lembram-se da História do Cerco de Lisboa, de Saramago?). Nessa zona, havia uma praia de pescadores e, aqui, vêmo-la ocupada com os barcos dos cruzados. Fora de muralhas, havia dois arrabaldes: o ocidental (maior) e o oriental.
À esquerda, sobre o Monte Fragoso, vê-se o acampamento dos ingleses; a noroeste, no Monte de Sant'Ana, circundado por dois ribeiros, temos o acampamento português; a vermelho, o cemitério islâmico (almocavar), junto do qual se deu uma primeira escaramuça; à direita, sobre o Monte de São Vicente (mais ou menos onde hoje se situa a igreja e o Panteão Nacional), o acampamento dos flamengos e alemães. 24 de agosto de 2011
Cerco e Conquista de Lisboa II
Lisboa mourisca, por Martins Barata |
O cruzado Konrad e os seus companheiros avistam a Lisboa árabe pela primeira vez:
Do cimo de um cerro, avistaram o lado ocidental de Lušbūna, com o seu arrabalde incrustado nas rochas que serviam de alicerce às muralhas. As casas deste bairro estavam construídas de maneira a formar um conjunto hermético, coladas umas às outras, sem aberturas para o lado exterior.
As muralhas da cidade desciam em socalcos, desde o ponto mais alto, a norte, onde dominava a torre quadrangular da alcáçova, até à margem do Tejo. Torres mais pequenas, todas quadradas, reforçavam as muralhas em vários pontos. No topo noroeste dos muros da alcáçova, um pano de muralha prolongava-se pela encosta abrupta, terminando numa torre, que delimitava e protegia o arrabalde.
Nas ameias, entre os merlões quadrados, adivinhavam-se as sentinelas mouras, mas os cruzados encontravam-se fora do alcance dos seus tiros de besta, pois uma vasta e verde pradaria separava-os da cidade. Essa pradaria era atravessada por um curso de água, aos pés do arrabalde, que a norte se dividia em duas ribeiras, rodeando o sopé de uma colina. Para sul, alargava-se num esteiro, juntando-se ao Tejo. A foz do esteiro parecia ser um porto de abrigo e nos seus areais havia um estaleiro, mas ninguém trabalhava nas embarcações, que jaziam abandonadas. Era difícil de dizer quanta gente ainda se encontrava no arrabalde, com as casas assim construídas, em jeito de muralha. Ainda junto à foz do esteiro, no extremo sudoeste da cidade, avistava-se uma grande torre albarrã, adiantada algumas jardas das muralhas e a estas ligadas por um passadiço.
O pano de muralha junto ao porto fundeava em terreno baixo, chegava quase ao rio, e dava a ver o casario de Lušbūna, que se distribuía pela colina. Konrad e os outros quedaram-se boquiabertos. Esta cidade era bem diferente das que eles conheciam, em que a maioria das casas era feita de madeira e onde, durante quase todo o ano, reinava a humidade, o frio e a escuridão. Lušbūna parecia ser feita de brancura e de luz. As paredes caiadas reflectiam a luminosidade do sol e a grande mesquita, a última construção que se avistava, antes de a muralha engolir a cidade baixa, ostentava sete cúpulas cobertas de telhas vidradas a verde, a cor do Profeta Maomé. Também o minarete adjacente, forrado a azulejos da mesma cor, cintilava ao sol.
Konrad, originário de Colónia, alimentava a esperança de que as negociações com D. Afonso Henriques falhassem, pois ansiava alcançar a Terra Santa. Mas, neste primeiro contacto, a Lisboa mourisca exerceu um estranho fascínio sobre ele:
Toda aquela luminosidade atraía Konrad de uma maneira irresistível. A cidade, à qual ele tanto desejava virar as costas, parecia enfeitiçá-lo, querer engoli-lo...
Konrad deixou de ouvir as conversas excitadas dos seus companheiros e foi descendo a colina, como que em transe, até chegar à planície verdejante. Os seus olhos fixaram-se numa grande Porta, rasgada numa das torres quadradas que guarneciam as muralhas, nas imediações da mesquita. À esquerda desta Porta, começava o arrabalde e, à direita, estendia-se, até à torre de vigia na ponta sudoeste, mais um pequeno bairro, na zona ribeirinha.
De repente, Konrad teve a impressão de que as grossas portadas de madeira chapeadas em ferro se abriam! Devem ser brincadeiras deste sol diabólico, pensou, enquanto piscava os olhos.
Sentiu necessidade de refrescar as têmporas e caminhou até à margem do esteiro, aproximando-se perigosamente do arrabalde, no qual ninguém sabia dizer se havia sentinelas por sobre os terraços das casas que formavam uma verdadeira muralha. Alheio ao perigo, Konrad humedeceu a testa e os cabelos. E logo uma brisa o refrescou.
Observou as embarcações abandonadas, que flutuavam sobre as ondas suaves. Era altura de maré cheia e o Tejo, forçado pelo oceano, despejava água no esteiro, alargando-o cada vez mais e originando a doce ondulação, que embalava as faluas dos pescadores. Konrad teve vontade de se deitar numa delas. Que sonhos lhe traria aquele doce embalar?
O esteiro galgava a areia das suas margens a olhos vistos. Numa questão de momentos, Konrad encontrava-se enfiado na água até aos joelhos.
Mas permanecia tranquilo. Tudo à sua volta se quedava estranhamente calmo e sereno..
22 de agosto de 2011
Cerco e Conquista de Lisboa I
Muralhas de Santarém |
A notícia da chegada dos cruzados ao Porto terá apanhado D. Afonso Henriques ainda na região de Santarém, onde se quedava a solidificar o seu poder. O acontecimento causou grande euforia no reino, o que terá contribuído para que certos barões do norte, ofendidos por não terem participado na operação de Santarém, esquecessem as suas divergências com o monarca, pois todos eles participaram no cerco de Lisboa.
A notícia da conquista de Santarém espalhou-se rapidamente e, como Lourenço e Gonçalo tinham previsto, chegavam-lhes rumores do descontentamento dos barões do norte. Principalmente o alferes-mor Mendo de Bragança e o seu pai Fernando Mendes, o cunhado colérico de Afonso, estavam indignados.
Mas eis que, a 16 de Junho, se deu um acontecimento que provocou uma reviravolta e uma euforia nunca vista em todo o reino: uma armada de cruzados, duzentas galés, com cerca de quinze mil homens, atracou no Porto. E inúmeros portugueses prontificavam-se a participar no cerco a Lisboa.
Afonso mandou o Sousão às terras do norte, reunir os homens e convencer um ou outro barão mais renitente. Em direcção à cidade do Porto, com uma missiva dirigida ao bispo D. Pedro de Pitões, partiu Soeiro Viegas, o meio-irmão de Lourenço, filho do segundo casamento do falecido Egas Moniz.
D. Afonso Henriques não esteve no Porto, foi o bispo daquela cidade que ficou encarregado de convencer os estrangeiros a, pelo menos, fazerem uma paragem na foz do Tejo. Em A Cruz de Esmeraldas, apresento o discurso do bispo sob a perspectiva dos cruzados, pois um alemão de nome Konrad, originário da cidade de Colónia, é uma das personagens principais. Junto com o irmão Johann, de dezasseis anos, que possui bons conhecimentos de latim, por ter vivido num mosteiro, e mais dois amigos, ele assiste à pregação do bispo:
Na manhã seguinte, o bispo do Porto fez a sua pregação no largo da Sé, o ponto mais alto da cidade. Tratava-se de uma ocasião solene, o prelado tinha a seu lado o arcebispo de Braga, representante máximo da Igreja Portuguesa, os bispos de Viseu e Lamego e um fidalgo cavaleiro em representação d’el-rei D. Afonso Henriques.
Como o largo da Sé não era suficientemente grande para todos os quinze mil cruzados e D. Pedro Pitões pregava em latim, língua que apenas uma minoria entendia, a maioria resolveu esperar nos barcos pelos seus prelados, que lhe transmitiriam a mensagem do bispo. Konrad e os seus amigos pertenciam, no entanto, aos poucos mais de mil homens que assistiam à pregação, pois Johann não tinha dificuldades em traduzi-la.
- O bispo chama a atenção para as obrigações dos bons cristãos - declarou o rapaz. - Diz que devemos colocar o serviço de Deus e da Cristandade à frente dos nossos desejos materiais. Portugal não é um reino rico, gasta muito na guerra contra os infiéis.
- Isto não começa nada bem - comentou Hadwig. - Estarão eles à espera que os ajudemos por nada?
- Ele pede-nos que não estejamos ansiosos por prosseguir viagem - continuou Johann. - Diz que o combate aos hereges aqui nesta terra é tão importante e tem tanto efeito sobre os nossos pecados quanto os combates na Terra Santa.
Os outros olharam-se desconfiados e Konrad acabou por sussurrar:
- Em Speyer, Bernardo de Claraval só garantiu absolvição para os combatentes na Terra Santa.
- Mas estes mouros daqui não são infiéis como os outros? - indagou Gunther.
Os outros encolheram os ombros e já Johann fazia sinal para que se calassem, enquanto ouvia atentamente o latim de D. Pedro Pitões.
- Lembra-nos que as lutas contra os infiéis fazem parte de uma “guerra justa” - disse por fim. - Cruzados dignos desse nome não podem recusar a luta contra os infiéis, neste caso, os mouros cruéis. Mais diz que as lutas entre cristãos, não só enfraquecem a Cristandade, como são condenadas por Deus e pela Igreja. Combater só é pecado quando não tem o consentimento de quem dispõe da legítima autoridade: a Igreja.
Neste ponto, alguns dos cruzados resolveram intervir. Exigiam saber com que recompensas podiam afinal contar, caso libertassem Lušbūna das mãos dos infiéis. O bispo do Porto retorquiu que se tratava de uma cidade rica, mas que ele não estava autorizado a negociar a recompensa. Por isso, pedia-lhes em nome d’el-rei que velejassem até à foz do Tejo, onde D. Afonso Henriques se encontraria com eles.
Como já era de esperar, o inglês Hervey de Glanville e o seu prelado Gilbert de Hastings puseram-se ao lado dos portugueses. E no fim todos concordaram em navegar até Lušbūna, pois qual era o mal em ouvir o que D. Afonso Henriques tinha para lhes oferecer?
E assim se iniciou o grande movimento:
No Porto e em Gaia, a febre da conquista aumentava de dia para dia. Principalmente, as gentes mais pobres, incluindo mulheres e crianças, que nada tinham a perder, estavam dispostas a partir para as terras longínquas e desconhecidas, junto à foz do Tejo, na esperança de uma vida melhor. Muitos deles viajaram nos barcos dos cruzados, assim como o bispo do Porto e os restantes prelados, pois os estrangeiros acabaram por concordar em velejar até ao estuário do Tejo, a fim de negociarem pessoalmente com D. Afonso Henriques.
Nota: a azul, extractos de Afonso Henriques - o Homem, a castanho de A Cruz de Esmeraldas.
21 de agosto de 2011
D. João Peculiar
Já aqui falei na importância de D. João Peculiar, arcebispo de Braga durante mais de trinta anos, o grande obreiro do processo da independência de Portugal. O Prof. José Mattoso diz-nos, na sua biografia de D. Afonso Henriques, que, sem ele, o nosso primeiro não teria atingido o seu objectivo.
JDACT publicou igualmente um texto sobre este importante arcebispo, baseado no estudo de Carl Erdmann, Das Papsttum und Portugal im ersten Jahrhundert der portugiesischen Geschichte:
Só agora se pode apreciar devidamente o papel extraordinário desempenhado por um homem, cuja acção não foi ainda julgada devidamente. Refiro-me ao arcebispo João Peculiar de Braga, que suportou sobre os seus ombros, durante quatro decénios, quase todas as negociações com Roma. Se Portugal conseguiu por fim, graças ao reconhecimento por parte da cúria, assegurar a sua, independência política e autonomia eclesiástica em relação aos estados vizinhos, isso pode considerar-se obra sua.
19 de agosto de 2011
A Vida na Idade Média
Tanto no campo, como na cidade, o aborto era prática do quotidiano, mas feito em segredo (...) As receitas eram as do costume: beberagens de camomila, gengibre e fetos, assim como operações perigosíssimas. Sobre os motivos que levavam a tal atitude, pouco se sabe (...), muitos seriam consequência de uma violação. Aqui, a Igreja contradizia-se, pois condenava a violação, mas, ainda mais, o aborto. A infertilidade, assim como o aborto espontâneo, eram considerados da exclusiva responsabilidade da mulher.
Como lidar com o nascimento de gémeos? Não eram eles a prova de que a mãe fora infiel ao marido, pois teria sido fecundada por dois homens? Ou era um dos recém-nascidos o sósia do original, gerado pelo Diabo? E qual deles? Pouco se sabe sobre o nascimento de gémeos, mas o facto de eles raramente fazerem parte da árvore genealógica dos nobres aponta para o infanticídio - um crime gravíssimo, mais grave do que o aborto, mas talvez a única possibilidade de salvar a honra da família.
O cabelo solto nas mulheres era um símbolo sexual, significava a tentação feminina, como a da Eva, de Maria Madalena, ou da rameira. As mulheres tinham de cobrir o cabelo em público, velar por ele como se de um bem pessoal se tratasse. Ainda no início do século XX, as mulheres que saíssem de casa sem chapéu ou lenço na cabeça podiam ficar com a reputação estragada.
A opinião sobre as mulheres era ditada por prelados, isto é, homens solteiros, os únicos a quem se dava crédito, no mundo cristão. E a opinião era arrasadora: a mulher era uma obra do Diabo, que incitava ao pecado, o símbolo da impureza, provada pelo sangue que ela expelia, a loba cruel e insaciável, consumidora de homens.
Excertos de Das Leben im Mittelalter, de Robert Fossier, título original: Ces gens du Moyen Âge (tradução minha, do alemão). Existe a versão portuguesa, com o título Gente da Idade Média:
Como lidar com o nascimento de gémeos? Não eram eles a prova de que a mãe fora infiel ao marido, pois teria sido fecundada por dois homens? Ou era um dos recém-nascidos o sósia do original, gerado pelo Diabo? E qual deles? Pouco se sabe sobre o nascimento de gémeos, mas o facto de eles raramente fazerem parte da árvore genealógica dos nobres aponta para o infanticídio - um crime gravíssimo, mais grave do que o aborto, mas talvez a única possibilidade de salvar a honra da família.
O cabelo solto nas mulheres era um símbolo sexual, significava a tentação feminina, como a da Eva, de Maria Madalena, ou da rameira. As mulheres tinham de cobrir o cabelo em público, velar por ele como se de um bem pessoal se tratasse. Ainda no início do século XX, as mulheres que saíssem de casa sem chapéu ou lenço na cabeça podiam ficar com a reputação estragada.
A opinião sobre as mulheres era ditada por prelados, isto é, homens solteiros, os únicos a quem se dava crédito, no mundo cristão. E a opinião era arrasadora: a mulher era uma obra do Diabo, que incitava ao pecado, o símbolo da impureza, provada pelo sangue que ela expelia, a loba cruel e insaciável, consumidora de homens.
Excertos de Das Leben im Mittelalter, de Robert Fossier, título original: Ces gens du Moyen Âge (tradução minha, do alemão). Existe a versão portuguesa, com o título Gente da Idade Média:
17 de agosto de 2011
16 de agosto de 2011
Catedral de Toledo
À hora marcada, e sob a protecção de Afonso Peres Farinha, prior da Ordem do Hospital, que o sentou à sua frente sobre o seu cavalo, Dinis juntou-se à comitiva do avô. Seguiam-nos mais três freires daquela Ordem militar e o cavaleiro trovador João Soares Coelho.
Percorreram as ruas tortuosas de Toledo, até chegarem ao local de uma obra gigantesca, onde se moviam centenas de trabalhadores, alguns sobre andaimes em alturas alucinantes. D. Afonso explicou aos cavaleiros portugueses que ali se construía a nova catedral. Seu pai Fernando III, que reunira as coroas de Leão e Castela, mandara demolir a velha mesquita, que servira durante quase dois séculos de catedral, e iniciara, há cerca de quarenta anos, a construção da nova, ao estilo das recentes catedrais francesas de Saint Denis, Notre-Dame de Paris, de Reims ou de Amiens. Tratava-se de uma nova técnica de construção, baseada em arcos ogivais, que permitia alturas incríveis se perder leveza e elegância.
O arquitecto Pedro Pérez informou os visitantes que aquele templo, como habitualmente em forma de cruz, mediria 180 côvados de longitude por 90 de eixo. Dinis não podia calcular o valor daquelas medidas, mas mirava boquiaberto o exterior da cabeceira da catedral, praticamente pronta.
14 de agosto de 2011
Somos um livro
Manuel de Sousa publicou este bonito texto:
Somos um livro de histórias com uma duração invariável, que depende dos anos da nossa vida e das peripécias que a constituem.
No livro da vida há acção, romance, mistério, investigação, drama, tudo em formato de poesia e de prosa.
Somos o reflexo dos livros que lemos e que gostamos e as nossas acções assemelham-se aos livros, por mais impossíveis e imprevisíveis que possam ser.
A vida é recheada de páginas e de cores, dependentes das nossas tendências e frustrações e de histórias ou contos que não são contados até ao fim.
Somos vítimas de um enredo, em que, de leitores, passamos a personagens principais ou figurantes. A nossa vida pode tornar-se num livro descritivo ou simplesmente sintético em que pouco há para contar.
Os livros não mentem sobre aquilo que somos. Da próxima vez que leres um livro e disseres que gostaste muito, lembra-te que ele é o espelho do teu ser.
M. Brunner
Somos um livro de histórias com uma duração invariável, que depende dos anos da nossa vida e das peripécias que a constituem.
No livro da vida há acção, romance, mistério, investigação, drama, tudo em formato de poesia e de prosa.
Somos o reflexo dos livros que lemos e que gostamos e as nossas acções assemelham-se aos livros, por mais impossíveis e imprevisíveis que possam ser.
A vida é recheada de páginas e de cores, dependentes das nossas tendências e frustrações e de histórias ou contos que não são contados até ao fim.
Somos vítimas de um enredo, em que, de leitores, passamos a personagens principais ou figurantes. A nossa vida pode tornar-se num livro descritivo ou simplesmente sintético em que pouco há para contar.
Os livros não mentem sobre aquilo que somos. Da próxima vez que leres um livro e disseres que gostaste muito, lembra-te que ele é o espelho do teu ser.
M. Brunner
13 de agosto de 2011
Abuso sexual em lares da Igreja Católica
Já aqui falei do Jornal Católico do bispado de Hildesheim, que assino desde Fevereiro passado. Acima de tudo, interessa-me saber se a Igreja Católica ainda tem algo para oferecer à sociedade.
Fui agradavelmente surpreendida. Ao contrário do que acontece em Portugal, a Igreja Católica alemã faz um grande esforço por mostrar a sua utilidade. E vai conseguindo. Desde problemas de racismo, à pobreza, exclusão social e novas maneiras de celebrar as missas, tem sido muito interventiva, até quando se trata de defender os direitos dos animais, ou o ambiente, coisa de que nunca me apercebi, no nosso país. Além disso, o jornal aborda temas normalmente incómodos, como o abuso sexual em lares católicos.
Impressionou-me muito o testemunho de Rudolf Kastelik e gostaria de o partilhar aqui, mostrar como essas vivências perseguem as suas vítimas uma vida inteira. Rudolf Kastelik viveu, entre os 5 e os 19 anos, em oito lares diferentes. Porque mudou tantas vezes de sítio e porque é que, às vezes, o seu irmão gémeo vivia com ele e, outras, não, não sabe. Mas, em todos os lares, uns piores, outros melhores, ele foi vítima de abusos sexuais. Além disso, viu-se sujeito a regras absurdas de educação, baseadas na violência e na humilhação.
Rudolf Kastelik recalcou estas vivências durante 50 anos, não falou disso a ninguém, nem sequer à sua mulher, com medo de que não acreditassem nele, de que não o levassem a sério. Muitas pessoas reagem com frases do tipo: "deixa lá, já passou, esquece", menorizando os problemas. Ainda para mais, quando a maior parte dos responsáveis pelos abusos já faleceram. Kastelik contrapõe: "Hitler também está morto. Deveremos, por isso, ignorar as atrocidades que cometeu?"
Rudolf Kastelik tem sofrido, a vida inteira, de pesadelos, fobias e ataques de pânico. Quando, recentemente, começaram a surgir as notícias sobre o abuso sexual nos lares, ele viu-se confrontado com o seu passado. Começou a fazer psicoterapia e a escrever um livro autobiográfico, em que relata a sua história. Nessas alturas, vem tudo ao de cima, sente-se como se estivesse a viver tudo, mais uma vez. Por isso, não consegue escrever mais do que uma hora por dia e nunca o faz à noite, pois os fantasmas perseguem-no no seu sono.
Rudolf Kastelik ainda espera algo da Igreja, hoje em dia? Sim, nas suas próprias palavras, o mais importante é que o levem a sério e acreditem nele. Tem procurado o contacto com as instituições onde esteve e fala com os actuais responsáveis sobre o assunto. Parece ser esta a solução que ele encontrou para lidar com o problema, consciente de que a cura para o seu mal é impossível, a única esperança consiste no alívio dos sintomas.
Fui agradavelmente surpreendida. Ao contrário do que acontece em Portugal, a Igreja Católica alemã faz um grande esforço por mostrar a sua utilidade. E vai conseguindo. Desde problemas de racismo, à pobreza, exclusão social e novas maneiras de celebrar as missas, tem sido muito interventiva, até quando se trata de defender os direitos dos animais, ou o ambiente, coisa de que nunca me apercebi, no nosso país. Além disso, o jornal aborda temas normalmente incómodos, como o abuso sexual em lares católicos.
Impressionou-me muito o testemunho de Rudolf Kastelik e gostaria de o partilhar aqui, mostrar como essas vivências perseguem as suas vítimas uma vida inteira. Rudolf Kastelik viveu, entre os 5 e os 19 anos, em oito lares diferentes. Porque mudou tantas vezes de sítio e porque é que, às vezes, o seu irmão gémeo vivia com ele e, outras, não, não sabe. Mas, em todos os lares, uns piores, outros melhores, ele foi vítima de abusos sexuais. Além disso, viu-se sujeito a regras absurdas de educação, baseadas na violência e na humilhação.
Rudolf Kastelik recalcou estas vivências durante 50 anos, não falou disso a ninguém, nem sequer à sua mulher, com medo de que não acreditassem nele, de que não o levassem a sério. Muitas pessoas reagem com frases do tipo: "deixa lá, já passou, esquece", menorizando os problemas. Ainda para mais, quando a maior parte dos responsáveis pelos abusos já faleceram. Kastelik contrapõe: "Hitler também está morto. Deveremos, por isso, ignorar as atrocidades que cometeu?"
Rudolf Kastelik tem sofrido, a vida inteira, de pesadelos, fobias e ataques de pânico. Quando, recentemente, começaram a surgir as notícias sobre o abuso sexual nos lares, ele viu-se confrontado com o seu passado. Começou a fazer psicoterapia e a escrever um livro autobiográfico, em que relata a sua história. Nessas alturas, vem tudo ao de cima, sente-se como se estivesse a viver tudo, mais uma vez. Por isso, não consegue escrever mais do que uma hora por dia e nunca o faz à noite, pois os fantasmas perseguem-no no seu sono.
Rudolf Kastelik ainda espera algo da Igreja, hoje em dia? Sim, nas suas próprias palavras, o mais importante é que o levem a sério e acreditem nele. Tem procurado o contacto com as instituições onde esteve e fala com os actuais responsáveis sobre o assunto. Parece ser esta a solução que ele encontrou para lidar com o problema, consciente de que a cura para o seu mal é impossível, a única esperança consiste no alívio dos sintomas.
11 de agosto de 2011
Adolescência
Muitos pais possuem parâmetros de educação duvidosos para a adolescência dos filhos, vivem na ilusão de que a separação e o distanciamento inevitáveis podem acontecer livres de conflitos. Porque hão-de surgir conflitos, se os pais desejam o melhor para os filhos?
Infelizmente, a ideia do que é melhor não é coincidente entre as duas partes. Muitas vezes, os pais têm objectivos irracionais, se, por exemplo, vêem nos filhos uma extensão narcisista de si próprios, se a separação lhes custa demasiado e tentam manter os filhos consigo, ou se tencionam definir, eles próprios, a profissão dos filhos, ou, mesmo, toda a sua vida.
Os conflitos existem, porém, mesmo quando os dois pontos de vista coincidem, porque um adolescente, para se distanciar dos pais, tem forçosamente de assumir uma posição contrária. Na verdade, se o período de adolescência dos filhos decorre cheio de harmonia, é um sinal de que o desenvolvimento de autonomia da criança já sofreu danos, ou o adolescente não possui a persistência adequada para a idade, ou tem demasiado medo da separação, ou vê-se obrigado a subjugar-se a uma autoridade extrema. Nestes casos, os filhos ficam, normalmente, durante muito tempo ligados aos pais, muitos não se conseguem desligar nunca.
Se, por outro lado, os conflitos atingem grandes proporções, traumáticas mesmo, pode-se dar o caso de o adolescente sair muito cedo de casa, mantendo, no entanto, um desejo muito grande de se tornar a ligar aos pais.
O melhor a fazer será os pais defenderem os seus próprios pontos de vista, quando se sentem incomodados com as actividades dos filhos, sem, no entanto, tentarem impô-los. A sua preocupação pelo futuro dos rebentos deve ser, porém, patente. Neste caso, há boas probabilidades de, mais tarde, os filhos se interessarem pelo ponto de vista dos pais e procurarem o seu conselho, em várias fases da sua vida.
Kleine psychoanalytische Charakterkunde, de Karl König (tradução minha).
Kleine psychoanalytische Charakterkunde, de Karl König (tradução minha).
9 de agosto de 2011
8 de agosto de 2011
Porque vim ao mundo?
Os jornalistas alemães Antje Starost e Hans Helmut Grotjahn fizeram um filme-documentário à volta do tema: "Porque vim ao mundo" (Warum ich auf der Welt bin). Uma pergunta que todos nós nos fazemos, desta vez, respondida por crianças. Os dois acompanharam sete crianças de países diferentes durante vários meses, filmaram-nas em vários momentos da sua vida e ocuparam-se do tema. Interessantes são as respostas dadas pelos petizes.
O alemão Jonathan, de dez anos, andando pela Berlim gelada do Inverno, sentencia: "O ser humano é, ao mesmo tempo, criação e ameaça. Ele pode causar a destruição da Terra, ou fazer dela um mundo melhor para se viver."
Basile, um parisiense de nove anos, não tem dúvidas: "Eu vim ao mundo porque a mamã e o papá encontraram a felicidade."
Chrysanti, uma menina de sete anos, que vive na Alemanha, mas cuja família é originária de Creta, diz que não tem pressa de crescer. Na sua ideia, o coração é uma bateria com duração de, mais ou menos, 50 anos. "Mas, se nos alimentarmos bem e vivermos de maneira saudável, ela pode aguentar mais, até cem anos."
Vanessa, uma equatoriana de 11 anos, pertencente à tribo índia dos Otavalena, sente-se marginalizada pela sua origem e pensa muito sobre isso. Na escola, fazem, muitas vezes, pouco dela, por ela usar as vestes tradicionais da sua tribo. "Não entendo o racismo", diz ela, quando considera que muitos dos meninos que troçam dela têm, eles próprios, sangue índio, pois são filhos de casais mistos.
As crianças dão-nos lições muito importantes, só temos de reservar tempo para as ouvir.
O documentário pode ser alugado pelas escolas alemãs. Aqui, pode ver um trailer com legendas em inglês e aqui uma sinopse em língua castelhana.
7 de agosto de 2011
Baixa-Mar
De Teresa Ribeiro, Delito de Opinião
E agora digam que eles não têm alma! |
Parado no areal, o cão olhava um ponto difuso, indiferente ao movimento dos veraneantes. A expressão era sofrida. Representava a dor física e psicológica com uma intensidade difícil de surpreender em rostos humanos. A uns metros um gato esquálido parou a avaliá-lo, mas logo se desinteressou, voltando à sua vidinha de trinca-espinhas desenrascado. Até para os felinos com um terço do seu tamanho se tinha tornado irrelevante. Dizem que os animais não têm consciência de si, mas este sabia-se transparente. Caminhava entre as pessoas sem as encarar com a desenvoltura de um agente camuflado e de facto nem para ele olhavam, apesar de ser grande.
Do toldo segui-o. Cheguei mesmo a rodar o tronco para o ver passar, emocionada com a minha própria compaixão. Mas também a mim o cão ignorou e quando se perdeu no horizonte meti a minha bestial sensibilidade onde ele me mandou meter.
"O meu apartamento não é assim tão grande e o gato não o consentiria lá em casa", ainda argumentei antes de me voltar para apanhar um banho de sol.
5 de agosto de 2011
Os cães do Laboratório
Na Alemanha, de um modo geral, respeitam-se mais os animais, como seres vivos que dividem o planeta connosco. Os cães, por exemplo, estão em todo o lado, nas férias, com os donos, quer seja no campo, ou na praia, são bem-vindos na maior parte dos hotéis. Ninguém acha estranho se eu entrar com a minha cadela no autocarro, no comboio, em lojas onde não haja produtos alimentares expostos, ou até, no restaurante. Claro que também há casos de abandono e maus tratos. E há algo de que normalmente não se fala, mas que, por isso, não deixa de existir: cães usados em laboratórios de experiências.
O jornal local do "concelho" (Landkreis) de Stade, onde vivo, publicou uma reportagem sobre uma senhora que adoptou três cadelas beagle oriundas de um laboratório. Nas suas palavras, muita gente hesita em dar este passo, na crença de que os animais têm traumas irreparáveis ou tenham sido infectados por doenças susceptíveis de se transmitirem aos humanos. Na verdade, a maior parte deles é usada para testar rações ou desparasitantes.
De qualquer maneira, é preciso ter paciência e tempo para lhes dar uma boa educação, pois, embora já sejam adultos, ainda não aprenderam coisas básicas, como não fazer as necessidades dentro de casa, ou andar com trela. Mas a senhora está encantada com o poder de adaptação, a vontade de aprender e a fidelidade das cadelas que levou para casa.
Através delas, a senhora travou amizade com um casal que também adoptou um desses animais. Encontram-se todas as semanas, num campo de treino, onde os cães, além de serem educados, têm oportunidade de conviverem uns com os outros.
Ao deparar com a boa disposição das duas senhoras na fotografia, uma de 64, outra de 74 anos, atingiu-me um outro pensamento. Elas são felizes com os seus animais e, por sua vez, estes encontraram um lar, onde são amados. Numa altura em que se fala tanto do isolamento dos idosos, não será esta uma boa ideia para dar um novo sentido à própria vida, ajudando inocentes?
Dá que pensar, gente!
Ainda para mais, quando se lêem coisas destas:
Um estudo realizado pela Associação de Psicologia dos Estados Unidos mostrou que os animais de estimação podem contribuir para melhorar a condição emocional das pessoas. Os resultados mostraram que os participantes que tinham animais de estimação, como cão e gato, possuíam maior qualidade de vida, maior equilíbrio emocional e maior capacidade de se relacionar com outros, quando comparados com os que não tinham animais.
O jornal local do "concelho" (Landkreis) de Stade, onde vivo, publicou uma reportagem sobre uma senhora que adoptou três cadelas beagle oriundas de um laboratório. Nas suas palavras, muita gente hesita em dar este passo, na crença de que os animais têm traumas irreparáveis ou tenham sido infectados por doenças susceptíveis de se transmitirem aos humanos. Na verdade, a maior parte deles é usada para testar rações ou desparasitantes.
De qualquer maneira, é preciso ter paciência e tempo para lhes dar uma boa educação, pois, embora já sejam adultos, ainda não aprenderam coisas básicas, como não fazer as necessidades dentro de casa, ou andar com trela. Mas a senhora está encantada com o poder de adaptação, a vontade de aprender e a fidelidade das cadelas que levou para casa.
Através delas, a senhora travou amizade com um casal que também adoptou um desses animais. Encontram-se todas as semanas, num campo de treino, onde os cães, além de serem educados, têm oportunidade de conviverem uns com os outros.
Ao deparar com a boa disposição das duas senhoras na fotografia, uma de 64, outra de 74 anos, atingiu-me um outro pensamento. Elas são felizes com os seus animais e, por sua vez, estes encontraram um lar, onde são amados. Numa altura em que se fala tanto do isolamento dos idosos, não será esta uma boa ideia para dar um novo sentido à própria vida, ajudando inocentes?
Dá que pensar, gente!
Ainda para mais, quando se lêem coisas destas:
Um estudo realizado pela Associação de Psicologia dos Estados Unidos mostrou que os animais de estimação podem contribuir para melhorar a condição emocional das pessoas. Os resultados mostraram que os participantes que tinham animais de estimação, como cão e gato, possuíam maior qualidade de vida, maior equilíbrio emocional e maior capacidade de se relacionar com outros, quando comparados com os que não tinham animais.
4 de agosto de 2011
Até um dia
O coração inquieto é a raiz da peregrinação. No ser humano vive uma saudade que o força para além da rotina do quotidiano e da estreiteza do seu ambiente habitual.
Ao deparar com esta frase de Santo Agostinho de Hippo, ou Hipona, lembrei-me de uma cena da "Viagem", de Tiago R Cardoso:
“- Raios, quem me estará ligar a esta hora?”
Aquele toque de telefone e dada a hora, tinha-lhe parecido um grito nos ouvidos. Quase sem abrir os olhos tacteou a mesinha de cabeceira em busca do culpado de tanto barulho.
“- Estou…”, disse arrastando a voz, era uma forma de transmitir desde logo o incomodo do telefonema.
“- Desculpa lá jovem….”
“- És tu, que se passa? É grave?”
“- Não pá, apenas para te dizer que vou embora.”
Aquilo serviu de mola para ele se levantar, achou que não tinha ouvido bem.
“- Repete, vais embora?”
“- Sim jovem…”, o interlocutor fez uma pausa como que a ganhar fôlego, “Acordei há pouco tempo e quando me olhei no espelho não me reconheci…”, fez-se silencio.
“- Essa não percebi.”
“- Sabes, olhei no espelho e ali estava alguém que não me dizia nada, era eu mas não era eu.”
“- Lá estás tu, outra vez?”
“- Desta vez fui mais longe, peguei de seguida num papel e tentei escrever coisas relevantes que eu tenha feito, não enchi sequer meia folha. Resumindo, consegui escrever a minha vida numa assentada.
Nasci, andei na escola, arranjei um trabalho, depois outro, vivo o dia a dia como toda a gente, quer dizer, vivo é uma questão de opinião.
“- É pá, então não exageres”, tentou aliviar a conversa.
“-Estou deslocado de tudo, não me enquadro em nada, sinto-me incompleto, mesmo as coisas que gostaria de fazer não as consigo fazer. Acho que chegou a altura de procurar o meu “Eu”, por isso vou embora.”
“- Estás mas é deprimido”, arrependeu-se de seguida mas nem teve tempo de compor a frase.
“- Não estou deprimido, sinto-me apenas incompleto, a vida tem de ser mais do que isto, mais do que trabalhar e sonhar com um dia melhor, a vida é para ser vivida e não um mar de sonhos adiados.”
“- Então que vais fazer?”, perguntou já compreendendo a situação, naquele momento ele também estava no mesmo barco.
“- Sei lá, vou viajar, procurar algo novo, sei lá… arriscar ler um Saramago, escrever, fotografar, sei lá… conhecer algo diferente da rotina que tenho.”,
“- Se queres saber? Fazes bem!”, avançou já com o assunto totalmente encaixado, “E não te esqueças de ir dando noticias.”
“- Evidentemente que sim, até um dia."
3 de agosto de 2011
Nas Entrelinhas - Star-FM
A rubrica Nas Entrelinhas, da Rádio Star-FM, de 2 de Agosto, incluiu uma pequena conversa comigo, acerca do livro Afonso Henriques - o Homem. Tentei trazer para aqui a gravação, mas não consegui. Para quem quer ouvir, clicar aqui e escolher na lista (para já, está em primeiro lugar, pois foi a última transmissão).
2 de agosto de 2011
"The Last Place on Earth"
Incrível, esta blogosfera!!!
Há coisas que nos marcam, que nunca esquecemos. Perante este post, lembrei-me da série que tinha visto, há uns bons anos. Já não me lembrava do nome, apenas das imagens da luta pela sobrevivência de Robert Scott e seus companheiros. Depois de uma pesquisa rápida, encontrei a fotografia tirada à chegada ao Pólo Sul e escrevi um texto sobre isso.
Há dias, o comentador António Guerreiro deixou lá uns links. Fiquei céptica, pensei que ele apontasse para algum documentário mais recente. Mas não! Trata-se realmente da "minha" série, intitulada "The Last Place on Earth", produzida em 1985 (Wikipedia). Entretanto, encontrei o DVD, que se pode adquirir na Amazon.
Revi imagens que pensei que nunca mais veria e vieram-me outros aspectos à memória. Por exemplo, que eu era a única, lá em casa, a ver essas séries inglesas. Às vezes, perguntavam-me o que é que eu estava a ver, mas, quando eu explicava, encolhiam os ombros, desinteressados. Chegavam a olhar-me com aquela expressão perplexa de quem diz: e perdes tempo com isso? Felizmente, não calhou mais ninguém querer assistir a outro programa à mesma hora, eu não tinha a mínima hipótese contra o meu pai ou o meu irmão. Só havia um aparelho de TV lá em casa e ainda não tínhamos vídeo-gravador. Outros tempos...
Já agora, deixo também o link, onde se pode ver o videoclip de entrada e excertos da série. Vale a pena ver o genérico, com apenas um minuto e dez segundos de duração. Embora um dos comentadores critique a música, (sinal do tempo em que a série foi produzida, penso eu) gosto do jogo de imagens.
Dedico este post também à Teresa, apreciadora das "boas séries inglesas".
P:S. uma chamada de atenção para o blogue Montalvo e as Ciências do Nosso Tempo, um excelente divulgador de cultura, que há muito faz parte da barra lateral aqui do Andanças. Já tentei felicitar o seu autor, JDACT, mas o blogue não permite comentários e não há nenhum contacto de email. Enfim, pode ser que ele leia este meu texto. Parabéns, caro JDACT!
Há coisas que nos marcam, que nunca esquecemos. Perante este post, lembrei-me da série que tinha visto, há uns bons anos. Já não me lembrava do nome, apenas das imagens da luta pela sobrevivência de Robert Scott e seus companheiros. Depois de uma pesquisa rápida, encontrei a fotografia tirada à chegada ao Pólo Sul e escrevi um texto sobre isso.
Há dias, o comentador António Guerreiro deixou lá uns links. Fiquei céptica, pensei que ele apontasse para algum documentário mais recente. Mas não! Trata-se realmente da "minha" série, intitulada "The Last Place on Earth", produzida em 1985 (Wikipedia). Entretanto, encontrei o DVD, que se pode adquirir na Amazon.
Revi imagens que pensei que nunca mais veria e vieram-me outros aspectos à memória. Por exemplo, que eu era a única, lá em casa, a ver essas séries inglesas. Às vezes, perguntavam-me o que é que eu estava a ver, mas, quando eu explicava, encolhiam os ombros, desinteressados. Chegavam a olhar-me com aquela expressão perplexa de quem diz: e perdes tempo com isso? Felizmente, não calhou mais ninguém querer assistir a outro programa à mesma hora, eu não tinha a mínima hipótese contra o meu pai ou o meu irmão. Só havia um aparelho de TV lá em casa e ainda não tínhamos vídeo-gravador. Outros tempos...
Já agora, deixo também o link, onde se pode ver o videoclip de entrada e excertos da série. Vale a pena ver o genérico, com apenas um minuto e dez segundos de duração. Embora um dos comentadores critique a música, (sinal do tempo em que a série foi produzida, penso eu) gosto do jogo de imagens.
Muito obrigada, António Guerreiro!
Dedico este post também à Teresa, apreciadora das "boas séries inglesas".
P:S. uma chamada de atenção para o blogue Montalvo e as Ciências do Nosso Tempo, um excelente divulgador de cultura, que há muito faz parte da barra lateral aqui do Andanças. Já tentei felicitar o seu autor, JDACT, mas o blogue não permite comentários e não há nenhum contacto de email. Enfim, pode ser que ele leia este meu texto. Parabéns, caro JDACT!
1 de agosto de 2011
Entrevista (2)
É já amanhã, 2 de Agosto, que vai ser transmitida a minha entrevista à Rádio Star-FM, sobre Afonso Henriques - o Homem. A rubrica chama-se Nas Entrelinhas, a entrevista pode ser ouvida às 8h 40m e às 9h 40m.
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