Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

18 de outubro de 2011

Da nossa relação com os animais I

A história do leão Christian, lembrou-me de abordar um outro assunto: a crença de algumas pessoas, ao abandonar os seus animais, de que não lhes estão a fazer mal nenhum, pois estão a devolvê-los à Natureza, o lugar de onde eles vêem.

Nada de mais errado!

Os animais domésticos não fazem ideia de como é a da vida na Natureza. Qualquer mamífero, antes de atingir a sua independência, tem de passar por uma fase de aprendizagem, que, nalguns casos, é bem longa (os cães e os lobos ficam de 8 meses a um ano junto dos pais, incluídos na matilha/alcateia; os ursos vivem de dois a três anos com a mãe). Sem esses ensinamentos, vêem-se indefesos e praticamente incapazes de tratar da sua vida.


No caso do leão Christian, a sua preparação para a vida selvagem foi feita com muito cuidado. Teve, inclusive, de travar amizade com um leão mais velho, o que não foi nada fácil. Nos primeiros contactos, o outro leão reagia extremamente agressivo, com medo de que o mais jovem lhe fizesse concorrência. Mas ele era imprescindível, para que Christian aprendesse regras básicas, por isso, os humanos arriscaram pô-los frente a frente, não havia outra hipótese.

É um momento muito emocionante. O leão mais velho precipitou-se para cima de Christian, como se o quisesse desfazer. Felizmente, isso não aconteceu. O instinto de Christian salvou-o e ele logo se deitou de costas, num gesto de submissão. Mesmo assim, o outro não o largou, durante largos segundos, não queria que houvesse motivos para dúvida, de quem era o chefe. Passados esses momentos, os dois tornaram-se grandes amigos e, em mais uma lição que os animais nos dão, o mais velho não mais insistiu em espezinhar ou humilhar o mais novo (como muitos de nós gostam de fazer, em relação aos seus subordinados). Uma vez esclarecidos os respectivos papéis, a vida decorreu pacífica, em respeito mútuo.



Mas retornemos aos animais domésticos abandonados, "devolvidos à Natureza", nomeadamente, os cães, que são os que eu conheço melhor. Além da falta de aprendizagem, temos de ter em conta que a maior parte das raças caninas actuais não são o resultado da selecção natural, mas da intervenção humana. Caso contrário, nunca existiriam raças tão pequenas, como os chihuahua, terrier, ou teckel. Nem nunca existiriam raças de pelo encaracolado, como os caniche, ou outras, de pelo longo. Caso não usufruam do tratamento adequado, podem-se lá alojar parasitas (larvas), alimentando-se do cão vivo, originando feridas e doenças horríveis.



Sem a intervenção humana, o cão seria sempre mais ou menos do tamanho do lobo e teria um pelo curto e denso. Fomos nós que interviemos, somos nós que temos obrigação de tratar deles. Sem prejuízo para quem opte por não manter animais em sua casa. Maltratá-los e/ou abandoná-los é que não!

6 comentários:

Bartolomeu disse...

Tenho em casa 4 cadelas e 2 cães. Para grande pena minha, tenho 2 cadelas e um cão, dentro de um canil. Os marotos, quando os solto, mesmo que individualmente, passados os momentos iniciais de euforica liberdade, "dão às de Vila Diogo" e passado algumas horas, quando regressam, já fizeram asneira. Ou vão às propriedades dos vizinhos e matam galinhas e patos só por matar, não os comem sequer, ou então matam os pobres coelhos que vivem no campo, o que me desagrada bastante. Os restantes, podem estar soltos que não fazem asneira.
Já tive uma cadela teckel anã de pelo cerdoso. Um mimo. Inteligente e meiga. Desapareceu. Procurei-a pelos campos dias a fio e nem rasto. Penso que algum caçador a tenha roubado, se bem que ela não se deixava apanhar. Ou então, algum animal maior, uma rapousa ou texugo, ou saca-rabos a tenha comido, não sei. Mas deixou-me imensas saudades. Chamava-se Pipokas.
;)

Cristina Torrão disse...

Há cães com um instinto de caça muito forte. A minha Lucy, que parece uma inocente aí na foto, dá cabo dos ouriços-cacheiros que surgem aqui no jardim, nesta altura do Outono. Também não os come, mas mata-os. É uma aflição, um espectáculo horrível, para a minha sensibilidade. Ela fica fora de si e não se deixa apanhar, bem podemos vir com o presunto e o queijo, que ela não vê mais nada à sua frente. Há um ano, depois de um ataque desses, surgiu infestada de pulgas. Foi um verdadeiro pesadelo!
Felizmente, os ouriços-cacheiros só surgem depois do escurecer, pelo que ela, a partir dessa altura, só sai de trela. De resto, o jardim tem uma cerca e durante o dia ela anda à solta, que não pode fugir. Às vezes, lá apanha um ratito. Também não o come.
Mas eu também passeio muito com ela. Não podes ir passear com esses teus cães marotos, de vez em quando, levando-os pela trela? É que só no canil, é uma vida lixada...
Fiquei com pena da Pipokas. Se me acontecesse uma coisa dessas, acho que não dormiria meses a fio.

Cal disse...

Gosto pra cachorro de cães. Tenho uma cadela que é muito ativa e gosta de brincar, traça o que encontrar pela frente, de papel até pedra, é um desastre em casa, temos que ter o cuidado de guardar tudo. Há poucas semanas atrás destruiu um aparelho de audição que, por esquecimento, fora deixado na borda da estante. Brinco com ela antecipando o que quer fazer, é por demais envolvente. Minha esposa diz que gosto mais da cachorra do que da família! Sempre foi assim, entendo os animais e por isso os desculpo, muitas vezes rio de situações em que o animal deixa as pessoas nervosas e fora de si. O nome da minha cachorra é Shakira.

Cristina Torrão disse...

Sim, os cães tendem a fazer muitas asneiras, principalmente, quando ainda são pequenos, ou novos. Mas nós, que gostamos deles e os entendemos, sabemos que eles não o fazem por mal. Têm imensa energia. E como vão eles saber quais objectos são valiosos, e quais não?
Com um bocadinho de paciência, tudo se arranja. E eles tendem a acalmar, com a idade, aprendendo até onde podem ir.
A Lucy já não estraga objectos (fartou-se de roer as pernas dos móveis, em pequena), mas é muito comilona, temos de ter muito cuidado onde pousamos bolachas, pão, ou outros alimentos. Uma vez, esqueci-me de uma lata de bolachas em cima da mesinha em frente ao sofá. Ela aproveitou a ocasião, mas foi tão sôfrega, que meteu demais à boca, ficou aflita e acabou por deitar tudo cá para fora. Não a castiguei, claro, só ralhei um pouco com ela. Nunca a castigo.

Cal, desejo-lhe muitas horas agradáveis com a sua Shakira, é verdade que a relação com um animal pode ser muito envolvente, quando a comunicação funciona. É incrível o que eles entendem e nos conseguem transmitir. Sem linguagem, só com gestos e olhares. Mas não se esqueça da família ;)

Estou a adorar esta troca de impressões ;)

Cristina Torrão disse...

P.S. Essa "obrigação" de ter de guardar tudo, para que o cão não estrague, ou coma, pode ser muito útil na educação das crianças ;)

CAL disse...

Sim, nós aprendemos com eles, existe uma troca.
Não esqueço da família, cuido bem delas (esposa e filha caçula) elas é que abusam de mim, aos domingos fico de castigo na cozinha cuidando do almoço. Não repare, gosto de cozinhar.