Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

31 de dezembro de 2012

Passagem de Ano ao som do bosão de Higgs

Em época de balanços, achei piada a um programa na televisão alemã que apresentou as maiores descobertas científicas de 2012 com bastante humor. Os telespetadores tinham votado online e, em primeiro lugar, ficou o bosão de Higgs. Tony Mono, disc-jockey numa estação de rádio, compôs e interpretou uma canção, Der Higgs-Boson-Song. Não consegui trazer para aqui o vídeo, pois parece que só existe no site do programa em que foi transmitido, mas podem vê-lo aqui. É em alemão, mas, mesmo não entendendo, tem piada ;-)
Para escolher o modo de ecrã inteiro, cliquem, no canto inferior direito da janela do vídeo, em Vollbild (V).

BOM 2013


28 de dezembro de 2012

Também tu, Leya!


A crise atinge a todos. O Cadeirão Voltaire reporta-se a um artigo do Diário Digital junto com a agência Lusa (infelizmente, sem link), para expor o caso de tradutores que trabalham para a Leya:

Duas tradutoras portuguesas acusaram hoje o grupo editorial Leya de atrasos nos pagamentos por traduções efetuadas em julho e agosto de obras que estão atualmente entre as mais vendidas em Portugal.

Estamos mal! A Leya é o maior grupo editorial português. Além disso, organiza todos os anos um concurso literário dotado com cem mil euros! Também se fala desta discrepância no artigo:

«Como é possível que um grupo desta dimensão não cumpra e não pague. A crise é apenas um pretexto, porque nós também estamos em dificuldades», disse Mariana Avelãs à agência Lusa, lamentando que o grupo editorial não cumpra os prazos de pagamentos e atribua um prémio literário [Prémio Leya] no valor de 100 mil euros.

O bom trabalho literário deve ser recompensado. Mas confesso que sempre achei descabida a quantia atribuída pelo Prémio Leya, incomportável, a longo prazo, para um país como Portugal. É verdade que o Prémio Leya engloba escritores de todos os países lusófonos. Porém, por mais mérito que tenham os vencedores deste prestigiado concurso, fica mal à Leya remendar o fraque à custa da abertura de buracos em sítios mais discretos, desprezando profissionais que fazem um trabalho notável: os tradutores.

Shame on you!


Naquele Tempo (13)


Estes factos não estancaram a imigração de nobres galegos para Portugal. Este movimento prolongou-se praticamente durante todo o século XII. Observe-se, antes de mais, que a expulsão de Fernão Peres de Trava depois de São Mamede não o impediu de voltar pouco depois a Portugal, para sufragar a alma de D. Teresa, que não sobreviveu muitos meses ao seu exílio na Galiza. Seu irmão Bermudo pode também ter tido conflitos com Afonso Henriques, mas nem por isso deixou de constituir família em Portugal. Apesar destas rivalidades, Afonso Henriques contava na mesma com apoiantes galegos, como os senhores de Toronho e de Límia, cuja colaboração deve ter passado pela homenagem prestada ao príncipe português, o que provocou várias intervenções armadas de Afonso VII para os reduzir à obediência. Por outro lado, [Afonso Henriques] teve como alferes entre 1130 e 1136, e como mordomo-mor entre 1146 e 1159, o nobre galego, filho do conde de Sobrado, Fernão Peres dito Cativo. Tal como os nobres de que falámos anteriormente, com excepção de Fernão Peres de Trava, era certamente um juvenis, um filho segundo, que veio servir o príncipe de Portugal como cavaleiro e depois se tornou membro importante da corte; tornou-se origem de uma linhagem radicada em Portugal, a família de Soverosa, cujos membros desempenharam funções políticas importantes. As suas ligações ao reino de Leão reforçaram-se imediatamente, depois da morte de Afonso Henriques, quando o filho de Fernão Cativo, Vasco Fernandes, que também foi mordomo-mor, foi substituído no seu cargo por Mem Gonçalves de Sousa, o que provocou o seu exílio para a corte do rei Fernando II de Leão, que o nomeou governador de Zamora entre 1186 e 1194. Mas os filhos de Vasco Fernandes continuaram em Portugal, na corte de Sancho I.

Páginas 316/317, A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular

26 de dezembro de 2012

Os cavalos também se abatem

Escola do Cavalo

 Em 2012 já foram abatidos 2.803 cavalos, quatro vezes mais do que o ano passado. Não se sabe quantos, mas a crise também já levou criadores a matar animais da raça puro sangue lusitano. "Neste momento, há uma série de criadores que por causa da crise e porque não os conseguem escoar preferem fazer uma seleção e mandar abater alguns dos animais".


Dão-me licença?
Podem dizer-me que a crise dá preocupações mais importantes aos portugueses. Mas eu, deste pequeno artigo, saliento duas conclusões que me põem muito triste:

1 - Mesmo sem crise, são abatidas centenas de cavalos por ano.

2 - Os criadores talvez criem mais cavalos do que o que seria aconselhável, pondo o lucro à frente do bem-estar dos animais. Um planeamento mais cuidado poderia evitar abates.

É tudo. Obrigada pela atenção!


21 de dezembro de 2012

José, é uma menina!



(capa de um livro de humor de vários autores alemães sobre o stress natalício; porque, no Natal, nem tudo decorre de modo pacífico e harmonioso).

O Andanças deseja Feliz Natal a todos os leitores, comentadores e seguidores.

Figuras de Presépio
E, como o mundo ainda não acabou, há boas possibilidades de chegarmos aos 100 seguidores (públicos) em 2013!

Obrigada!


20 de dezembro de 2012

Uma questão de perspetiva

A culpa começou a corroê-la, ao constatar a pontinha de alegria que sentia perante a desgraça alheia. Não costumava congratular-se com a infelicidade dos outros, ainda para mais, de um parente próximo. Estaria a ficar invejosa e mesquinha?

Ele ignorara-a e desprezara-a, fizera de conta, anos a fio, que ela não existia. Não ligara patavina às suas opiniões, nem quando ela o tentara avisar da desgraça iminente. Mostrou incómodo na sua presença, como se a sua existência fosse supérflua. Enchera-a de uma tristeza sem fim, convencera-a de que não valia nada, apesar de ela se ter esforçado por solidificar o laço que os unia. Quando ainda acreditava que esse laço existia.

A infelicidade atingiu-o, uma infelicidade que ela vira chegar, que adivinhara. Mas, sempre que o referia, ele fazia-a sentir-se ignorante, ou mesmo, afetada psicologicamente. «Pensas que és melhor do que os outros, que sabes mais do que os outros?» E, para dentro: «o melhor é não lhe ligar, nunca foi boa da cabeça».

Milhentas vezes, ela tentara a aproximação, o reconhecimento e o carinho dele. Sincera e de coração aberto. Mas batera contra a parede. E tanto bateu, que os seus sentimentos por ele foram arrefecendo. Uma chama, que, aliás, não se apagou, sem primeiro lhe provocar uma ardência interior, que a deixava acordada, noites a fio. A ferida foi cicatrizando, até ela tornar a poder dormir em paz, mas deixou o seu preço: ele quase deixara de ter significado na sua vida.

A infelicidade chegou. E ela sentiu a pontinha de alegria, o travo doce da vingança. Censurou-se. Mas travou a fundo. Livrar-se de qualquer sentimento de culpa era a única hipótese de manter a sanidade. E reparou que nunca na sua vida se sentira tão liberta.



18 de dezembro de 2012

Buracos Negros


Roubam-nos a energia.
Ou porque nos enchem de defeitos, ou porque nada do que fazemos é bem feito, ou porque nos responsabilizam pelas suas depressões, os seus falhanços, as suas desgraças.
Vagueiam pela vida como um buraco negro no Universo, sugando a luz, a criatividade e a vivacidade de quem de si se aproxima, numa tentativa desesperada de, um dia, virem a transformar-se num sol radioso.
Mas não se apercebem de que, enquanto se limitarem a roubar a energia alheia, nunca passarão de buracos negros.

16 de dezembro de 2012

As Virgens Suicidas


É um bom filme. Mas fiquei um pouco desiludida, porque julgava que era melhor. Não só por a realizadora ser Sofia Coppola, mas também porque as críticas que tinha lido lhe eram muito favoráveis.

O enredo anda à volta da família americana Lisbon (terá o nome a ver com a religiosidade exacerbada?). Profundamente católicos, os pais (principalmente, a mãe) condenam as suas cinco filhas a um isolamento total. Depois do suicídio da mais nova, com apenas treze anos, resolvem abrir-se ao mundo, a conselho de um psiquiatra. No entanto, como todas as tentativas "contra-natura" de mudar um estilo de vida, também esta se revela desajeitada e artificial, ou seja, é pior a emenda do que o soneto: as restante quatro filhas acabam por se suicidarem todas no mesmo dia, embora cada uma use o seu próprio método.

O filme não mostra apenas a desagregação da família Lisbon, mas também a vida deprimente e artificial de um subúrbio de classe média nos anos 1970. E aí é que está, na minha opinião, o problema deste filme, patente num pequeno promenor, logo no início. Depois da primeira tentativa de suicídio da mais nova, começa o falatório dos vizinhos, especulando sobre as razões da ocorrência. Mas eles são caracterizados com tal ironia, que eu não levei a sério o rumor de que seria o isolamento da jovem a causa do seu desespero. Esta ideia perseguiu-me durante todo o filme, passei o tempo à procura de um outro motivo, o verdadeiro. Uma busca inglória, pois os vizinhos hipócritas e ignorantes tinham razão! Acho, por isso, que a realizadora não soube gerir esse pequeno promenor, que, como digo, influenciou toda a minha visão do filme.

Aliás, é tudo muito subtil, à semelhança do que faz o pai, Francis Ford Coppola, faltando, no entanto, o seu "toque de Midas". Só com muito esforço nos apercebemos de que a subjugação das filhas resulta do medo extremo da mãe de as perder, enquanto o pai navega pela vida, sem opinião nem iniciativa, como que ausente, sujeitando-se à regência da mulher. Trata-se de uma constelação catastrófica. E, como sempre, o medo exagerado acaba por gerar a situação temida: a mãe perde todas as suas filhas, para sempre. Já agora, uma palavra para a atuação de Kathleen Turner, que desempenha o seu papel numa perfeição que chega a ser assustadora. Outra coisa não seria, aliás, de esperar, de tão excelente atriz.

Este filme foi baseado num romance de Jeffrey Eugenides, que não li, mas ponho a hipótese de ele conseguir transmitir melhor a mensagem do que Sofia Coppola. O filme não deixa de ser bom, mas, quando as expetativas são grandes...


14 de dezembro de 2012

Largueza (volume II)


Completei a leitura desta extensa obra de António Luíz Pacheco. E acabo por a considerar uma grande obra, não só pelo tamanho. Mesmo custando a aceitar certas paixões do autor (a caça por desporto, por exemplo), achando que ele dá pouca profundidade às suas personagens e que limita as mulheres a acompanhantes dos homens (embora lhe gabe certas qualidades), aprende-se imenso neste romance, situado no século XIX. O protagonista, um ribatejano, cumpre serviço militar na Índia, passa por Angola e acaba por emigrar para os Estados Unidos, o assunto deste segundo volume.

Foi interessante aprender sobre o contributo dos emigrantes portugueses para a formação da nação americana. O livro está muito bem pesquisado, dou os meus parabéns pelo trabalho do autor, nota-se que o fez com grande paixão. No final, há uma bibliografia para quem quiser aprofundar este assunto.

Este segundo volume é mais um romance de aventuras do que o primeiro. O cenário, o oeste americano, presta-se a isso. Fez-me lembrar os bons westerns de antigamente (ou filmes de cowboys, como lhes chamávamos), mas também há um ar de Danças com Lobos, na sua maneira de encarar os índios. E tem a vantagem de ser um western com protagonistas portugueses, que até travam conhecimento com uma figura lendária: Billy the Kid.

Nota: a imagem apresentada corresponde ao primeiro volume, mas a capa do segundo é igual.

12 de dezembro de 2012

Naquele Tempo (12)


O importante, do nosso ponto de vista, é que a batalha [de São Mamede] constituiu, ao mesmo tempo, uma afirmação de independência dos nobres portucalenses contra uma eventual submissão à alta nobreza galega. De facto, como vimos, todos os nobres que mencionámos até aqui pertenciam a famílias de nível condal. Foi certamente este facto que provocou a reacção dos barões portucalenses. Desde a morte do conde Nuno Mendes de Portucale em 1071, representavam a camada superior da nobreza regional. Se se mantivesse o casamento de D. Teresa com Fernão Peres de Trava, mesmo que ela se viesse a tornar rainha de um reino independente, isso significaria a relegação dos nobres portucalenses para segundo plano. Viam-se, portanto, ameaçados pela concorrência galega nas suas próprias terras e funções curiais.
Quer isto dizer que o núcleo fundamental da nobreza portucalense, depois de ter começado a adoptar um comportamento próprio e de proclamar a sua autonomia, demonstrou a sua capacidade para se opor em conjunto a outra nobreza regional, e deu a essa oposição uma expressão política ao eleger como chefe o príncipe Afonso Henriques. Não se trata, porém, obviamente, de um movimento «nacional», mas de uma associação de interesses expressa em termos vassálicos, o que quer dizer, em termos precários. Só a permanência desse vínculo ao longo de séculos e a sua conjugação com muitos outros factores permitiriam fazer dele o ponto de partida para uma futura e ainda longínqua solidariedade nacional.

A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular, página 316


10 de dezembro de 2012

Desigualdade

Há dias, uma notícia sobre alterações à taxação dos direitos de autores, a propósito do OE2013, fez-me lembrar uma situação que considero profundamente injusta. A notícia dizia que o Estatuto dos Benefícios Fiscais sobre os rendimentos da propriedade literária, artística e científica foi alargado aos titulares de direitos conexos. Mais abaixo, esclarecia: “O benefício só é aplicável, quer num caso, quer noutro, e até ao máximo de dez mil euros, aos contribuintes residentes em Portugal e desde que sejam os titulares originários dos direitos”, ressalva a nota da SEC (destaque meu).

O que me leva a falar de injustiça é o passo: aos contribuintes residentes em Portugal. De facto, no que toca a direitos de autor, os cidadãos portugueses residentes no estrangeiro são tratados de maneira diferente, ou seja, são discriminados e prejudicados. Não sei se os valores e as percentagens foram modificados no OE2013, mas, até aqui, os autores eram taxados da seguinte maneira:

- Aos residentes em Portugal, os direitos de autor são taxados a 16,50%, com um benefício fiscal de 50%. Além disso, podem apresentar despesas;
- Aos residentes no estrangeiro, aplica-se a taxa de IRS de 21,50%, sem direito a qualquer benefício fiscal, nem a apresentar despesas!

Conclusão: um residente em Portugal que receba 10.000 euros de direitos de autor, paga, de IRS, qualquer coisa como 800 euros (e isto, se não apresentar despesas). O residente no estrangeiro paga 2.150 euros pelo mesmo rendimento, quase três vezes mais!

O facto de vivermos no estrangeiro dá, ao Estado Português, o direito de nos penalizar? Na Comunidade Europeia, existe um princípio de igualdade, que engloba todos os cidadãos, independentemente da sua nacionalidade e do país onde vivem. À luz desse princípio, não será esta situação suscetível de ser denunciada no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem?


8 de dezembro de 2012

Pilhas

Nuno Borges Carvalho e Alírio Boaventura, investigadores da Universidade de Aveiro, sonham com um futuro sem pilhas. Para isso, criaram um sistema que converte ondas de rádio em energia elétrica. Uma comunicação daquela Universidade lembra-nos que «só em Portugal os telespectadores gastam anualmente cerca de 3 a 4 milhões de pilhas para mudarem de canal sentados no sofá». E todos sabemos que as pilhas são altamente poluentes.

Congratulo-me com notícias destas. Dou os parabéns aos investigadores e desejo-lhes muito sucesso! Embora receie que, no nosso mundo globalizado, o dinheiro torne a falar mais alto do que a proteção do meio-ambiente.

6 de dezembro de 2012

A Vida do Conquistador - "download" grátis


E é assim que eu assinalo este aniversário sobre a morte de D. Afonso Henriques. Reuni os posts aqui publicados num texto formato PDF, que pode ser descarregado gratuitamente aqui, ou lido em iPAD e iPOD (ou noutros dispositivos, mas eu não conheço todos) e que, por isso, atrevo-me a denominar de ebook.

Desde a Batalha de São Mamede, à Conquista de Lisboa, desde a Conferência de Zamora, à Bula Manifestis Probatum, dando ainda lugar às duas mulheres mais importantes na vida de D. Afonso Henriques, são referidas as etapas mais importantes do seu percurso, acompanhadas de excertos de Afonso Henriques o Homem e A Cruz de Esmeraldas (este, para o cerco de Lisboa). Além de ser historicamente informativo, pode servir de teste para quem esteja interessado nos romances.

Nota: se o link não funcionar, contacte-me para andancas@t-online.de e eu enviarei o ficheiro PDF na resposta ao email.

Nota 2: A fotografia que serve de fundo à capa, tirada no Castelo de São Jorge, é da autoria de Horst Neumann (a minha cara-metade).


4 de dezembro de 2012

Barbaridades


Talvez já conheçam a história de Sparky, o cão que foi arrastado por uma corda amarrada a uma carrinha e abandonado, em Vila Real. Felizmente, houve alguém que o levou para o Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e, entretanto, sabe-se que Sparky já está quase bom.

Não. Não vou, mais uma vez, expressar a minha pena por ver um animal maltratado. Expresso, sim, a minha pena por todos queles que convivem com as pessoas que cometeram esta barbaridade. Ou vocês têm alguma dúvida de que gente desta torne a vida de parentes e amigos num inferno? Devem ser prepontentes, egoístas, neuróticos... Enfim, insuportáveis!

Ana Beatriz Loureiro, a enfermeira que ajudou o cão e que acabou por ficar com ele, conseguiu pagar as despesas do hospital graças aos donativos recebidos através da página do Facebook que criou para o efeito. Mas esta boa ação tem-lhe trazido dissabores: «Alguém imagina o quanto este mediatismo mudou a minha vida? No quanto sou olhada de lado porque fiz um animal saltar para as luzes da ribalta, quando há tantos problemas de maior dimensão no mundo? Sim, há! Mas os maus-tratos a animais, e este caso em particular não podia ser negligenciado, e o Sparky merecia uma segunda oportunidade».

Este é um problema comum, numa situação de crise como a que se vive em Portugal. Mas o facto de haver pobreza e fome não pode justificar o gesto de se assobiar e olhar para o lado, perante um animal assim abandonado num parque de estacionamento!






3 de dezembro de 2012

Resultado do Passatempo

Agradeço a todos os participantes. Infelizmente, o objetivo de alcançar 25 emails, permitindo um segundo vencedor, não foi atingido (houve 19 participações). Sendo assim, resta premiar o número correspondente ao dia do mês em que faleceu o nosso primeiro rei.

Todos deram a resposta certa quanto à data em questão: 6 de dezembro de 1185. E o sexto email a chegar foi o de Brigite Beato, a 23 de Novembro, às 21h 33m.

Parabéns, Brigite!



Aos restantes (assim como a todos os leitores do blogue) sugiro que estejam atentos ao próximo dia 6!


1 de dezembro de 2012

Um Campeão de vendas na Alemanha

Hoje resolvi falar de um livro que ainda não li. Mas o meu marido leu. Ou melhor, ouviu. Na Alemanha, a publicação de áudio-livros é quase tão intensa como a dos livros em papel e o meu marido encontrou uma boa solução para quando se desloca de comboio para o emprego, pois ele tem muita dificuldade em concentrar-se na leitura com ruídos à sua volta, principalmente, com pessoas a conversar. Requisita os áudio-livros na biblioteca, passa-os para o formato MP3 (alguns já vêm nesse formato) e lá vai ele entretido, nas suas viagens.


Encantou-se com este livro, que tem sido um estrondoso sucesso de vendas por aqui: O Centenário que fugiu pela janela e desapareceu, do sueco Jonas Jonasson. Não sei se em Portugal ele tem tido êxito. Se não, talvez a capa seja uma das razões. O meu marido ficou perplexo ao ver a capa portuguesa, achando que dá uma ideia errada do conteúdo.


A capa alemã parece-me mais bem conseguida.


Transcrevo duas opiniões publicadas na Wook, para abrir o apetite.
Uma de Luís Filipe Borges:
Humor negro, história do século XX e protagonistas irónicos capazes do impossível: fazer-nos ansiar pela velhice! Uma receita absolutamente viciante.
A outra do jornal francês Le Figaro:
Depois de nos fazerem tremer com os seus policiais, os suecos dedicam-se a fazer-nos rir.
 

29 de novembro de 2012

Tradição Oral Europeia


Este ano, comemoram-se os 200 anos da publicação dos contos dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm. Alexandre Parafita, escritor, etnógrafo e professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), acredita que muitos dos contos dos irmãos Grimm, publicados na Alemanha em 1812, eram já conhecidos em Portugal: «Correm ainda hoje muitas variantes de contos dos Grimm nos meios rurais transmontanos transmitidas por idosos iletrados que afirmam terem-nas ouvido aos seus avós, igualmente iletrados».

Note-se que os famosos irmãos alemães não foram os autores dos contos. Mas dedicaram-lhes quase toda a sua vida. Na verdade, eles percorreram a Alemanha de lés a lés, durante vários anos, com o objetivo de reunir, numa publicação, os contos que ouviam contar ao povo e que passavam de geração para geração, na tradição oral. E, como quem conta um conto acrescenta-lhe sempre um ponto, os contos tinham várias versões, conforme as zonas. Os irmãos Grimm uniformizaram-nos, umas vezes, adotando a versão mais usada, outras vezes, dando, eles próprios, o seu contributo.

Não se sabe a origem dos contos. Mas o facto de ainda hoje correrem «muitas variantes de contos dos Grimm nos meios rurais transmontanos», prova algo que acho fascinante: que existia uma tradição oral europeia, antes de as pessoas começarem a ler livros. Os contos teriam sido transmitidos, não só de geração para geração, mas de região para região, abrangendo grandes espaços europeus.

Via Blogtailors


27 de novembro de 2012

Leitor no Brasil (e outras boas notícias)

Fui contactada por email por um cidadão brasileiro, perguntando-me como poderia adquirir A Cruz de Esmeraldas. Não estando o livro à venda no Brasil e não querendo ele efetuar pagamentos online, acabei por lho enviar pessoalmente.
Que eu saiba, é o meu primeiro leitor brasileiro e, mesmo que fique o único, deixou-me muito feliz, pois não contava encontrar interesse pelos meus livros do outro lado do oceano. Agradeço, do coração, o seu interesse e espero que goste da leitura!

E, já que estou em maré de boas notícias, aproveito para dizer que o Andanças atingiu e ultrapassou, pela primeira vez, a barreira das 1000 visualizações numa semana. Deve ter a ver com a sugestão de leitura do Pedro Correia. Obrigada, Pedro!

Também no passatempo se nota a maré favorável. E, como o Natal já não está tão longe como isso, premiarei igualmente o email nº 25, se lá chegarmos...

Obrigada a todos!



25 de novembro de 2012

Como enviar o meu original para uma editora



Há editores que avaliam obras pela leitura da primeira linha e há outros que só o fazem analisando a obra inteira de um autor minuciosamente. Os métodos diferem e nenhum deles garante o sucesso, da mesma forma como, em princípio, nenhum dita o seu fracasso.

Hugo Xavier dá, no Edição Exclusiva, conselhos a candidatos a autor, baseando-se na sua própria experiência.

- Por muito que seja boa educação, evitem as cartas manuscritas de apresentação. Nós editores temos geralmente a vista cansada de ler.
- Não enviem textos impressos com corpo de letra 10 ou menor, sem linhas de separação e com uma mancha de texto visualmente agressiva.
- Não enviem textos impressos com tipos de letra originais e divertidos, Times New Roman, Garamond, Windsor, letras clássicas e de fácil leitura. Sobretudo nunca enviem textos impressos em Comic Sans.

Para quem se interessa pelo tema, aconselha-se a leitura do artigo completo.

23 de novembro de 2012

Passatempo XI

Está a aproximar-se mais um aniversário da morte de D. Afonso Henriques e resolvi iniciar um novo passatempo, cujo prémio é um exemplar do romance Afonso Henriques - o Homem. Os participantes terão de responder a três perguntas, atavés de email, para andancas@t-online.de. Os emails vão sendo numerados por ordem de chegada e o vencedor terá o número correspondente ao dia do mês em que faleceu o nosso primeiro rei.


As três perguntas são as seguintes:

1 - Em que data (dia/mês/ano) faleceu D. Afonso Henriques?
2 - Onde foi sepultado?
3 - Como se chamava a esposa de D. Afonso Henriques?

Respostas aqui.

O passatempo encerrará às 24:00 horas do próximo dia 2 de Dezembro. O resultado será apresentado no dia seguinte.

Boa sorte!

21 de novembro de 2012

O livro debaixo do braço

A fim de celebrar a memória de José Saramago, no dia em que faria 90 anos, a Fundação com o nome do escritor organizou uma série de eventos, em Lisboa (no Porto, há mais). O grupo de teatro Éter recriou algumas passagens do romance Memorial do Convento, em frente à Casa dos Bicos, e Jorge Baptista da Silva cantou árias de Domenico Scarlatti, o compositor da corte de D. João V, a que a obra de Saramago se refere, num espetáculo dirigido por Vera Barbosa.

Tenho pena de não poder participar. Saramago é o nosso único Nobel da Literatura, a sua memória deve ser acarinhada. Mas houve, no meio de eventos tão louváveis, uma iniciativa que achei descabida: convidavam-se os amantes de Saramago e Fernando Pessoa a saírem com o livro O Ano da Morte de Ricardo Reis debaixo do braço, a fim de partilharem e discutirem a sua leitura, pelas ruas.

A ideia da partilha é igualmente louvável. Mas confesso que essa coisa de sair com o livro debaixo do braço me soa pretensiosa, na medida em que cultiva um certo elitismo. Além disso, é suscetível de ser aproveitada por gente que nunca leu uma linha dos dois escritores para se armar em intelectual. E, quem participa na homenagem, não deixa de discutir a obra do Nobel, com ou sem livro debaixo do braço.

Expressei essa opinião no Horas Extraordinárias. Caiu-me em cima o Carmo e a Trindade, muito por responsabilidade da autora do blogue, que me expôs, à custa de um erro ortográfico. E tudo por causa de uma comentadora que, com 4/5 anos, gostava de fingir saber ler, história que a autora do blogue, elle-même, considerou «simples, bonita e despretensiosa» (despachando três adjetivos de uma assentada).

Fico sempre desiludida quando pessoas com responsabilidades acrescidas se rendem a bajuladores. Já por várias vezes estive para desistir de frequentar o Horas Extraordinárias, mas acabei sempre por ceder. Aprecio alguns comentadores. E ajuda-me a manter-me informada sobre a atividade editorial e livreira.

Agora, é definitivo: não mais incomodarei as almas sensíveis que vagueiam por aquele blogue!

20 de novembro de 2012

Bula "Manifestis Probatum"

aqui e aqui falei na dificuldade de atribuir uma data para a independência de Portugal. Acrescente-se que uma situação dessas não é anormal, tendo em conta que estamos a lidar com a Idade Média, uma época em que ainda não se entendiam as nacionalidades como hoje em dia. Não existiam fronteiras definidas e o poder estava na mão de potentados regionais, que, em determinadas circunstâncias, conseguiam alargá-lo, ousando ignorar a autoridade de reis e imperadores. Afonso Henriques não foi caso único na Europa, ou na Cristandade, como se dizia. A haver uma entidade superior, seria a Santa Sé, mas mesmo essa se revelou dúbia, durante décadas, quanto ao caso português.

Só no Verão de 1179, D. Afonso Henriques terá segurado nas mãos o reconhecimento oficial da independência de Portugal. O papa Alexandre III emitiu a Bula Manifestis Probatum a 23 de Maio de 1179 e, tendo em conta as viagens morosas daquela época, essa prova documental terá chegado à corte coimbrã, na melhor das hipóteses, cerca de dois meses mais tarde, ou seja, na segunda quinzena de Julho.

Imagem daqui
D. Afonso Henriques estava, em 1179, velho e muito debilitado. Tinha cerca de 70 anos e já há dez que se encontrava incapacitado, na sequência do desastre de Badajoz. Parece certo que não se conseguia mover pelos próprios meios, o que lhe deixaria os músculos muito fracos e ele próprio estaria mais sujeito a doenças e infeções. Ainda assim, só morreria a 6 de Dezembro de 1185, constituindo um caso raro de longevidade, na época, sobretudo, considerando as circunstâncias em que viveu os seus últimos 15 anos.

A chegada da Bula Manifestis Probatum à corte portuguesa deve ter sido um momento muito emocionante para o velho monarca.



            O príncipe foi receber os recém-chegados, enquanto Afonso, que já passara dos setenta, se limitou ao seu cadeirão, incapaz de se mover. Tentava manter a calma, enquanto o cónego D. Pedro Feijão ali ficou, como que a tomar conta dele, observando-o, preocupado. Nisto, surgiu a infanta Teresa, olhando-o igualmente cheia de cuidados, puxando uma cadeira a fim de se sentar ao lado dele, o que o fez exclamar:
            - Mas que é isto? Estão todos com medo que eu não aguente as novidades e me dê algum fanico?
            O arcebispo, acompanhado pelo infante e pelo seu capelão, fez uma entrada triunfal, saudou eufórico os presentes. Depois, foi direito ao monarca, pegou-lhe nas mãos e anunciou:
            - Boas notícias, D. Afonso! Trago boas notícias!
            Sentou-se no cadeirão que lhe estava destinado e o capelão passou-lhe um invólucro cilíndrico de couro para as mãos, que D. Godinho segurou como se de uma das sete maravilhas do mundo se tratasse. Tirou lá de dentro um pergaminho enrolado e anunciou:
            - Isto, meus senhores, é a bula Manifestis probatum est, de 23 de Maio deste ano, e que eu recebi directamente das mãos do Santo Padre!
            Fez um sinal ao capelão para que este depusesse o documento nas mãos do monarca. O prelado assim fez e, perante a expectativa de todos os presentes, Afonso desenrolou o pergaminho, de mãos trementes. Mas estava incapaz de ler fosse o que fosse. Não era só a agitação que o atacava. Além de ter esquecido tudo o que sabia de latim, há anos que a sua visão vinha piorando. Tinha a impressão de que um véu se lhe formava em frente dos olhos, no início, muito fino, mas ia ficando cada vez mais espesso. Acabou por entregar o documento à infanta a seu lado, pedindo:
            - Lê, filha, lê!
            Teresa fez uma primeira leitura em silêncio e anunciou emocionada:
            - O Papa reconhece-vos o título de rei, meu pai!
            - Finalmente - disse Afonso, de lágrimas nos olhos.
            O arcebispo sorriu ao infante e ao chanceler-mor, muito satisfeito. Depois, pôs-se a limpar o suor da testa e do cachaço e ordenou ao capelão:
            - Tenho sede, arranjai-me qualquer coisa para beber! - E, virando-se para os lados: - É que está um calor de rachar, não é verdade? E, apesar de esta etapa de hoje ter sido curta, a gente ainda veio a cavalgar algumas horas.
            O infante Sancho, a quem a ansiedade fizera esquecer aquele pormenor, logo chamou um lacaio, que fosse buscar um refresco de vinho. Teresa ia lendo o conteúdo da bula ao pai:
            - Alexandre III confirma o documento de Lúcio II, tomando-vos e aos vossos herdeiros sob a proteção da Santa Sé. Considera Portugal um reino pertencente a São Pedro e promete o auxílio papal sempre que seja necessário defender a dignidade régia do soberano português. Também os territórios que os portugueses vierem a conquistar aos sarracenos gozarão da mesma proteção.
            Chegou o refresco, que pajens se encarregaram de distribuir pelos presentes. O arcebispo apressou-se a esvaziar a sua taça, Sancho e D. Pedro Feijão deram alguns goles. O rei e a sua filha ignoraram a bebida. E D. Godinho, sentindo-se retemperado, lançou enérgico:
            - O Santo Padre reconheceu, finalmente, os méritos de um soberano que tão grandes vitórias conseguiu sobre os inimigos da fé. Chama-lhe “intrépido destruidor dos inimigos dos cristãos”, “diligente propagador da fé cristã”, “bom filho e príncipe católico”, que deixa um “exemplo digno de ser imitado pelos vindouros”, enfim, não poupa elogios a D. Afonso. Não é assim, D. Teresa? - E, dirigindo-se aos outros: - Que eu já li a bula um monte de vezes, já a sei de cor e salteado!
            Teresa tornou a passar o documento para as mãos do pai. Afonso engoliu em seco, a fim de espantar as lágrimas e, depois de observar a bula durante alguns instantes, disse:
            - Agradeço a Deus, que ouviu as minhas preces. Agora, sei porque é que Ele me deixou tanto tempo vivo.
            - Ámen - concluiu D. Godinho, esvaziando a segunda taça.

Bula Manifestus Probatum, fonte: Direcção-Geral de Arquivos
Como referido, D. Afonso Henriques só viria a falecer seis anos mais tarde, a 6 de dezembro de 1185. Foi sepultado no mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, no mesmo local em que a sua esposa, D. Mafalda, já repousava há quase trinta anos.

Com este post, encerro a série dedicada a D. Afonso Henriques, que percorreu as etapas mais importantes da sua vida. Quem quiser lê-las, pode clicar na etiqueta Citando Afonso I. Quem tiver um e-reader, iPad, iPod ou equivalente, fique atento: no início de Dezembro, haverá uma surpresa!