Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

6 de fevereiro de 2012

Ainda o pastel de nata, ou: maneiras de sair da crise

Há coisa de um mês, a Zélia Parreira, minha colega do 2711, publicou um post sobre a fulminante proposta do Sr. Ministro Álvaro Pereira de comercializar os nosso pastéis de nata, ou de Belém, como modo de sair da crise, pois, segundo ele, as natas não tinham sido nunca até hoje internacionalizadas. Na altura, escrevi o seguinte comentário:

É mentira! Eu já vi um programa de TV aqui na Alemanha sobre o pastel de nata e como ele é comercializado em várias partes do mundo! Chamam-se "portuguese custards". Aliás, de Macau, passaram à China, onde são vendidas em estabelecimentos de "fast-food". Não sei se a receita é a original, mas têm o mesmo aspecto. E os chineses deliciam-se! Não pagam é direitos de autor!

Confesso que não me lembro do nome do programa, nem sei quando o vi, nem em que canal, o que tornava estas minhas afirmações pouco credíveis. Pois agora posso afirmar, com toda a certeza, que o pastelinho de nata é mesmo um sucesso comercial na China! O Exilado, numa das suas viagens àquele país, tirou, há cerca de três anos, esta fotografia:


Lá está ele, o produto que nos poderia tirar da crise, já conhecido de todos os chineses, bem divulgado nessa grande cadeia de fast-food que é a KFC!

Por sugestão do Exilado, fui dar uma espreitadela ao Belém Livre, que nos diz que o valioso pastelinho, afinal, foi introduzido em Hong Kong por um casal de ingleses e que, daí, se espalhou por toda a China.Mas isto ainda não é tudo!

Fui ao Google e enfiei lá portuguese custard tarts (também dá com portuguese egg tarts) e encontrei tantos resultados, tanta receita em língua inglesa, que nem sabia para onde me virar. E a página inglesa da Wikipedia diz: they are common in Portugal, the Lusosphere — Brazil, Angola, Mozambique, Cape Verde, São Tomé and Príncipe, Guinea-Bissau, Timor-Leste, Goa, and Macau — and countries with significant Portuguese populations, such as Canada, Australia, Luxembourg, the United States, and France, among others.

Posso confirmar. Em Hamburgo, qualquer café português (propriedade de emigrantes) vende o pastelinho de nata. Além disso, também dei com um blogue que informa onde encontrar the best portuguese custard tarts in Toronto, o youtube apresenta vários vídeos, onde se pode acompanhar a confecção deste prodígio da culinária, e até a página do cozinheiro Jamie Olivier nos dá a receita.

Tenho muita pena, Sr. Ministro, mas já perdemos esta corrida. Porém, não desanime! Aconselho-o a ir dar uma olhada à proposta do Exilado de comercializar um outro doce cá da casa, bem popular: a eterna cavaca! Que teria a vantagem de se encontrar facilmente um "padrinho" para a campanha de divulgação...

Também aqui.

5 comentários:

tina disse...

Ah Ah Ah !!!
Muito bom.

Bartolomeu disse...

Óh Cristina, mas... a cavaca é um doce tradicional das Caldas... e provávelmente o Sr. Ministro, teme que no estrangeiro, as Caldas sejam mais conhecidas pelo... "artesanato" e então, talvez se esteja a tentar proteger de algum tipo de conecção.
Não sei... digo eu... em Grego!
Mas eu também tenho uma sugestão para apresentar ao Sr. Ministro... porque não exportar a bela entremeada, vulgo, courato?!

Na minha optica empresarial, esse é um bom negócio; apresentada numa embalagem de plástico, uma entremeada grelhada sobre uma fatia de casqueiro, ao preço de 3 euros.
Hmmmm?
Não te parece bem?
;)))

Olinda Melo disse...

he!he!he!

Isto até engasga...

:))

Bom trabalho de pesquisa, Cristina!

Bj

Olinda

NLivros disse...

Olá Cristina!

Independentemente do que o ministro possa ter dito, penso que se continua a assobiar para o lado e não tirando valor ao pastel de nata ou de belém, o que interessa é que Portugal tem produtos que podia exportar e ser único na sua qualidade.

Refiro-me à imensa qualidade do pescado português, da fabulosa carne de porco preta, vaca barrosã, à laranja do Algarve, ao queijo da Serra, da Ilha, à Industria Naval dada cabo por sua exª o sr. Presidente da República quando foi primeiro ministro, ao Azeite e ao Vinho, entre outros produtos.

No entanto, o grande problema é que o "nosso" governo não faz rigorosamente nada para fomentar a produção, incentivar quem quer trabalhar nesses produtos. Pelo contrário, tentem contactar uma câmara ou o Ministério e levar a ideia de criação de gado bovino alentejano. Sabem o que respondem? Nada!

Ou seja, o que o ministro disse, são tretas para "boi dormir", porque a realidade, é que Portugal está completamente manietado pela União Europeia e faz aquilo que eles querem, ou o que a Alemanha quer.

Cristina Torrão disse...

Courato, Bartolomeu? Não sei. Falo pelos alemães. Eles nem de orelheira gostam! São todos muito rijos e disciplinados, mas, no que toca à comida, das duas uma: ou é algo tenrinho, ou é doce. Pelam-se por doces...

Iceman, não há dúvida de que os portugueses podiam fazer muito mais com aquilo que têm. Mas é verdade que a responsabilidade para a falta de iniciativa é, em primeira instância, do governo, que fomenta a mentalidade de: ideias? Não vale a pena. Mais vale viver das subvenções. E, depois, quando a coisa aperta, como agora, vêem-se de pés e mãos atados.