Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

8 de março de 2013

As Noivas de Alá

Todos já ouvimos falar de mulheres que participam em ações terroristas do fundamentalismo islâmico, algumas, em ataques-suicidas. A realizadora israelita Natalie Assouline quis saber o que leva mães de família, ou grávidas, a matarem-se a si e aos outros, sem piedade. Para isso, acompanhou e filmou, durante dois anos, detidas palestinianas numa prisão israelita de alta segurança. No seu filme Shahida - Brides of Allah, estreado em 2008, ela apresenta-nos essas mulheres e as suas declarações, sem comentar, ou explicar. O espetador deve tirar, por si, as suas conclusões.

Confesso que, por vezes, me senti indignada, ao ouvir aquelas mulheres declararem fria e laconicamente que só descansarão quando morrerem todos os israelitas; ou que os seus filhos (a maior parte deles, crianças) sentem orgulho pela mãe presa, que mandou uma data de israelitas pelo ar. Pelos vistos, chega para os compensar por uma infância e uma juventude vividas sem mãe!

O caso da mulher grávida à altura da sua detenção (e do ataque de sua autoria), que deu à luz na prisão e foi autorizada a ficar com o filho durante os primeiros dois anos deste, provocou-me sentimentos muito contraditórios. Por um lado, ela e as outras reclusas não se cansavam de dizer à criança (um rapaz) que ele haveria de ser um lutador de Alá, um grande guerreiro da jihad. Por outro, foi difícil assisitir ao dia em que o miúdo foi obrigado a deixar a mãe, juntando-se, aliás, ao pai e aos irmãos mais velhos. A imagem da mulher a chorar sozinha, na sua cela, fica-nos gravada na memória.

Mas a pergunta fica: o que leva estas mulheres a destruirem a sua vida e as das suas famílias?

Acho que encontrei a explicação (ou, pelo menos, parte dela) numa moça, aliás, solteira e sem filhos. Começou por dizer que não fizera nada de mal, limitara-se a passear pela zona de fronteira entre a Palestina e Israel com uma faca no bolso. A sua intenção nunca fora matar, mas acharam-na suspeita, revistaram-na e encarceraram-na. Durante a conversa com Natalie Assouline, ela dá a entender que fez aquilo de propósito, desejando ser presa!

Entretanto, cumpriu a sua pena e foi libertada. Mas, passado um mês, tornou à prisão! E, desta vez, foi mais aberta com a realizadora do documentário. Afirmou que resolvera voltar, porque em casa lhe batiam, tanto a mãe, como um irmão.  Além disso, proibiram-na de falar. Era autorizada a cumprir as tarefas do quotidiano, mas sem abrir a boca. «Aqui», disse ela, referindo-se à prisão, «sinto-me melhor, sou mais respeitada!» Mais acrescentou que as outras detidas, mesmo que não o admitam, estavam ali pela mesma razão: por terem problemas em casa!

Serão, portanto, mulheres cheias de ódio e vazias de amor e esperança, resultado de subjugação extrema e maus-tratos? Em Alá, julgam encontrar o amor, a proteção e o reconhecimento de que nunca na vida gozaram. São admiradas por lutarem pela sua religião, mesmo que deixem quatro, cinco, ou seis filhos em casa, filhos que são autorizadas a ver apenas de vez em quando, por escassos minutos de visita. O ódio que foram acumulando pelas humilhações e as injustiças que sofreram desde que nasceram é projetado em todos os não-muçulmanos, especialmente, nos israelitas (neste caso).

É esta a explicação para os atos das Noivas de Alá?




4 comentários:

Verniz Negro disse...

Querida amiga! São vidas de amargura de sujeição. Não conhecem muito mais e quem ousa sair fora do contexto é severamente punido. A mulher não é livre, nunca será. Nem aqui nem nos países desenvolvidos. Não quando nas nossas mentalidades os homens forem os senhores, os donos, e não nos vejam como parceiras e nós a eles ão como hoje em dia e sabes tão bem como "mercadoria" e prazer o que antes também era só apanágio do homem hoje virou-se e a mulher usa e abusa. É uma sociedade de extremos sem contenção ou regras. A deles duma cegueira e fanatismo inaudita a nossa de consumo e alienação, sei lá. Amiga um imenso abraço um beijo muito doce, feliz dia da mulher não só hoje mas em todos eles que o somos e sabemos ser, obrigado por me visitares Isso deixa-me muito feliz. Um bfsemana e resto de bom dia com muito amor, paz e saúde tudo de bom hoje e sempre, junto de quem amas.

Unknown disse...

Cristina,
o Islão é uma religião bela e com uma mensagem de amor. Acontece que é, simultaneamente belicista e obliteradora. Um dos conceitos da parte mais negra desta religião prende-se com a crença incontornável de que apenas o seu Deus e caminhos são os correctos e por isso necessidade que surge, explícita, de que toda a criação se converta, aceite ser subjugada no caso de não se converter ou então deverá ser aniquilada. Como uma moeda, o Islão, repito, tem uma mensagem pacífica mas também, na outra face, violência dogmática. A jihad é um nirvana e fazer parte de uma guerra em nome de Alá uma honra incomparável.
Talvez isto explique um pouco do que move os grupos radicais que se focam e levam à letra a parte mais negra dessa bela religião e, também, as Noivas de Alá que a Cristina aborda.
Um abraço.

Cristina Torrão disse...

André Nuno, concordo com tudo o que diz acerca do Islão. Mas o problema é, também, que a maior parte dos islamitas vive naquilo a que apelidamos de "Idade Média", ou seja, põem os escritos religiosos acima de qualquer outra coisa.
O Alcorão é mais belicista que a Bíblia, sim, mas eu conheço muitos muçulmanos que já ultrapassaram essa fase "medieval", rejeitando a violência e aceitando outras religiões. No entanto, os países islâmicos são ainda governados por ditadores, a quem interessa manter o povo na ignorância e na pobreza, o chão ideal para se semearem radicalismos e fundamentalismos.
Claro que não podemos esquecer que as mulheres islamitas, como os homens, vivem nesse ambiente, por isso, muitas das razões que levam os homens a atos terroristas serão as mesmas que as levam a elas. Mas também sabemos que mulheres grávidas, ou com filhos, costumam possuir outra escala de valores. Que mesmo essas sejam levadas a fazer rebentar bombas, arriscando a própria vida, terá origem (também) em razões de outra ordem.

Unknown disse...

Cristina,
não discordo de nada do que escreve. :)
Mas na minha óptica o peso "desse" Islão e dessa sociedade esmaga sobre tudo o resto. Até precisamente por aquilo que menciona, ou seja, o facto de viverem ainda na Idade Média.