Santa Maria Madalena – 2ª Parte
Hoje, está provado que a Legenda Áurea carece de fundamento, tratando-se de
uma compilação do folclore tradicional sobre os santos venerados na época em
que foi criada (século XIII). Não é, por isso, provável que Maria de Magdala
tivesse vivido numa gruta francesa, durante trinta anos, a redimir-se dos seus
pecados.
A teóloga Andrea
Taschel-Erber diz-nos que o facto de ter sido uma mulher a anunciadora da
ressurreição era algo de provocante, mesmo subversivo, na época medieval. Os
teólogos tentaram, então, arranjar a melhor maneira de controlar tal "despropósito"
e uma das suas estratégias consistiu em ligar a revelação do milagre da Páscoa
à redenção do pecado da mulher, personificado em Eva, aquela que trouxe o
pecado e a morte ao mundo. Seria, assim, uma espécie de justificação para o
facto de ter sido dado um papel tão importante a uma mulher. E Maria de Magdala
ficou irremediavelmente ligada à figura da mulher pecadora.
Em 1896, foi descoberto um
escrito copta, no Egito, datado do século II e que, atualmente, se encontra em
exibição no Museu Egípcio de Berlim. Hans-Gebhard Bethge, um teólogo da
Universidade Humboldt (Berlim), especialista em língua copta, intitula este
papiro de Evangelho de Santa Maria
Madalena. Para o documentário da ZDF, tirou-o do seu escaparate e traduziu-o
frente à câmara.
Das dezoito páginas
iniciais, só existem oito. Descreve-se uma cena em que os apóstolos estão
desanimados, depois da partida de Cristo ressuscitado, que se foi reunir ao Pai.
Surge-lhes Maria Madalena, que lhes diz (traduzo do alemão):
«Não choreis! Não estejais
tristes! Não duvideis! Porque a Sua misericórdia estará convosco,
proteger-vos-á! Elogiemos antes a Sua grandeza, pois ele preparou-nos,
tornou-nos pessoas» (é difícil
traduzir, aqui, a palavra Menschen).
Não entendendo bem as suas
palavras, os apóstolos suspeitaram que Maria Madalena fosse a portadora de um
segredo que Jesus lhe teria revelado, o que lhes provocou o ciúme. Pedro exige
que ela lhes confie o segredo e Maria fala da ascensão da alma, que tem de
passar provações, antes de se poder unir à luz celestial. Trata-se de uma
descrição muito mística, que toma uma direção agnóstica, rejeitada pela Igreja.
O escrito diz-nos ainda
que André não acreditou que Cristo teria dito tais palavras a Maria de Magdala.
Pedro também se mostra agastado: Jesus confiou tal segredo a uma mulher? Ele
preferia-a a eles? Deveriam converter-se à palavra dela? O ambiente torna-se
hostil para Maria Madalena, mas um outro discípulo, Levi, contemporiza e acabam
todos por fazerem as pazes e decidirem divulgar o Evangelho.
Ou seja: neste escrito
copta, que alguns teólogos classificam como Evangelho
de Maria Madalena, é ela quem anuncia aos apóstolos como hão de proceder,
depois da ascensão de Cristo.
No final, o documentário da ZDF deixa-nos, como conclusão:
Não
há qualquer indicação, nas Escrituras Sagradas, que Jesus tenha dito que apenas
homens deveriam liderar a Igreja. Hoje em dia, muitos teólogos, nomeadamente,
da Universidade de Harvard, consideram isso provado, tanto historica, como
teologicamente.
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