Este livro devia ser traduzido para
português. Fala-nos de um arquiteto alemão de trinta anos que herda de um tio, que ele mal
conhecia, uma Quinta no Douro. É sem grande interesse que ele se dirige ao
nosso país, pois nada sabe sobre Portugal, nem percebe de vinhos.
Mas (e como não podia deixar de
ser) a região do Douro sedu-lo. O problema é que se vê inserido numa série de
peripécias, correndo, inclusive, perigo de vida. E chega à conclusão de que o
tio foi assassinado.
A partir daqui, desenvolve-se uma
história interessante sobre um jovem alemão revolucionário (o tio) que veio
para Portugal, na altura da Revolução dos Cravos, à procura de aventura. Acaba
por fazer amizade com um revolucionário português, com o inevitável nome de
Otelo, e os dois vão, em pleno Verão Quente, trabalhar para uma cooperativa de
vinhos alentejana. O alemão encanta-se de tal maneira com a indústria vinícola,
que reclama a sua parte da herança, na Alemanha (e que ele havia recusado),
para comprar a Quinta no Douro. Mas há um problema: Otelo, que o acompanha ao Norte,
fez um inimigo na guerra colonial, um agente da PIDE que, décadas depois, lhes trará
dissabores, assim como ao sobrinho herdeiro.
Não sendo uma grande obra
literária, este livro compensa pelo enredo interessante e pelo charme de
apresentar os portugueses de fora, ou seja, através dos olhos de um alemão que, como disse,
nada sabe sobre o nosso país. Como exemplo, aqui vão duas passagens (traduzidas
por mim):
Nicolas
guiou bastante tempo atrás do camião. A estrada não oferecia visibilidade, o
que, aliás, não impressionava os outros condutores que ultrapassavam, num verdadeiro
desafio à morte, em curvas apertadas, para tornarem à sua faixa no último
momento antes do choque frontal. Os camiões que vinham em sentido contrário passavam
a milímetros do seu carro, num ronco infernal. Aquilo não era para os seus
nervos, ele nunca conseguiria viver num país de condutores doidos varridos.
Na próxima passagem, ele acaba de
conhecer uma alemã que vive em Portugal e por quem se sente atraído:
-
Por isso, tirei o curso de Românicas, espanhol e português. E, na minha
primeira estadia em Lisboa, apaixonei-me pelo Fernando Pessoa.
Nicolas
estremeceu. Era preciso ter azar! Sempre que se interessava por uma mulher,
surgia um homem pelo meio, já com a belga tinha sido a mesma coisa.
-
Não o conheces?
-
Não – respondeu Nicolas irritado. – Ainda não conheci muita gente, por aqui, só
a que está ligada à Quinta.
Rita
desatou às gargalhadas.
-
Não conheces Fernando Pessoa? Não o viste na biblioteca do teu tio?
Agora é que Nicolas não percebia nada. Que
brincadeira estúpida era aquela?Como o autor, Paul Grote, explica, no fim do livro, durante as suas pesquisas, deslocou-se a Portugal, entrando em contacto com muitos vinicultores da região do Douro, que lhe deram as informações de que precisava. A obra está, de facto, bem fundamentada. Admira-me que ainda nenhuma editora portuguesa se tenha interessado por ela.
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