Lembrava-se
de ter confessado à monja que viver sob a sombra da gémea a incomodava. E, na
verdade, vivera, desde sempre. A sombra da irmã protegia-a. Os outros
poupavam-na, enquanto ela aí se abrigasse, de contrário, abusavam dela,
humilhavam-na. Roubavam-lhe a sua luz, apagavam-na. Por algum motivo, não a
achavam digna de brilhar.
Mas
havia aquela luz que insistia em iluminá-la por dentro e lhe dizia que ela era
forte, criativa e carinhosa. Era esse o seu verdadeiro ser. «Há
uma energia dentro de ti que é difícil de apagar», dissera-lhe a velha do Serro
do Cão, «mereces pensar pela tua própria cabeça. E, seja qual for a tua
resolução, se Deus achar que fazes falta ao mundo, sobreviverás».
Sentia
que a sua luz interior lutava por sair, por irradiar. E a energia contida
angustiava-a. Na solidão da sua caminhada, tirou o manto da cabeça e,
segurando-o nos braços esticados, pôs-se a dar voltas, sentindo as gotículas na
cara. O caminho da sua vida ainda se encontrava na encruzilhada e ela não sabia
que direção seguir. Mas era livre! Como uma gota de chuva, a vaguear ao sabor
do vento…
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