Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

20 de julho de 2013

Pré-Publicação # 19



Lembrava-se de ter confessado à monja que viver sob a sombra da gémea a incomodava. E, na verdade, vivera, desde sempre. A sombra da irmã protegia-a. Os outros poupavam-na, enquanto ela aí se abrigasse, de contrário, abusavam dela, humilhavam-na. Roubavam-lhe a sua luz, apagavam-na. Por algum motivo, não a achavam digna de brilhar.
Mas havia aquela luz que insistia em iluminá-la por dentro e lhe dizia que ela era forte, criativa e carinhosa. Era esse o seu verdadeiro ser. «Há uma energia dentro de ti que é difícil de apagar», dissera-lhe a velha do Serro do Cão, «mereces pensar pela tua própria cabeça. E, seja qual for a tua resolução, se Deus achar que fazes falta ao mundo, sobreviverás».
Sentia que a sua luz interior lutava por sair, por irradiar. E a energia contida angustiava-a. Na solidão da sua caminhada, tirou o manto da cabeça e, segurando-o nos braços esticados, pôs-se a dar voltas, sentindo as gotículas na cara. O caminho da sua vida ainda se encontrava na encruzilhada e ela não sabia que direção seguir. Mas era livre! Como uma gota de chuva, a vaguear ao sabor do vento…


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