O
nosso cérebro faz, por vezes, associações curiosas. Eu sempre associei Calvin
& Hobbes ao livro O Meu Pé de Laranja Lima, do brasileiro José
Mauro de Vasconcelos. Ambos nos falam de crianças que criam um amigo
imaginário.
Entre
longas-metragens e adaptações televisivas, O Meu Pé de Laranja Lima vai já na quinta versão. Lembro-me de ver uma delas, na televisão, penso que
foi a primeira versão em cinema, que estreou em 1970, dois anos após o
lançamento do livro. Já não sei que idade tinha, mas sei que o filme me comoveu
até às lágrimas. E admirei a coragem do miúdo, o Zezé, ao atrever-se a
conversar com uma árvore, desabafando e diminuindo a sua solidão. Digo coragem
porque, na altura, constatei que nunca me havia atrevido a tal, apesar de ter a
sensação de que o necessitava. Acho mesmo que invejei o Zezé, que possuía uma
pequena árvore tão carinhosa, que o compreendia tão bem...
O receio
de que me descobrissem e ridicularizassem sobrepôs-se àquela necessidade. Nunca
me atrevi. Com o passar dos anos, o assunto foi esquecido. Mas quando, já com
mais de vinte anos, comecei a ler as tiras de Calvin & Hobbes na
imprensa, algo recalcado manifestou-se no meu interior. Fascinou-me que um
menino se atrevesse a considerar um tigre de peluche o seu melhor amigo, que o
ouvia, o compreendia, o aconselhava e, muitas vezes, o salvava dos seus
fantasmas. O pormenor que mais me emocionou (algo que ainda hoje idolatro) foi
o facto de o tigre confidente/protetor ser muito maior que o miúdo. Porém, nas
cenas em que a mãe ou o pai de Calvin falam com o filho, o tigre torna a ser de
peluche, quatro vezes mais pequeno, e ocupa um lugar discreto no quadradinho
(passa mesmo despercebido).
Ainda
hoje me atinge uma sensação de oportunidade perdida, por não ter criado o meu próprio
amigo, grande e forte, quando sentia falta dele.
Adoro o Calvin e o Hobbes! Tenho vários livros...São histórias inteligentes (repare-se no nome das personagens...), cheias de humor cínico, mas ao mesmo tempo ternurentas. É tão engraçado quando ele discute o sentido da vida com o tigre...Por acaso eu tinha amigos imaginários...Hoje já não tenho, mas estou sempre a criar versões imaginarias de mim própria. É um bom exercício para manter o cérebro activo :)
ResponderEliminarcumps
Eu nunca tive amigos imaginários. Criava personagens e vivia as vidas delas nas histórias que escrevia para os meus amigos (poucos) lerem. Acho que era a forma que tinha de me alhear de alguma realidade menos interessante.
ResponderEliminarSara, eu centrei-me na questão do amigo imaginário, mas é claro que as histórias são muito mais do que isso, justificando a sua fama.
ResponderEliminarHoje em dia, também posso dizer que crio versões imaginárias de mim própria :)
Maria João, também eu me refugiava nas histórias que criava, durante a infância e alguma parte da juventude. Mas, infelizmente, as histórias ficavam na minha cabeça, não as escrevia.
Devia ter começado a escrever mais cedo...
O meu irmão sempre foi fã do Calvin... suspeito que também tenha tido um amigo imaginário, tenho de lho perguntar.
ResponderEliminar