Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

19 de agosto de 2013

Debaixo de algum céu


É curioso que, numa altura em que os livros de contos quase desapareceram, o vencedor do Prémio LeYa seja, pelo segundo ano consecutivo, autor de um romance que parece composto por vários contos, ligados por um denominador comum. Em O teu rosto será o último, o denominador comum era uma família; em Debaixo de algum céu, é um prédio onde as personagens habitam.

Lera, noutras opiniões, que o início do romance causa alguma estranheza, devido à quantidade de personagens, mas que, depois de o leitor se habituar, vai gostando cada vez mais. Comigo aconteceu um pouco o contrário: achei interessante saber de várias vidas, logo nas primeiras páginas, mas confesso que me cansou a técnica de andar sempre a saltar de uns apartamentos para os outros. Bem, eu sou suspeita,  prefiro uma obra que se dedique, com profundidade, a uma, duas, ou, no máximo, três personagens (excluindo as secundárias). Mas parece que a diversidade de personagens está na moda, como se os escritores tivessem de provar que são capazes de lidar com uma data delas, ao mesmo tempo.

Não deixa de ser, contudo, interessante obter um retrato de um prédio e dos seus habitantes, vidas melancólicas e marcadas pela rotina, como tantas outras. Dão-se tragédias, mas, para alguns, há um final que se pode apelidar de feliz. Por outro lado, soube-me a pouco, há vidas que mereciam mais desenvolvimento.

O grande trunfo de Nuno Camarneiro é, sem dúvida, a linguagem poética. Mas senti falta de uma certa ironia, por um lado, e de mais secura, por outro. Certos "murros no estômago" parecem ser amortecidos por uma almofada de poesia. As figuras de estilo e as técnicas narrativas repetem-se, tornando a escrita um pouco previsível e monótona. Não sei se será esta a escrita mais aconselhável para um romance.

No seu conjunto, um romance bem à portuguesa: poético, triste e monótono... Como o «estrebuchar dos canos» do prédio em questão.


4 comentários:

Anónimo disse...

Gostei de tudo. Mais ainda do "estrebuchar dos canos".

Cristina Torrão disse...

Gostar, também gostei, mas não me entusiasmei.
Li no pino do Verão e talvez seja mais adequado para tardes chuvosas de Inverno, quando precisamos de exorcizar as nossas depressões e tristezas.

Anónimo disse...

Cristina,

eu referia-me ao seu comentário. Repito: gostei de tudo o que a Cristina escreveu.

Quanto ao romance, não me tendo enchido as medidas totalmente, acho-o melhor do que o Prémio Leya anterior.

Cristina Torrão disse...

Ainda bem que esclareceu, pensei mesmo que se estava a referir ao livro ;)

Põe uma questão interessante: melhor do que o Prémio Leya anterior? Houve momentos n'O Teu Rosto Será o Último que achei geniais, o que não aconteceu aqui. Mas, no conjunto final, talvez este seja melhor, sim.