Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

19 de setembro de 2013

Autoestima

Mais uma pergunta que a Alice Alfazema lançou para o ar e a minha resposta:

A que se deve a baixa auto-estima da sociedade portuguesa?

O pressuposto de agradar aos outros. Os portugueses têm muito essa tendência: quando fazem algo, é para agradar aos outros, não para benefício próprio. Confunde-se egoísmo com autoestima. Isso baixa a autoestima.


9 comentários:

NLivros disse...

100% de acordo.

Sem falar no lambebotismo, nisso devemos ser os maiores, o que também está interligado, a meu ver, com a baixa autoestima.

Cristina Torrão disse...

Exatamente.

Bartolomeu disse...

Nesta matéria, tenho uma opinião diferente. E não me parece que seja possível tecer um parecer, sem teorizar um pouco e sem retroceder no tempo até à epoca de Viriato, ás lutas e aos jogos de intriga pelo poder, entre as várias tribus da Lusitânia. Depois, com a vinda dos Romanos, verificamos que alguns chefes dessas tribus se renderam, tornando-se inimigos dos resistentes. Não foi por uma questão de baixa auto-estima que o fizeram, mas sim, penso eu, na mira de manterem assim o seu poder sobre o povo e ainda de, fruto das boas relações cínicas com os generais romanos, garantir protecção e ainda a possibilidade de reforço das suas autoridades. Quando se formou o reino de Portugal Independente de Castela, continuaram a verificar-se os mesmos "preceitos": a intriga e a traição, mesmo entre irmãos, como forma de vir a garantir o poder e a supermacia. E foi desta forma que Portugal foi prosseguindo na sua rota, cambaleando entre a mística, a traição e o facciosismo religioso; um fado que fomos construíndo, que até certo ponto nos caracteriza como povo; um povo que é capaz de nun dia maior ser heroi, guerreiro e no dia seguinte, vagabundo, ou negreiro, ou salteador. Somos um pouvo capaz de num dia possuir uma lucidez política surpreendente que lhe permite identificar todas as sevícias que os governantes teimam em lhe infligir e no dia seguinte, votar na reeleição do mesmos governantes, cínicamente esperando uma recompensa pela falsa fidelidade. Resumindo: eu acho que os portugueses fazem tudo para agradar aos outros, mas sempre com o fito de retirarem daí algum benefício, tanto que, não vemos muitos portugueses a tentar ajudar aqueles que sabem, à partida, nunca irão poder de alguma forma retribuir-lhes.

Cristina Torrão disse...

Não há dúvida de que somos um povo capaz das atitudes mais contraditórias. Balançamos entre o heroísmo e o "sacanismo". Mas acho que se tentássemos usar mais a cabeça, em vez de tentarmos atingir benefícios através dos outros, estaríamos bem melhor, apesar de reconhecer que este sistema capitalista é profundamente injusto.
Quer-me parecer que o português, no dia-a-dia, é muito subserviente, muito preocupado em fazer boa figura, sacrificando muito dos seus interesses próprios. Claro que não devemos começar a hostilizar tudo e todos, em nome de caprichos (isso, sim, é egoísmo). Mas devíamos procurar mais um meio de defendermos os nossos interesses, marcarmos uma posição, em vez de tentar agradar a todo o custo, a fim de retirarmos daí benefícios.
E ideias, precisamos de ideias! E pôr uma ideia em prática requer a sua dose de autoestima.

Bartolomeu disse...

Na verdade, eu não conheço outro povo, e olha que já estive em vários países com diferentes culturas, que use tanto a cabeça como nós. O caraças é que como não gostamos de nós próprios, passamos o tempo a querer ultrapassar-nos, tentando chegar à frente, a um lugar a que nem sequer desejamos chegar, só para lixar o outro que chega depois. Ou seja; acho que não passámos da fase do espermatozoide, que nada que nem um louco, para se atirar de cabeça a um útero que o vai transformar numa coisa que passa a vida a lamentar-se por ter nascido.

Bartolomeu disse...

Olha, vou dar-te um exemplo que ilustra este nosso temperamento de querer, sem saber porquê. No auge da euforia das remessas dos fundos da UE, começaram a chover anúncios que estimulavam o espectador ao crédito e ao consumo. Um desses anúncios mostrava um bairro de moradias com jardim e de uma delas saía uma família num carro topo de gama a rebocar um iate. Nessa altura, o plano muda para a família da casa ao lado que também estava a preparar-se para sair no seu carrinho modesto e ao verem os vizinhos, a mulher diz ao marido, amanhã temos de ir ao nosso banco.
Pois nessa altura, ninguém assistiu a um único anúncio que aconselhasse as pessoas a ter cuidado com a contratação de empréstimos bancários e a fazer bem contas, antes de decidir contrai-os. Hoje, temos uns palermas no governo a dizer descaradamente que esta crise se deve ao facto de os cidadãos andarem durante imenso tempo a viver acima das suas possibilidades. Vê lá se não é descaradamente andar metade do país a ir ao rabinho à outra metade e essa metade, a esperar a oportunidade de ir ao rabinho dos primeiros?!

Cristina Torrão disse...

Tu o dizes, Bartolomeu: "não gostamos de nós próprios" - falta de autoestima ;)

Acho horríveis esses anúncios a apelar à ganância e ao adquirir de coisas para as quais não temos capacidades monetárias. Toda a publicidade apela ao consumismo, mas, quando se serve de truques baixos, como a apologia da inveja e do exibicionismo, é ainda pior.

Bartolomeu disse...

Nós não gostamos de nós, por conseguinte, teríamos de fazer um esforço sobrehumano para conseguirmos gostar mínimamente dos outros, mas como partimos do princípio que não existem motivos para gostarmos de quem já sabemos não gostar de nós, ficamos num impasse... que não chega a ser própriamente um impasse mas sim, uma loucura colectiva.
Exemplo: levantas-te de manhã com uma monumental "telha" que não sabes, nem te preocupa descobrir a origem. Quando o teu marido olha para ti e nota que não estás bem, pergunta-te:- então o que é que se passa? -tu hoje não estás bem...
Tu reages imediatamente respondendo-lhe: - não se passa nada, não me chateies! Esta é uma situação frequente, comum a um porradão de gente que, provávelmente, na véspera se enlaçou, fez amor acompanhado de palavras românticas e de apreço.
Conclusão: não gostamos de nós, porque não sabemos do que gostamos e aquilo que estamos convencidos que gostamos, não se acha ao nosso alcance.
Razão tinha este filosofo-cantor quando dizia "sempre esta sensação que estou a perder".
http://www.youtube.com/watch?v=mADiz_vn0RQ

Cristina Torrão disse...

Bem, é verdade que todos temos os nossos maus momentos.

Foi pena o António Variações ter tido uma vida tão curta, acho que tinha ainda muito para oferecer ao mundo.