Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

5 de abril de 2014

Curiosidades sobre o livro (ou a democratização da sabedoria)



Toda a gente sabe que foi o Gutemberg quem inventou a imprensa. O que nem toda a gente sabe é que foram os romanos que inventaram o livro como hoje o conhecemos, ou seja, o livro organizado em páginas, que se podem desfolhar. Antes disso, só havia rolos de papiro ou pergaminho. Esses rolos podiam ter até dez metros de comprimento e, como se calcula, não eram nada práticos. Ler um livro sentado confortavelmente era coisa que mesopotâmicos, egípcios, ou mesmo gregos não conheciam.

Os romanos não só inventaram o livro, como foram os criadores da biblioteca pública. Antes deles, só os eruditos podiam consultar as bibliotecas. Esta decisão não foi muito pacífica, pois a Antiguidade não estava muito interessada na democratização da sabedoria. Havia a crença de que a cultura não era para qualquer um. Sim, estamos a falar dessa época clássica, que inclui a Grécia antiga, normalmente considerada tão culta. E era. Mas só para uma minoria (que não incluía mulheres; Aristóteles, Platão e Sócrates eram uns grandes machistas). Quando os romanos criaram as bibliotecas públicas, houve muita gente escandalizada, do género: onde iremos parar, se qualquer pessoa adquire acesso aos livros?

Hoje em dia, ainda há quem pense assim! (E não são tão poucos quanto isso). Não há dúvida de que existe gente mais culta e gente menos culta. Mas é preciso encarar quem gosta de obras, digamos, mais prosaicas com tanto desprezo? Afinal, já Tito, filho do imperador Vespasiano, o fundador da "biblioteca para todos", dizia: «Nenhum livro pode ser tão mau que, de uma maneira ou de outra, não cause prazer ao seu leitor».

Nota: post baseado num artigo da KirchenZeitung.


7 comentários:

  1. Se me permites, minha querida Amiga, vou fazer aqui uma pequena separação do trigo e do joio. Vamos lá ver: referes-te à democratização do livro, ou seja; do acesso à leitura, sem sujeição a restrições, mas, estas a olhar para a seleção do passado, com olhos de presente. O que pretendo dizer, para simplificar o assunto, é que; no tempo dos gregos, os livros que existiam, versavam exclusivamente matérias cujo acesso não podia estar "aberto" à generalidade das pessoas. E entendemos porquê, não é verdade?!

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  2. Troca-me isso por miúdos, Bartolomeu! Não sei se é da chuva, mas não estou a ver...

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  3. Talvez não esteja "a ver" o meu ponto de vista, porque empreguei mal a expressão «separar o trigo do joio».
    Aquilo que pretendi dizer, foi o seguinte: no tempo dos gregos, as obras que se encontravam nas bibliotecas eram exclusivamente de caráter científico. Eram tratados de medicina, de astronomia, de matemática, etc. Ora, o conhecimento que estas obras encerrava, não podia estar acessível a qualquer um, porque existiam classes sociais "inferiores" que se não lhes fosse vedado certo conhecimento, tornar-se-ia mais difícil o controle sobre eles.
    Algo mais ou menos semelhante ao que se passava em Portugal, até à relativamente pouco tempo, em que; para que fosse garantida a mão-de-obra barata e em quantidade, vedava-se o acesso ao ensino, sobretudo nos meios rurais.

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  4. Pois, assim já nos entendemos :)
    Mas o elitismo ainda existe e continuará a existir. Isto de "democratização da sabedoria" tem muito que se lhe diga...
    Às vezes, os que mais apregoam democratizações são os que mais se segregam em grupos elitistas.

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  5. O instinto bacoco de preservação do saber, com o fim de demonstrar superioridade intelectual, ainda afeta uma parte significativa dos nossos... sabedores.
    Ao contrário por exemplo de brasileiros, médicos, escritores, religiosos, etc. que utilizam a internet como via de troca de conhecimento, sem pudor nem medos.
    Em matéria de troca de conhecimento, saber e experiência, os portugueses ainda não passaram da idade das trevas. O pequeno passo que deram no sentido da evolução, foi deixar de queimar livros e gente...

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  6. Gostei especialmente da última frase ;)

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  7. Pois, mas Tito nunca leu os Filhos da Droga...

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