Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
19 de abril de 2014
História da Vida Privada em Portugal - A Idade Média (13)
Na cidade os processos eram diferentes. Os «cidadãos honrados» que detinham o poder económico e o governo local podiam - vários deles ao menos - ser grandes proprietários de terras, pelo que o abastecimento familiar estava garantido. Outros de entre eles - mercadores, por exemplo, sobretudo estrangeiros - embora não tendo bens fundiários próprios ou não os suficientes, possuíam a liquidez necessária para se abastecerem de uma só vez para todo o ano, comprando o cereal posto à venda na cidade ou, melhor ainda, procurando-o nos lugares adequados. Estes faziam as suas aquisições nos meses subsequentes à colheita, quando o grão se encontrava mais largamente disponível e a preços mais baixos. Estas famílias, porque as mais ricas, abasteciam-se de forma mais económica. Mas à medida que a situação financeira se ia degradando, os custos do abastecimento doméstico iam aumentando. Quer ele pudesse fazer-se semestral ou trimestralmente, quer os rendimentos familiares não permitissem aquisições mais volumosas do que as necessárias para cada semana ou menos ainda, de acordo com a periodicidade com que os respectivos proventos fossem recebidos, o custo do cereal para estas famílias ia-se sempre agravando, porque os preços iam sempre subindo, à medida que o ano se ia distanciando da época das ceifas. Mormente em períodos de escassez cerealífera - e tantos foram os que a Idade Média padeceu - esses preços podiam subir de forma dramática. E era sobre os citadinos de mais débeis recursos económicos que as oscilações sazonais e conjunturais recaíam com maior violência. Naturalmente, em vez do cereal podia adquirir-se o pão já confeccionado pelas padeiras, de que todos os dias eram postas à venda novas fornadas. Mas assim o produto final saía ainda mais encarecido.
A Alimentação, Iria Gonçalves (p. 233)
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