- Estávamos perdidos, quando a mourama nos
cortou o caminho, nos campos de Ourique, perto de Beja, uma cidade a cem léguas
daqui. O arraial dos infiéis era de três a quatro vezes maior do que o nosso,
comandado por cinco reis mouros, alguns vindos de além-mar. Ao lado das
bandeiras com as inscrições mouriscas verdes sobre fundo branco, espanejavam
outras de inscrições negras sobre fundo vermelho, pertencentes a diabos envoltos
em panos negros, vindos das terras do fim do mundo.
O povo benzia-se, aos rogos de «Deus nos
proteja e guarde». Soeiro Pais prosseguiu:
- Só um milagre nos poderia tirar daquela
armadilha. E deu-se
o milagre!
- Louvado seja o Senhor! – lançou o
pároco Sindila.
- D. Afonso recebeu inspiração divina,
naquela noite de desespero. Há quem diga que Jesus Cristo, em pessoa, lhe
surgiu, prometendo-lhe a vitória. Reuniu os seus validos e explicou como
derrotaríamos os infiéis. E a força que iluminava D. Afonso era tão poderosa,
que todos nós percebemos que só um rei seria digno de tais benesses. Ao raiar
da manhã, sobre o outeiro sobranceiro à planície onde se ia dar a batalha,
aclamámo-lo rei de Portugal, quando ele foi erguido, em cima do seu pavês!
Os regressados, que haviam assistido à
aclamação em Ourique, tornaram a ajoelhar-se, recordando a solenidade do
momento. A multidão seguiu-lhes o exemplo, algumas mulheres rezavam novamente,
de braços dirigidos aos céus.
A voz do barão ergueu-se por sobre a ladainha:
- E D. Afonso, protegido
pela própria mão de Deus, guiou-nos
à vitória! Desbaratámos as hostes de Mafoma, demos cabo dos chifrudos vindos
dos confins da Terra!
A batalha de Ourique, que segundo reza a Historia, foi travada no ano de 1139 entre as tropas de D. Afonso Henriques e as de 5 reis mouros, é um dos mitos da fundação da nossa nacionalidade e, simultaneamente um enigma. Um enigma na medida em que, àquela data, Tanto Santarém como Lisboa (conquistadas no ano de 1147) eram dois fortes bastiões mouros. Assim, vários historiadores contestam que a batalha tivesse ocorrido no Alentejo. Eu cá não sei onde ocorreu, o que sei, e espero que se confirme, é que irei estar na próxima 5ª na Pó dos Livros a acompanhar-te no lançamento deste romance, a escutar o que o José Cipriano irá dizer e a ter o prazer de te dar um abraço.
ResponderEliminarSim, é verdade. Até porque há um campo de Ourique perto de Leiria, o que faria mais sentido, pois, nessa altura, os portugueses não se atreviam a sul do Tejo (como defende Freitas do Amaral na sua biografia de Afonso Henriques). Por outro lado, o Prof. Mattoso, embora não ponha de parte a hipótese perto de Leria, diz que talvez fosse possível no Alentejo, se as tropas de Afonso Henriques regressassem de uma expedição de saque em terras mouras, que teria ido até perto de Sevilha. Enfim, tudo suposições...
ResponderEliminarTambém vou gostar de te ver, Bartolomeu ;)
E existe outro Campo de Ourique entre as Amoreiras e a Estrela...
ResponderEliminar(Não conseguias passar sem dizer uma parvoíce qualquer, Bartolomeuzinho...)