À medida que a noite caía, o arraial
tornava-se mais agreste e jocoso. Os homens e muitas das mulheres já haviam
bebido a sua conta, jograis e segréis começavam com as cantigas de escárnio e
maldizer, a que se juntavam as pantominices de bufões e histriões. Um dos
segréis gabava-se, ao som das cítaras, de obter os favores da mulher de um
nobre, sem este dar pela conta. O povo delirava com a linguagem rude,
gargalhando até à exaustão.
Seguiu-se outra cantiga, em que se contava
como uma dama da nobreza tentava seduzir um jogral, sem ser correspondida.
Apreciava-se este tipo de sátira, maior vergonha não podia suceder a uma fidalga:
dar-se aos amores de um homem de condição inferior, neste caso, com a agravante
de o jogral a desdenhar. Para aumentar a animação, uma das soldadeiras
encarnava o papel da dama, tentando, através de gestos e movimentos sensuais,
atrair um dos histriões. Perante a indiferença deste, não hesitava em agarrar-se
a ele, apalpando-lhe as partes pudendas.
Era o delírio total.
Passou-se a uma cantiga sobre um frade que se
fazia passar por impotente (escaralhado),
mas que ia emprenhando todas as donas que dele se acercavam, tendo três delas dado
à luz no mesmo dia.