«Um
dos problemas de Inverso, Reverso ou Anti-Bloom, era saber se algum dia poderia
igualar-se a Bloom» (p. 59).
O
nome Bloom é paradigmático, na literatura. Originalmente personagem de Ulisses, de James Joyce, surge-nos em Uma Viagem à Índia, de Gonçalo M.
Tavares. Sobre Moolb, o seu inverso, criado por Pedro A. Sande, paira ainda o
fantasma de Harold Bloom, cujo humanismo, segundo Terry Eagleton, um teórico da
literatura, «sofreu as pressões agónicas» das doutrinas de Marx, Freud e do pós-estruturalismo,
não sendo possível «uma reversão a uma fé humana optimista, serena», (citações
que me foram fornecidas pelo autor de Moolb).
Este
ponto de partida de Pedro A. Sande revela o carácter filosófico da sua obra,
onde a procura desemboca em desilusão. Através de uma viagem à Índia, um
território que já foi considerado quase mágico (para nós portugueses,
especialmente: o destino de Vasco da Gama; o mito camoniano), a antítese da
nossa civilização (onde os hippies
pensavam encontrar o sentido da vida), Moolb anda à procura do seu EU, sendo
esta palavra igualmente a sigla de European
Union, um paralelo interessante estabelecido por Pedro A. Sande. Como
europeus, o nosso eu está intimamente ligado à cultura deste continente, que se
diz unido, mas numa união que toma rumos cada vez mais obscuros. Moolb anda à
deriva, assim como a União Europeia. Pedro A. Sande aproveita para fazer uma
crítica mordaz ao sistema. E à sociedade: «se o homem culto desconhece o homem
inculto poderá dizer não ser ignorante?» (p. 58).
A
solução, porém, parece também não estar na antítese. Moolb não encontra
resposta, regressa desiludido. O exótico fascinou-o, mas, ao mesmo tempo, impressionou-o
a miséria e certas atrocidades de que foi testemunha. Resta à condição humana
continuar a procurar, vagueando eternamente, na esperança de encontrar aquilo
que deseja.
«Nesta
Índia que habitamos nem todos somos castos ou produtos de castas. Nesta Índia
que habitamos rumam naus e caravelas, por entre nevoeiros, à procura do que nos
faça especiais» (p. 47).